Capítulo 12 _ O tempo é o verdadeiro autor

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Estacionei o meu carro próximo do restaurante e não pude evitar sentir o friozinho na barriga de reencontrá-lo. Eu não imaginava que o veria tão cedo, na verdade, não imaginava que não conseguiria me afastar dele. Por que era tão difícil para mim? Nós mal nos conhecíamos, porém desde sua chegada na minha vida parecia que de alguma forma estranha éramos conhecidos de longa data. Respirei fundo, me certifiquei no retrovisor que meus olhos não estavam mais tão inchados quanto antes, peguei minha bolsa e segui para o restaurante.

Enquanto eu me aproximava notava o quão o lugar era sofisticado, enquanto eu estava vestida toda simplória com minha calça jeans escura e minha camiseta preta com alças de laços. Talvez não tivesse sido uma boa ideia marcar algo logo após o trabalho.

Não tive tempo de voltar para trás, pois assim que passei pela porta me deparei com Romeu sentado à mesa. Ele logo me olhou como se houvesse um imã que o atraísse, e abriu um amplo e luminoso sorriso que derrubou por terra todos os meus pequenos e idiotas receios.

Um anfitrião me guiou até a mesa, e para minha supresa Romeu me cumprimentou com um beijo na bochecha, me causando um reboliço interno. Tentei colocar minha mente no lugar, não conseguia compreender o porquê de um simples toque dele desencadeava em mim sensações adolescentes.

— Você está linda! — Ele claramente mentiu, pois em uma rápida olhada em volta notei mulheres deslumbrantes em seus vestidos noturnos. Encolhi meus ombros e o agradeci sem jeito. — Me acompanha em um bom vinho?

— O senhor por acaso foi liberado para consumir álcool? — Ironizei em um de repreensão e ele sorriu.

— Acho que não foi uma boa ideia convidar uma médica para sair. — Brincou descontraído e eu sorri me desarmando.

— Me desculpe, só não quero que abuse. Só porque recebeu alta não significa que não precisa se cuidar. — Alertei e ele continuou com seu belo sorriso sedutor.

— Não se preocupe, eu estou me cuidando exatamente como o médico orientou. Creio que apenas uma taça de vinho não irá me fazer parar novamente em sua mesa de cirurgia. — Piscou para mim me deixando levemente corada.

Após o garçom servir as duas taças com o vinho e deixar a garrafa sobre a mesa, eu tomei a minha praticamente de uma só vez. Ele me olhou curioso e pousou a taça dele novamente na mesa.

— Isso que é sede. Está com algum problema?

— Perdi outro paciente hoje. — Respondi olhando para os detalhes da toalha branca da mesa. — Me sinto péssima.

— Imagino que deve ser bastante complicado para você quando a cirurgia não corre bem. — Concluiu e eu assenti. — Mas isso não é sua culpa. A hora do seu paciente chegou, você não podia fazer nada.

— Eu sei...Porém é difícil aceitar. Era uma mulher jovem, linda. Mais uma vítima de feminicídio. — Contei revoltada e ele pareceu se indignar também.

— Um absurdo isso! Espero que ao menos o verme que fez isso com ela esteja preso.

— Sim e espero que continue por longos anos. — Afirmei e ele suspirou aliviado. — Mas eu não quero falar sobre isso, na verdade quero esquecer. Me distrair.

— Então você procurou a pessoa certa. Ninguém melhor para te distrair do que um cabeça de vento. — Brincou animado me fazendo sorrir novamente.

— Não se recordou mais de nada?

— Você seria a primeira a saber. — Garantiu me servindo mais vinho. — Entretanto estou bastante confiante, você mesma disse que voltar para casa seria bom. Um estímulo, certo?

— Exatamente! Vai acontecer aos poucos, por isso você terá que ter paciência e seguir sua vida com calma.

— Com calma... Bem que eu queria... — Falou suspirando em seguida bebericou do vinho.

— Algum problema?

— Todos. A data do meu casamento está se aproximando. Eu... Não sei o que fazer, por um lado tem tudo já pronto para a cerimônia, por outro... Eu não conheço minha própria noiva. — Reclamou e eu me senti extremamente desconfortável ao imaginar ele e Camile juntos. Tomei mais do vinho e me manti em silêncio. — O que você me aconselha?

— Eu? Bom... Como médica eu sugiro que vocês adiem a data até você recuperar a memória. Sei que será difícil para a noiva, pois suponho que ela tenha expectativas quanto ao casamento...

— As vezes penso em acabar com o noivado. — Ele declarou me interrompendo inesperadamente, me deixando perplexa.

— O quê? Mas por quê? Você não pode fazer isso... O fato de não se lembrar dela não inibe a possibilidade de serem felizes futuramente. — Falei com um aperto no peito. Era o certo a se fazer, porém não significava que o certo também não pudesse nos machucar.

— Acho muito difícil ser feliz com ela quando a minha mente não para de pensar em outra. — Contou me olhando intensamente. Perdi momentaneamente o dom de articular as palavras e tomei mais outro bom gole de vinho.

— Você pensa em outra? — Tomei coragem para perguntar e ele permaneceu me fitando sério.

— O tempo todo. O que eu faço em relação à isso? — Perguntou me deixando ainda mais tensa.

— Eu... Não sei... Talvez quando sua memória voltar... As coisas melhorem entre você e a Camile. — Sugeri atrapalhada e ele pareceu absorto nos próprios pensamentos. Sequer pareceu me ouvir.

— Eu não paro de pensar em você, Julieta. — Ele confessou me deixando completamente sem chão.

Um Clichê Para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora