Capítulo 9 _ Uma quase novela mexicana

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No final da semana, após passar por uma sessão de fisioterapia, apenas para garantir que os músculos não ficassem atrofiados após quase dois meses em cima de uma maca de hospital, Romeu me recebeu bastante contente.

— Vejo que está mais disposto! — Falei observando o sorriso dele.

— Eu descobri uma coisa tão boba esses dias. Acredita que tenho tatuagens sem o mínimo sentido pelo corpo? — Perguntou em tom de divertimento e eu sentei na cadeira ao lado da maca.

— Talvez não faça sentindo agora que você não se lembra o significado delas. — Expliquei e ele lançou um sorriso travesso.

— Acho que nunca fará sentido algum eu ter ter uma âncora no braço. — Falou levantando a manga da camisola azul de hospital, me mostrando seu ombro. — Por acaso eu achava que era o Popeye à procura da Olívia palito? — Brincou me fazendo rir.

— Ei! Você se lembrou desse desenho? — Parei de rir imediatamente, animada com a possibilidade, porém ele negou com a cabeça, sem desfazer o sorriso.

— Não, meu irmão que fez questão de zombar da minha tatuagem ao mostrar o desenho em seu celular. Aparentemente nós dois costumamos travar uma batalha de zoações fraterna. — Contou abaixando a manga da roupa e eu assenti.

— Então não se lembrou de nada ainda?

— Na verdade tem uma coisa que eu lembrei ontem. Da minha infância, um garoto magrelo de óculos zombava do fato do meu nome ser Romeu. Ele perguntava se eu já tinha encontrado minha Julieta. — Respondeu olhando nos meus olhos e eu senti um leve ardor no rosto.

— Já sabe quem é esse garoto? — Questionei tentando mudar o foco do assunto e ele olhou para a própria maca.

— Não, vou perguntar meus pais depois se a descrição dele bate com a aparência de algum amigo da infância.

— Achei que eles já soubessem sobre sua memória estar voltando.

— Eu queria que você fosse a primeira a saber. — Enfatizou me olhando novamente, me surpreendendo.

— Mas por quê? — Perguntei sem jeito e ele manteve o sorriso descontraído.

— Bom, primeiro porque foi você quem me salvou. Segundo porque você está envolvida na história, afinal é uma brincadeira quanto aos nossos nomes.

— E você sabe o que essa brincadeira significa? — Perguntei levantado e fingindo olhar o soro dele.

— Sim, eu pesquisei no celular do meu irmão. É uma história clássica e dramática de amor. Bem mais triste que legal, na verdade. — Respondeu ficando pensativo e eu ri.

— A morte eterniza as coisas.

— Deus me livre de ser eterno então. — Brincou me fazendo rir ainda mais. Ele tinha um jeito espontâneo de ser que me estimulava a observá-lo.

— E você fez mais alguma descoberta de tatuagens que não fazem sentido para você?

— Na verdade eu descobri sim, essa até faz sentido, porém meu irmão disse que é bastante clichê.

— Um bom clichê as vezes faz bem. — Ironizei e ele sorriu concordando.

— Não tem como te mostrar, mas tenho uma enorme fênix tatuada nas minhas costas. Meu irmão garantiu que o significado é o renascimento das cinzas. Não sei se devo confiar nele. — Assumiu receoso e eu sorri o observando.

— Ao que me consta é esse mesmo o significado da fênix. E acho que faz todo sentido você ter essa tatuagem. Principalmente agora. — Afirmei e ele abaixou um pouco a gola da roupa. Eu dei a volta na maca e observei apenas algumas partes que deram para ver. Era um belo desenho muito bem feito no meio das costas dele. — Parece ser linda!

Um Clichê Para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora