Capítulo 16 _ Sobre desamores

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— Preciso falar com você sobre a Camile. — Comecei a falar tentando ser o mais sutil possível, porém o olhar de Romeu me distraía facilmente do meu objetivo principal.

— Não quero falar dela agora. — Ele me cortou evasivo.

— Mas é importante...

— Por favor, depois. Não quero os fantasmas do meu passado agora, só quero o meu presente. Só quero você aqui comigo. Já estou me torturando o suficiente. — Explicou e eu o olhei intrigada.

— Se torturando por quê?

— Por isso! — Ele respondeu apontando para a mesa no centro da sala, onde vários envelopes lilases estavam amontoados desordenadamente. Observei com mais atenção ao notar o olhar desanimado dele, e então percebi as letras cursivas douradas com os nomes deles.

— Isso são...

— Os convites de casamento. — Ele concluiu suspirando frustrado. — Eu sei que não lembro do meu passado, mas sinceramente não me imagino querendo casar agora. Parece uma realidade muito distante da minha vida. Casamento é algo muito sério... Camile disse que eu a pedi em casamento há exatos seis meses. Dá para acreditar que de uma hora para outra uma decisão tão importante como essa para de fazer sentido completamente? — Perguntou com o olhar perdido e eu coloquei minha mão sobre a perna dele.

— O que eu tenho para te dizer pode mudar tudo isso. A Camile...

— Por favor, não fale sobre ela. Por que não falamos sobre nós? — Ele me interrompeu novamente.

— Romeu, ouça...

— Julieta, toda vez que ouço nossos nomes me divirto internamente. Qual a chance de uma Julieta conhecer um Romeu? — Perguntou com um sorriso sinuoso. — O destino foi mesmo irônico ao nos apresentar. — Comentou aproximando-se mais e mais. Logo seus lábios preencheram meu campo de visão.

— Espere, é importante... — Tentei mais uma vez, inutilmente.

Ele me abraçou e o seu perfume incrivelmente delicioso foi a senha para desbloquear os meus escudos mentais.

O beijo roubado que seguiu foi o melhor de todos os beijos do mundo. Nem eu tinha me dado conta do quanto gostava de estar nos braços dele.

— Romeu... — Tentei prosseguir com o assunto, porém de forma inexplicável ele voltou a fazer o assunto parecer totalmente irrelevante.

Novamente nos beijamos e de repente ouvimos um som próximo à porta.

— Meus pais chegaram! — Ele avisou me deixando sem chão.

Eles não podiam me ver ali. Qual explicação sensata eu poderia dar para estar nos braços do filho comprometido deles?

Como se tivesse entendido pelo meu olhar meu desejo de fugir, Romeu me puxou por um corredor e entramos na segunda porta à direita. Ele fez sinal para que eu fizesse silêncio.

Entramos no quarto dele e ficamos em silêncio. Éramos como crianças travessas tentando escapar do castigo.

— Como vou embora agora? — Sussurrei e ele sorriu fazendo sinal para eu ficar quieta.

— Agora não pode sair daqui nunca mais. — Brincou me abraçando apertado. — Considere-se sequestrada.

— Céus, isso tudo não passava de um plano mirabolante para me trazer para seu quarto? — Brinquei e ele riu concordando.

— Foi tudo minuciosamente arquitetado. — Respondeu e eu o beijei.

— Você não precisa mais casar com a Camile, se não quiser. — Avisei e ele se afastou um pouco, confuso.

— Do que está falando?

— Eu vi a Camile hoje no restaurante. Ela...

— Ela o quê? — Me apressou e ambos ficamos em silêncio quando os pais dele bateram na porta.

— Romeu? — Ouvimos o pai dele chamar e eu temi que ele entrasse no cômodo.

— Pai, estou descansando. Daqui a pouco encontro vocês na sala. — Romeu informou olhando nos meus olhos.

Após o pai dele concordar e ouvirmos os sons dos passos dele afastando da porta do quarto, Romeu voltou a questionar o que eu dizia.

— Eu descobri que Camile tem um caso com o Paulo. — Contei finalmente e ele arregalou os olhos.

— Não... Não pode ser. Até onde eu sei, ele é meu amigo de infância. Amigos não traem assim, não é? — Perguntou inconformado.

— Sinto muito! — Falei sincera e ele afastou andando de um lado para o outro.

— Tem certeza disso?

— Absoluta. Eu vi os dois se beijarem no restaurante do centro. Fui até a mesa dele e os confrontei. Ela confessou tudo... — Contei e ele sentou na cama.

— Estou tão decepcionado. Desde que voltei para casa, Paulo tem sido um verdadeiro irmão tentando me ajudar a recuperar a memória... E Camile... Ela disse que me amava. Maneira estranha de se amar, não acha?

— O que pretende fazer agora? — Perguntei me aproximando dele.

— O que meu coração já havia decidido há séculos. Terminar esse maldito noivado e a amizade com o Paulo. — Respondeu cabisbaixo. — Isso tudo teve seu lado bom. Pelo menos finalmente vou me livrar dessa história de casamento. — Contou e eu involuntariamente sorri.

— Romeu, eu achei ter escutado vozes e... — A mãe dele parou de falar ao abrir a porta e se deparar comigo no quarto do filho dela. — O que... O que está acontecendo aqui?

— Isso é exatamente o que a senhora está pensando, mãe. — Romeu falou me deixando alarmada. — Eu e Julieta estamos juntos.

— O quê? — Eu e os pais dele perguntamos ao mesmo tempo.

— Você está louco meu filho, e a Camile? E o... — O pai dele começou a exigir uma lista de explicações que gostaria de ouvir e eu me despedi de Romeu.

Era uma confusão generalizada de família. Dei espaço à eles e praticamente fugi para minha casa em seguida. Gostei de ouvir que estávamos juntos. Mesmo sabendo que ainda havia muitas coisas para serem organizadas em nossas vidas.

Um Clichê Para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora