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   Chego um pouco mais cedo. Coloco meu uniforme e me certifico se está realmente certo. Para minha sorte, sim. Faço um rabo de cavalo e deixo o banheiro dos funcionários. As outras chegam aos poucos. Vernon já está organizando tudo. Ele tem as chaves. Então, sempre abre e fecha o lugar.

   Vou na direção dele e ajudo com as cadeiras e mesas. Passo pano nelas e as deixo brilhando. Shizuki muda a plaquinha para deixar o Close virado pra dentro e o Open estampado no vidro limpo. Volto a atenção para o que estou fazendo e noto que já acabei. Viro e dou de cara com Vernon no pequeno corredor.

   Recuo um pouco mas a proximidade continua e me faz notar seus olhos claros. Fico vidrada neles. Que possuem um mel num tom quase verde. Minhas bochechas indicam que não precisam de blush. Já que a pergunta de como eu não tinha reparado naquele olhar que chega a ser tão deslumbrante quanto seu sorriso fez elas enrubescerem. Ele deveria ser multado por ser tão parecido com uma criação de Da Vinci.

   Sorrimos nitidamente sem graça um para o outro e voltamos para nosso trabalho. Todos conversamos um pouco, mas quando o primeiro cliente aparece, focamos em nossas áreas dando fim no assunto.

   O café começa a encher. O casal atravessa meus olhos. O garoto se senta de frente para a morena que tem uma quase careta na face. Ele tenta fazê-la rir. Manda corações engraçados no ar junto de beijos exagerados em sua direção. Leio os lábios dele. Diz para ela sorrir. Do fundo do coração. Com um sorriso tão largo que arriscaria rasgar o canto de sua boca. Termina falando que seu sorriso é lindo demais para ficar escondido. Ela luta por alguns segundos, mas a vejo perder e isso o faz ficar sério rapidamente. Passa então a observá-la de um jeito apaixonado.

   Me sinto nos bastidores de um filme romântico. Vou na mesa deles para anotar seus pedidos. Ignoro a mágica que ambos possuem. Faço um X na dor que permanecia no fundo do peito. O jeito que eles se olham é familiar. É como dizer ao outro sobre o que sente sem nem ter falado.

   Depois das inúmeras mesas que atendo, dos diversos pedidos que anoto e das varias bandejas que entrego, a tarde cai. Me despeço dos outros e agradeço pelos elogios sobre o bom feito no primeiro dia. Já sem a roupa bege e agora com meu macacão jeans e o moletom preto, vou para casa. O sol se esconde finalmente. A noite vem. E eu passo pelas vielas cortando caminho. Estou contente. Até no meu canto da mente.

   Aperto o número 5 no elevador. Rodopio as chaves junto do mini panda de pelúcia entre os meus dedos roliços. Percorro o apartamento com o olhar. Como se os minutos de alívio desaparecessem por completo. Me vejo bipolar. Nego as lágrimas, mas deixo meu coração chorar por mim. Meu jardim de vida resseca e faz cair todas as pétalas de rosa no chão sem nem ter tempo de um simples bem-me-quer, mal-me-quer. Deito no sofá lutando contra o cansaço, sabendo que terei que ir para a galeria depois de um banho quente. Mas fito o teto. Vivo de memória mesmo a freando. O céu de estrelas já está nublado. O culpado é aquele que plantou amor. E semeou em mim essa terrível saudade.

Sky. {Mingyu} EM MUDANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora