Sky. {Mingyu} EM MUDANÇA

5

MAYA

"Sorria. Fique bem. Você tem a mim. Sempre foi assim e continuará sendo."

As palavras tão doces se repetem como um loop infinito em minha mente. Os lábios estavam próximos, mas ainda possuíam um infinito que queria exterminar. Eles sussurravam para mim. O que só os tornava mais hipnotizantes. E sacolejava ainda mais meu pobre coração.

Os olhos cheios de lágrimas me preocupavam. Eu estava errada quando tentei definir sua beleza como extraordinária. Qualquer palavra já inventada parece inútil, incapaz de chegar aos seus pés. Ele é indescritível.

Me perdia aos poucos em cada segundo que se passava. Fios pretos grudavam feito cola na testa. Tive inveja das gotas de chuva que escorriam de seu cabelo. Principalmente das que percorriam a pele dourada e pairavam sobre os lábios mais bem desenhados por Deus.

Aquela imagem pedia para ser eternizada. Da mesma forma que seu olhar pedia por mim, como se me quisesse com ele. Agradeci aos céus no momento em que acordei às 2 da manhã, com tudo ainda fresco na memória.

"Estou ao seu lado em todos os momentos."

Recordei mais palavras suas que soaram tão sinceras e reais. Olho ao redor à procura de um sinal da presença de meu anjo da guarda. Estou louca. Me sento no chão frustrada.

Quero passar a viver em meus sonhos. Cogito a ideia de ter me apaixonado tão rapidamente por alguém que não existe na minha realidade, no meu mundo. Mesmo sem ter conhecido o amor, e que minha experiência no assunto não tenha passado dos filmes de romance incansáveis de assistir ou dos livros viciantes que sou capaz de terminar em apenas um dia.

Costumava me perguntar como seria. Cheguei a procurar dezenas de vezes algum sinal de uma chama que fosse se ascender em mim e que aos poucos viraria um incêndio. Com a possibilidade de ser doloroso ou viciante. Quem sabe, até mesmo os dois. Mas não houve nenhuma faísca. Nunca.

Então, por que posso sentir meu corpo e coração descontrolados todas as madrugadas em que acordo depois de outro sonho? Por que as palpitações costumam demorar a se normalizar? Por que sempre me perco tentando reviver o que acontece, ou apenas não esquecer? Por que meu sorriso quer tanto fazer morada que é capaz de deixar minhas bochechas dormentes? Mas mais importante, por que seu jeito de olhar parece me ensinar o segredo do amor?

Noto que o sono desiste de mim. E decido continuar no cômodo mais frequentado do dia. Já que minha inspiração resolveu voltar depois de muito tempo.

MINGYU

Os cabelos bagunçados junto das mãos sujas de tinta parecem uma miragem. Sentada no chão com quadros e papéis ao seu redor. Todos acabaram de ser preenchidos. A blusa branca comprida que usa não está mais contendo apenas uma cor. A lua se vai e deixa a clara estrela ardente aparecer.

Ela se debruça sobre a tela e fica chocada com o sol dando os primeiros sinais de sua deslumbrante chegada. E eu surpreso de como é possível Maya ficar mais linda assim. A luz do dia a contemplar seu corpo. Fios caindo sobre o rosto me dão a vontade de estender a mão para afastá-los dos olhos âmbar quando raios pairam sobre eles refletindo.

Abaixo e me aproximo sem conseguir conter o impulso. Ela está terminando as peônias de múltiplas cores. Azuis, vermelhas, brancas. Pinta o meu olhar. Fico a sua frente, esperando o milagre de conseguir o contato visual que tanto almejo para se repetir. Me olha. Me nota. Grito silenciosamente.

Para, largando o pincel, franzindo o cenho e olhando ao redor. Tenho esperanças. Nesse olhar perdido vindo de encontro ao meu. O alarme soa a assustando, e fazendo a mesma derrubar um dos varios potes de tinta que estão abertos. O líquido vermelho cobre a tela que estava quase pronta, e em seguida se espalha pelo chão.

Maya tenta salvar o quadro desesperadamente e em uma fração de segundos os olhos revoltados tornam-se assustados. Quase saltando para fora. Procuro o que a aflige e quando me dou conta, cambaleio para trás me afastando com a mente abarrotada. A tinta chegou onde eu estava alguns segundos atrás, mas o piso continua intacto. Deixando formatos vazios de pés no meio da poça.