Não sei que horas são. Nem sei para onde estou indo. Me pergunto quando irei acordar. Quando irei mudar e passar a me moldar para assim quem sabe, ser uma pessoa normal. O tipo de gente que segue uma rotina e não se enjoa dela. Que faz aquilo que não gosta e ainda assim continua. Por que eu não sou assim? Por que sinto vontade de desistir de tudo? Por que esse vazio continua presente?
O aperto no peito que já é familiar se instala trazendo a dor insuportável na garganta. Por fora finjo estar bem. Talvez esperando conseguir enganar a mim mesma. Para acreditar que sou forte e que nada me incomoda. Quando ao simplesmente olhar meu reflexo em um espelho sou capaz de enxergar o quanto estou sufocada.
Quero ficar só. Me sinto só. Estou só.
Eu menti para mim mesma, achei que a distância destruiria o que ainda resta da vontade de sua presença. Mas ela persiste. Talvez nunca vá embora completamente.
O som de relâmpagos e trovões soa longe. Ao decorrer do meu trajeto sem destino certo, sinto as gostas pesadas sobre minha pele. Uma ótima maneira de transbordar e ainda assim conseguir disfarçar com a chuva, mas tudo continua preso. Sem vontade alguma para se libertar.
Com meus passos lentos, diferentes dos das pessoas ao redor, observo as gotas rolando sobre o vidro da livraria. Paro um instante e percebo que conheço o lugar. Seguro as alças da mochila que contém alguns materiais de desenho. Sai na ideia de que conseguiria encontrar algo para me inspirar.
Sr. Satoru e Sra. Masami parecem estar no meio de uma discussão sobre quem está certo. Eu folheio alguns livros sem ser notada. Acabo decidindo comprar um depois de ler a contracapa. Só quando me aproximo do balcão, eles percebem minha presença no lugar.
- Oh!- Ela tem a mesma reação de quando me viu pela primeira vez.- Como é bom a ter de volta aqui, querida.
- Boa tarde.- Sr. Satoru sorri.
- Boa tarde.- Forço um semblante simpático na tentativa de parecer verdadeiro.
- Vejo que desta vez decidiu levar um de nossos livros.
- Nada como uma boa leitura.- Digo.
- E como anda sua inspiração?- Sra. Masami pergunta gentilmente e me sinto sem graça em dizer que está longe de mim.
- Bem... Vou ter minha primeira exposição na sexta-feira.- As palavras soam sem muita convicção mas pelo menos são formadas.
- Que notícia esplêndida!- Ela bate palmas e sorri me fazendo lembrar da Shizuki.
- Adoraríamos estar presente e conhecer o talento que sabemos que você possui.- Sr. Satoru comenta ao me entregar a sacola.
- Isso seria muito importante.
- Sabe nos dizer onde fica?
- Na verdade...- Procuro algo no bolso da mochila que não sejam os papéis de bala.- Tenho esse cartão de visita da galeria. Não sei porque, mas sempre trago comigo.
(***)
O clima de tempestade se acalma assim como meus pensamentos. Volto pelas ruas que andei até chegar naquele lugar sem ao menos desejar. O céu contém um tom cinza escuro e há cada segundo sua cor se intensifica. Eu tento me livrar do medo da noite. Por que é quando mais sinto saudades.
Espero o sinal fechar para assim atravessar. E aos poucos uma sensação que conheço aparece. Meu coração acelera como um carro de corrida e minhas mãos passam a soar. As pessoas em minha volta atravessam rapidamente e eu acompanho ainda que não consiga entender o que está acontecendo.
A maioria com seus guarda-chuvas mesmo que só esteja chuviscando. Menos ele. Todo de preto e com os cabelos molhados. Meu coração dá apenas uma batida quando forço meus olhos para enxergar melhor seu rosto. Com minha respiração ofegante paro sem reação. A visão é atrapalhada. E como se me empurrassem, me movo de pressa para tentar achá-lo. Abrindo caminho entre todos. Mas a sensação diminui e eu já não escuto meus batimentos latejando até os ouvidos. Sorrio fracassada.
Eu podia jurar que era ele, mas foi apenas minha imaginação se deixando levar.
(***)
- Me desculpe, Vernon... Não vou poder ir hoje... É só que não estou me sentindo muito bem...- A ligação é encerrada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sky. {Mingyu} EM MUDANÇA
FanficSe o céu não estivesse ali, Maya não estaria completa. A vida não teria sentido. Nem mesmo o amor existiria. A vaga lembrança de se deitar sobre a grama com sua mãe, depois de correrem alegremente pelo jardim, e observar o céu que a encantou mais qu...