MAYA
Houve um breve momento de terror, onde tudo em mim parecia se desconectar, principalmente meu cérebro. O formato vazio perto de mim começa a ser preenchido aos poucos pela tinta, como se bem na minha frente estivesse alguém que meus olhos humanos e inúteis não podem enxergar.
Controlo a vontade de dizer algo, porque não consigo tirar da minha garganta palavras impronunciáveis, que na verdade só me deixariam querer correr para o manicômio mais próximo.
Ergo as mãos sobre o rosto e coço os olhos na ideia de que estou sonhando ou tendo uma alucinação. Mas tudo continua perfeitamente igual. Levanto ainda sem tirar o foco da marca, tentando assimilar, e desligo o alarme do meu remédio de enxaqueca. Tomar o comprimido parece a coisa certa a se fazer, só não mais do que deixar o apartamento gritando por ajuda para afastar fantasmas.
O celular toca novamente. Me levanto mais uma vez e vou desajeitadamente em direção à minha mesa de materiais. A tela mostra o nome do homem que diz ser meu pai, mesmo que não haja como tal. Ignoraria a ligação, se não estivesse aflita em deixar claro que estou quase conseguindo outro emprego e que não precisaria mais de seu dinheiro abominável em pouco tempo.
Receber dinheiro dele é humilhante. O trabalho na galeria não é suficiente para me sustentar. Ele só faz isso porque prefere ajudar a pagar o aluguel de um apartamento no centro de Seul, do que ter a filha bastarda que escolheu estudar artes perto da sua verdadeira família rica e perfeita. O assombro ao invés de deixá-lo admirado.
Minha vergonha só não deve ser maior do que a dele de saber que temos o mesmo sangue e olhar.
- Maya?- Sua voz sai quase como um sussurro.
- Oi.- Forço o timbre para que ele consiga ouvir.
- Como está?
- Bem, e o senhor?- Pergunto por educação.
- Estou ótimo!- Não demonstro nenhuma empolgação com sua resposta.- Desculpa te ligar essa hora, espero não ter te acordado.
- Já estava desperta.- Digo olhando para a bagunça ao redor, as marcas sendo tomadas pela tinta quando nem mesmo consegui pregar os olhos direito.- Foi bom o senhor ter ligado. Ia entrar em contato o quanto antes. Preciso conversar sobre um assunto.
- Liguei com a mesma intenção.- Continua e abrevia o principal quando me calo esperando começar.- É sobre o dinheiro que te mando. Não vou poder ajudar com a mesma quantia. Temos tido muitas despesas ultimamente.
- Isso mesmo que iria falar... Não preciso mais da mesada.- Falo severamente depois de vir a memória as diversas fotos das viagens com a mulher e as filhas.- Arrumei um segundo emprego e recebo muito bem.
Sua felicidade fica visível com minha mentira absolutamente orgulhosa. Termino a ligação quase mais louca do que minutos atrás. Preciso de outro trabalho urgentemente. E esse pensamento é mais assustador que a suposta alma penada que decidiu dividir um apartamento comigo.
MINGYU
- Desapareça ou terá que dividir o aluguel.- Fala em um tom mais alto sem saber ao certo para onde olhar. Solto uma risada, mesmo ainda assustado no canto do lugar.
Eu estou pirando ou a Maya que está?
Sou carregado por ideias de que talvez seja tudo um engano. Mas percebo que não tem mais como negar. O toque. O contato visual. Os sonhos. As reações. E depois disso, a possibilidade de coisas muito erradas estarem acontecendo se torna uma certeza. Eu deveria aproveitar tudo ou simplesmente evitar até mesmo aproximação?
Mas de alguma forma, esqueço tudo que me preocupa. Ela volta à estaca zero e tudo por causa desse homem que não merece nenhuma lágrima. Vou em sua direção. O sorriso determinado aparece, mas os olhos tristes permanecem junto das olheiras.
O cabelo preso em um coque faz as pintas do pescoço ficarem a mostra. Deixando minha boca entreaberta e o ar saindo pesadamente. O banho que toma é mais demorado que os de costume já são. A calça jeans clara cobre suas pernas na hora que sai do banheiro e junto usa uma blusa branca. Indecisa na frente do espelho, solta os cabelos de novo e segundos depois os junta em um rabo de cavalo baixo.
Pega as chaves e sei que vai tentar solucionar as coisas, enquanto eu vou atrás dela com as dúvidas, que não parecem a incomodar tanto quanto as preocupações. Procura sua paz triste e melancólica pelo caminho, mas o cenário alegre ao redor aos poucos a cativa, deixando expelir cores contrastantes de seu semblante. A fito ordinariamente, sem olhar para o caminho. Na verdade, me intrometendo até mesmo no meio do seu, vez ou outra.
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Sky. {Mingyu} EM MUDANÇA
FanficSe o céu não estivesse ali, Maya não estaria completa. A vida não teria sentido. Nem mesmo o amor existiria. A vaga lembrança de se deitar sobre a grama com sua mãe, depois de correrem alegremente pelo jardim, e observar o céu que a encantou mais qu...