POV Chaeyoung
Era uma tarde de Quarta-Feira. Estávamos cheias de afazeres. Começamos então a limpar a casa, que era do tamanho do planeta terra. Maldita hora que Jeongyeon foi abrir a boca. Ela adora limpar as coisas, e acha que nós compartilhamos do mesmo gosto.
— Eu só queria dormir! Por que tenho de ficar limpando os quartos, ao invés de deitar-me confortavelmente na cama? – Falei enquanto passava o rodo desleixadamente pelo quarto, morrendo de sono.
— Porque a Jeongyeon teve a brilhante ideia de nos fazer de escrava – Diz Mina enquanto limpava um móvel qualquer.
— Estão reclamando do que? Foram seus pais que deixaram vocês aqui, então acho melhor focarem na limpeza – Diz Jihyo, que surgiu do nada, assustando a mim e a Mina.
— Para de ser maldosa. Você tem seus empregados que ganham justamente para isso.
— Ih... É mesmo, né? Vamos fazer a tarefa então – Já estava quase comemorando, até escutar ‘’fazer a tarefa’’. O que me tirou vários sons de reprovação.
— Fica quieta, motor de caminhão – Mina disse brava, o que me fez encolher em meu canto. Ela percebeu e sentou-se ao meu lado, e me abraçou – Desculpa, bebê. Eu estou um pouco nervosa esses dias...
— O que está acontecendo, Minari? Quer conversar sobre isso? – Pergunto claramente preocupada.
— Nem eu sei, deve ser TPM – Ela diz rindo.
Ainda do meu lado, ela vira seu rosto e se aproxima do meu, e me deu um beijo que começou calmo, mas que começou a ficar intenso. Suas mãos começaram a passear pelo meu corpo, o clima estava esquentando. O que era para ser bom, começou a me causar desconforto, um desconforto insuportável.
— Mina, para – Minha voz saiu um pouco abafada por Mina ter continuado a me beijar. Até que depois de ter me escutado, ela para e me olha confusa.
— Fiz algo de errado? – Perguntou.
— Não, Minari. Você não fez nada errado – Suspiro – Eu preciso contar algo para você e Jeongyeon, algo que vocês não sabem.
— Okay, vou chamar ela – Aceno positivamente com a cabeça, e ela se levanta e me olha dando um sorriso, logo após sai do quarto.
Me permiti soltar o ar que nem sabia que estava preso. Pensei que tinha me livrado daquele pesadelo, mas percebi que isso ainda me atormenta até hoje. Eu ainda vou me vingar daquele nojento.
— Chae, aconteceu alguma coisa? - Pergunta Jeongyeon, preocupada.
— Sim, mas aconteceu há dois anos. Vamos nos sentar? – Falo enquanto aponto os assentos que tinham ali, e então elas se sentam. Mina ficou em meu lado direito, e Jeongyeon no lado esquerdo – Jeongyeon, eu menti para você. Eu não precisei ir ao psicólogo necessariamente apenas pelo bullying que sofri, e sim por um outro motivo.
— Espera! Você foi ao psicólogo? – Perguntou Mina, claramente surpresa com a nova informação.
— Sim, eu fui – Suspirei – Vou contar o que nunca havia dito para ninguém antes... Eu fui estuprada, e pelo nojento do meu padrasto.
— Que nojento! Eu vou matar esse desgraçado – Jeongyeon tinha se levantado, e falava com todo desprezo do mundo, nunca havia a visto assim.
Mas eu havia me assustado mesmo foi com o olhar de Mina, estava sendo transmitido ira naqueles olhos que antes apresentava tranquilidade. Ela parecia estar pensando em algo, e eu estou com medo do que possa ser.
— Foram quantas vezes? – Mina apenas me perguntou isso, mas ainda estava com aquele olhar.
— Foi apenas uma, não sei como, mas sempre conseguia fugir das outras vezes que ele tentava. Fiquei nessa até contar para o meu pai e pedir para morar com ele.
— Então você já estava morando com seu pai antes dele ter decidido mudar? – Mina perguntou, e eu acenei que sim – Por que você não me contou?
— Deve ser porque eu estava passando por mais uma merda na escola – Respondi como se fosse óbvio.
— Ele não foi preso? – Jeongyeon pergunta. Ela ainda estava de pé, e andava de um lado para o outro.
— Não. Por mais que meu pai e eu tentássemos prendê-lo, o delegado insistia em dizer que não havia provas concretas sobre isso – Disse, e as duas meninas ficaram ainda mais revoltadas.
— Aposto que ele era amiguinho do seu padrasto – Disse Mina.
— E era mesmo, no dia seguinte vimos os dois conversando em um bar, como se estivessem rindo da minha cara.
— E a sua mãe? Ela não suspeitava disso? – Jeongyeon perguntou-me confusa.
— Minha mãe? – Ri sarcasticamente – Ela sabia de tudo, mas ela ao menos ligava. Vivia me chamando de machinho para lá e para cá, só porque não fazia o que a maioria das meninas fazem. Meu pai separou-se dela quando soube que ela estava traindo ele. Nem sei o porquê de eu ter escolhido morar com ela, que só sabia me desprezar. Ela só não era assim quando as meninas iam em casa. Poxa, eu vivia me sentindo um lixo, pensando que não servia para nada, e que ninguém gostava de mim, apenas me aturava. Comecei a me incomodar com o que eu via no espelho, tudo o que eu conseguia ver era uma derrotada, sem nenhuma possibilidade de ter um bom futuro, se é que teria um. Consegui fingir estar de boas por muito tempo, até que aquilo que o Suga fez foi o estopim de tudo. E foi por isso que meu pai antecipou a mudança, ficar aqui naquele tempo só me acabou comigo. Eu iria mudar de qualquer jeito. Droga! Por que estou chorando? – Falei e tentei secar minhas lágrimas, mas elas apenas aumentaram de quantidade. Mina e Jeongyeon logo vieram me abraçar, e eu me permiti chorar tudo o que estava preso. Elas me falaram coisas do tipo: ‘’Você é especial’’; ‘’Nós te amamos’’; ‘’Esse desgraçado vai ter o que merece, pode anotar isso’’.
Eu não sei o que faria sem meu pai e sem as meninas. Eles são o meu tudo, eu provavelmente não estaria aqui se eu não os amasse tanto. Eu ainda tenho a esperança de que em algum dia esse desgraçado terá o que merece, nem que eu tenha que sujar minhas mãos para isso. O sentimento de insegurança ainda existe, mas o de raiva é maior.
Eu só quero que esse assunto tenha o seu final de vez, pois assim finalmente poderei me sentir livre por completo. Espero que eu consiga encerrá-lo de vez.
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» Back To Me «
Fiksi PenggemarSon Chaeyoung e Myoui Mina são amigas desde pequenas. Contavam uma com a outra para tudo, demonstrando um forte laço de amizade que ganhava mais força com o passar dos anos. Em seus 14 anos, Chaeyoung se vê confusa ao reparar em como certos aconteci...