Por Trás do Seu Sorriso

Bônus - Alec

A ressaca estava tão forte que minha cabeça martelava. Brad teve que me tirar de um bar noite passada antes de ser reconhecido. As vezes minha vida era uma merda, não podia nem ficar bêbado sem virar notícia. E o pior de tudo, tinha que ir ao estúdio colocar minha voz em uma música para o filme. O balanço do carro estava me enjoando. Gemi e encostei minha cabeça no vidro.

- Idiota. - Brad resmungou do meu lado.

- Me deixa em paz, Brad.

- Olha o que um beijinho fez com você. Supera isso, porra!

- Vai se foder.

- Estamos chegando, coloca isso. - Me entregou os óculos escuros que ele não me deixou colocar quando saímos do hotel, dizendo que eu tinha que ver o sol. Só pra me torturar pois sabia que eu estava com uma puta dor de cabeça. Sádico do caralho.

Quando comecei os exercícios de voz, eu queria morrer, sério!

Não, na verdade, eu queria não ter bebido tanto na noite anterior.

Não, sem chance passar por isso sóbrio.

Laura tem povoado meus pensamentos há tanto tempo que nem me lembro mais como é não pensar nela o tempo todo. Ela é linda e doce e tão pequena, o cabelo preto comprido e nossos corpos se encaixam com perfeição. Eu pensei que nunca ia superar a noite que dormi com ela nos meus braços, mas então nós nos beijamos. E eu sei que não foram nossos personagens. Os suspiros que ela deu foram por minha causa, os olhos brilharam por mim e o nome que ela gemeu foi o meu. Na hora pedi pra ela não dizer nada, mas logo em seguida a ficha caiu. Foi o meu nome que saiu da boca dela, não o de James, não o do namorado dela. Foi o meu. E isso acabou comigo, eu percebi que poderia ter uma chance. E eu só fiquei parado, olhando, enquanto a levavam pra longe de mim. Eu sou muito burro. Burro pra caralho. Devia ter ido atrás dela e conversado sobre o que aconteceu, mas eu fui covarde e fui pra um bar e bebi até não conseguir andar sozinho. Ainda bem que tenho Brad, sempre agradeço a Deus por isso. Menos hoje, hoje ele está me torturando por causa de ontem. Quero terminar logo essa merda e voltar pro meu quarto, dormir o resto do dia. Talvez, eu vá falar com ela hoje a noite, depois que me recuperar dessa ressaca do caralho.

Meu Deus, essa música é uma piada com a minha cara. Na verdade, até o filme se eu pensar bem. Como pode, eu estar vivendo uma situação tão parecida? Só muda que aqui, quem tem um namorado é ela. E isso me mata de ciúmes, desde o ae...

- Alec, tudo pronto? - O maestro me perguntou me tirando dos meus pensamentos.

- Claro. - Coloquei meus fones e comecei a cantar.

Ficou ótimo de primeira, pedi pra ouvir. O maestro perguntou se eu queria repetir, mas que estava perfeito.

- Não, eu gostei.

- Ótimo, a Laura vai vim a tarde fazer a parte dela. Já vamos usar o playback com a sua voz e finalizar hoje mesmo - Me encolhi um pouco ao som do seu nome. É tão difícil estar longe dela e mais ainda estar perto.

- Pode me mandar a música pronta? - Só mais uma coisa pra me tortura, que maravilha.

- Claro, essa noite eu mando.

- Obrigada.

- Pronto pra ir? - Brad perguntou, olhando para o celular. Ele tem passado muito tempo assim. Ando tão consumido com a minha própria vida que mal temos tido chance de conversar. Sou egoísta pra caralho.

- Brad? - Chamei assim que entramos no carro para voltar ao hotel.

- Hum - ele resmungou sem me olhar.

- Com quem está falando?

- Mamãe. - Disse simplesmente.

- Ah. - Quanto tempo tem que não vejo meus pais? Um ano? Eu sei que eles nos amam, mas colocaram a carreira dele em primeiro lugar. Minha mãe era modelo e meu pai o vocalista de uma das bandas mais famosas do mundo, que estão em atividade desde os anos 80, nunca pararam. Meus pais se amam com loucura, ele era o típico roqueiro mulherengo e quando conheceu minha mãe se apaixonaram e então, ela abandonou tudo para se dedicar a ele. E tem sido assim desde então. Eles passam poucos meses em casa por ano. E agora com a minha carreira quase não os vejo. Não importa o que digam, eu nunca vou entender, aceitar ou superar que fui criado longe deles. Eu jamais farei isso com minha família.