Capítulo 29

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Pisquei várias e várias vezes, esperei tanto por esse dia e agora que ele estava aqui, eu simplesmente não sabia como agir.

- Alec! – Repeti, ele parecia estar tão perdido quanto eu.

- Posso entrar? – Ele falou baixo, incerto. Acenei e ele entrou. Minhas lembranças eram fracas em comparação com a realidade, Alec estava visivelmente mais magro também, o cabelo e a barba grandes, bem diferente do que eu estava vendo pelas redes sociais, mas mesmo com todas as mudanças ele ainda era a pessoa mais bonita que eu conhecia. Ele fechou a porta atrás dele e encostou nela, eu tropecei no encosto do sofá de novo quando tentei colocar uma distância maior entre nós dois, não sei bem o motivo, mas me senti sufocada.

- Você parece bem. – Disse depois que o silencio ficou muito esquisito, ele não respondeu. Mas me observada com a testa franzida, como se não acreditasse que eu estava aqui em carne e osso perto dele. Acredite em mim, eu também não acreditava que a gente estava tão perto depois de tantos meses.

- Você emagreceu. – Ele disse depois de suspirar algumas vezes.

- Você também. – Essa coisa era muito estranha, nós éramos dois estranhos. Senti meus olhos arderem, e então aconteceu o que eu esperei tanto...

Eu chorei!

Chorei da forma mais escandalosa e feia possível.

Desmoronei e caí sentada no chão e poucos segundos depois senti os braços de Alec em volta de mim, e eu chorei mais ainda. Chorei pelo que David fez comigo, chorei por Alec ter visto aquele vídeo nojento, chorei pelas coisas que ele me disse e chorei por todo o tempo que ficamos separados, o tempo que nunca mais iria voltar. Nada nunca mais seria como antes. Alec estava aqui de volta, mas o que quebrou não tinha mais concerto. E ter essa certeza me fez ter outra crise.

Depois do que pareceram horas, eu comecei a me acalmar, minha cabeça doía, meu corpo estava fraco, senti lábios na minha testa e percebi que estava enroscada no colo dele, não sei em que momento eu me agarrei a ele como se minha vida dependesse disso. Eu me afastei, ele me deixou ir com certa relutância, fiquei em pé e sem dizer nada fui até o banheiro e lavei o rosto, me olhei no espelho e infelizmente não tinha muito que eu pudesse fazer com a minha cara, felizmente meu cabelo estava decente. Voltei pra sala e Alec tinha levantado do chão sentado no sofá, estava com os cotovelos apoiados nas coxas e de cabeça baixa, os dedos cruzados atrás da nuca. Ele se endireitou quando me viu sentando no sofá de frente, puxei minhas pernas pra cima e encostei meu queixo nos joelhos. Parecia que eu estava em sonho, pisquei esperando acordar na minha cama vazia, com o peito vazio. Mas dessa vez, ele não sumiu. Alec continuava lá, me olhando.

- Gostei do cabelo. – Ele disse depois de um tempo.

- Mentiroso. – Falei com um sorriso irônico, ele sempre gostou do meu cabelo comprido.

- Não, verdade. Acho que te acharia linda até se estivesse careca.

- Como conseguiu meu endereço? – Resolvi ir direto ao assunto e também pra mudar o rumo da conversa. Ele coçou a barba.

- Sua mãe. – Disse simplesmente.

- Imaginei.

- Eu planejei esse encontro na minha cabeça, milhares de vezes e agora parece que eu esqueci até como pensar. Tinha um discurso decorado e agora não sei o que dizer. – Ele esfregou o rosto com as mãos. Ele estava tão esgotado quanto eu.

- Porque agora, Alec?

- Eu cheguei de Londres e vim direto pra cá, deveria ter esperado até de manhã...

- Não foi isso que eu perguntei, você sabe.

- Eu sei. - Disse simplesmente. Ficamos nos olhando por um tempo, sem dizer nada. Todas as emoções passando pelo rosto dele: tristeza, medo, paixão, saudade, amor... Sabia que era exatamente o que ele via em mim. Quando eu não suportei mais aquele jogo de olhares eu fechei meus olhos, as lágrimas ameaçando cair novamente, respirei fundo, tentando me controlar, eu estava à beira de um colapso, se Alec fosse embora, eu não iria me recuperar. Não depois de colocar meus olhos nele de novo. Depois de muito tempo ele continuou. - No primeiro mês em que você foi embora, eu não conseguia ficar sóbrio pra ir atrás de você. Eu queria, mas sempre que o dia amanhecia eu voltava a beber. - Ele parou como se precisasse ordenar as ideias - Isso é uma mentira, no fundo, eu não quis.

Por Trás do Seu SorrisoOnde histórias criam vida. Descubra agora