Capítulo 1 - Laura Lessa

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Eu estava tão feliz com esse personagem, meu primeiro grande papel. Quando entrei na New York Film Academy, meu interesse maior era conseguir atuar na TV e cinema, mas simplesmente me apaixonei pelo teatro e quando me formei recebi propostas para atuar em pequenos papeis na Broadway e isso foi grande, pouquíssimas pessoas conseguem chegar onde eu cheguei em tão pouco tempo com quase zero de experiência. Mesmo que atores de teatro não sejam conhecidos para o público em geral, tínhamos um grande reconhecimento no meio artístico, era bem mais do que eu sonhei. Depois de quatro anos, eu consegui meu grande papel, como alternante no musical baseado em A Megera Domada, então eu fazia as personagens Bianca e Catarina. Catarina, a protagonista, as quartas e quintas e Bianca, a coadjuvante, aos sábados e domingos. Claro que haviam dias que eu me preparava pra fazer um, mas na hora tinha que fazer o outro personagem. Isso era o teatro. A arte estava tatuada na minha alma, minha mãe também era uma atriz e cantora que atuou no teatro por muito tempo e agora, junto com o meu pai que era musico, tinham estúdio de arte, onde ministravam aulas de canto, dança e atuação e foi onde dei meus primeiros passos pra me tornar uma artista e eu não me lembro se em algum momento da minha vida eu quis fazer outra coisa.

Agora, estava aqui no aeroporto para pegar um vôo de quase seis horas para Vancouver onde iria filmar pelos próximos três meses o filme "Stars" e iria contracenar com ninguém mais ninguém menos que Alec Scott, além do pai ultra mega famoso, ele começou a atuar muito novo, mas aos vinte e um anos ele estrelou a franquia de maior sucesso de todos os tempos baseada em uma série de livros chamada "Imortais", sobre as desventuras de uma anja e um mortal que se apaixonaram contra todas as possibilidades normais e aceitáveis. Mas, quando a estória é bem escrita, bem interpretada e claro, quando tem um cara que passa noventa por cento das cenas sem camisa é a receita do sucesso.

Alec foi por muito tempo o queridinho de Hollywood e era um dos atores mais requisitados, mas ele tem escolhido projetos de baixo orçamento e fugindo do furor e do glamour de Hollywood, logicamente, todos os projetos em que ele esteve se tornaram sucesso mundial. Alec é a chave do sucesso.

E eu vou contracenar com ele.

Estava esperando o horário de embarcar ao lado do meu lindo namorado David, estamos juntos há apenas seis meses, mas somos amigos desde a época da faculdade, somos inseparáveis e agora estamos prestes a passar três meses longe.

- Você devia ter me deixado ir com você - Ele diz me abraçando. - Até se instalar, por um ou dois dias.

- Você sabe que não daria pra você abandonar a peça e eu vou ficar bem.

- Eu acreditaria se você não estivesse se contorcendo a cada dois minutos.

- É só o meu medo de voar.

- O seu terror de voar - ele me corrigiu sarcasticamente.

- Eu vou ficar bem - Tentei sorrir e David fez uma careta.

- Laura, amor, assim que entrar no avião tome o remédio e eu juro que você não vai nem perceber a decolagem. Tudo bem?

- Claro - eu puxei seu rosto e grudei meus lábios nos deles, respirando em sua boca, me acalmando um pouco - Eu vou sentir sua falta.

- Eu também, você não imagina o quanto.

- Claro que imagino. O sentimento é reciproco.

- Me faz um favor quando estiver longe?

- O que você precisa?

- Não se apaixone pelo Alec Scott. - Falou sério e eu soltei uma risada - Não ri de mim por favor - ele deu um gemido sofrido quando eu me esforçava pra segurar a risada.

- David, não seja ridículo, por favor. Eu amo você.

- Não seria a primeira vez que acontece. Atores que passam muito tempo juntos, se beijando em cena todos os dias e longe dos namorados, as pessoas ficam carentes - ele deu um olhar tão triste que partiu meu coração. Como se ele previsse um acidente e não soubesse como evitar.

- Então eu tenho que me preocupar com você contracenando com a Amanda cinco vezes por semana?

- Claro que não - ele pareceu genuinamente ofendido - Deixa esse assunto pra lá Laura, não sei por que eu disse isso.

- Mas eu preciso que você acredite em mim. Eu amo você, não tem como eu me apaixonar por outra pessoa. Você é quem eu quero. Você é um ator excepcional e sabe bem como é a nossa vida.

- É só que... - ele fez uma pausa e olhou além de mim, escolhendo as palavras.

- O que? - Incentivei passando os nós dos dedos em suas bochechas.

- Eu sei que você me ama, você foi minha melhor amiga por tanto tempo e agora estamos juntos e... eu não consigo acreditar que você me ame do jeito que eu te amo... não parece ser possível que você sinta algo parecido por mim. - Eu comecei a chorar com sua declaração, ele estava desolado, eu nem tinha ido ainda. Minha vontade era largar tudo e voltar pra casa com ele. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa coerente pra tentar tirar essa ideia ridícula de que eu possa me apaixonar por outra pessoa só por estar longe dele, meu voo foi chamado e eu fui carregada por uma onda de pânico que me fez chorar mais ainda. E meu pânico não tinha nada a ver com medo de avião. Era algo mais com nossa situação e em não querer ficar longe dele. David era seguro pra mim e me amava, eu não queria querer mais ninguém. E eu me agarrei a essa ideia com tanta convicção que tive forças de me despedir de David, reafirmando meu amor por ele.

Ele me levou até próximo ao portão de embarque com os olhos marejados, nos abraçamos mais uma vez e eu segui em frente, respirando fundo, andar de avião não era a minha coisa favorita no mundo. Olhei pra atrás antes e David estava me olhando com as mãos nos bolsos, ele deu um sorriso encorajador, mas não chegou nem perto de um sorriso real. Soprei um beijo pra ele e entreguei minha passagem e passaporte para a comissária.

Quando entrei no avião fui encaminhada para a primeira classe e fiquei surpresa ao saber que tinha ganhado um upgrade, a comissária simpática mostrou minha cabine, eu estava com o rosto vermelho de chorar e meio nojenta com o nariz escorrendo e tudo mais, ela me ajudou com a bagagem de mão e me deu uma piscadinha fazendo um sinal que eu não entendi a princípio. Mas quando ela saiu eu vi o que ela tanto tentava me mostrar, Alec Scott sentado na cabine ao lado da minha. Ele me olhou com olhos infelizes e a boca apertada, demonstrando seu grande desagrado em me ter tão perto, apertou alguns botões fechando a divisória na minha cara.

Que ótimo, eu ia trabalhar com ele pelos próximos três meses e ele nem me reconheceu.

Bem, ok!

Ele vai ter uma bela surpresa quando nos encontrarmos na segunda feira.

Por Trás do Seu SorrisoOnde histórias criam vida. Descubra agora