Doze

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— Você precisa contar os detalhes, mocinha! — mal abro a porta, e lá vem o falatório descontrolado de Hope para cima de mim.

Muito embora tenhamos feito um vídeo chamada de quase três horas na madrugada, inclusive com Jess, parece que a madame Griffin não se satisfaz com ‘meios detalhes’ – como ela mesma diz.

Cá estou com meu cabelo às alturas e meu pijama nada fofo estampado com vários memes do clã Kardashian (não, não lembro de onde tirei isso) no entanto, sei que não estou disposta a ter um diálogo de melhores amigas antes das dez horas.

— Estou esperando — ela se senta na poltrona enquanto bate os pés no chão alegremente.

— Acho que vou dar uma saidinha para comprar alguma coisa para o café... — alego enquanto fuço o armário da cozinha sem olhar diretamente para a mesma.

— Não arranje desculpas, Emma Phillips. Saiu com o cara e acha que irá me poupar de saber o que aconteceu?

Reviro os olhos.

— O que diabos você quer saber? Saímos e pronto. Não houve absolutamente nada entre nós.

Hope me observa desconfiada.

— Olha, ele não é o Justin Bieber, tá legal? — revido o olhar de desprezo.

— Foi mal. Só fiquei curiosa — ela sorri sem mostrar os dentes — agora... você está parecendo uma adolescente chapada em plena manhã. Vá se arrumar e isso fica para depois.

— Jura?

— Não, não juro. Você me contará daqui a pouco quando estivermos tomando café naquele lugar brega que você gosta.

Abro um sorriso de canto a canto, feliz por saber que comerei panquecas com muito caramelo acompanhados de um expresso.

Em menos de dez minutos, apareço com meu suéter azul marinho e minha calça preta meio rasgada nos joelhos. Minha preguiça matinal não me deixou abusar da maquiagem, por isso só passei um batom mais escuro do que estou apta a usar.

Entre uma rua e outra, Hope e eu chegamos ao nosso destino. Não demoramos a fazer nossos pedidos, dessa forma, nos sentamos perto da lareira desligada, aos fundos.

— Eu não tomo chá desde o dia que a vovó deixou de ser visita lá em casa — ela diz se deliciando com a bebida e bolinhos com recheio de baunilha e amora.

Dou risada.

— Sério. Perdemos uma grande cozinheira.

— Eu acredito. Principalmente para alguém que é um total desastre com panelas.

— Você também não é lá essas coisas.

— Eu não confundi o sal com o açúc...

— Eu estava mal naquele dia!

— É claro que estava.

Nós duas não nos contemos de nos lembrar da noite em que decidimos pôr em prática nossos dotes culinários. Uma catástrofe total. Porém, divertido.

— Não quer mesmo me contar sobre seu encontro com Campbell? — Griffin ergue a sobrancelha esquerda e morde o lábio inferior.

Suspiro e chacoalho a cabeça, me rendendo.

Não há muito o que contar. Sei que ela espera ouvir muito mais do que está escutando no momento, mas nem tudo é como queremos. E na verdade, ainda estou pensando sobre ontem. Esquisito dizer mas, sobre ele e eu. Tive uma noite normal ao lado de Brandon. Fora muito mais do que imaginei, para ser franca. Eu finalmente pude sentir a serenidade entre nós. Estaria mentindo se dissesse que não sinto nada. Convenhamos, a esta altura, não sentir nada é quase quimérico.

Pois eu sinto.

Muito mais do que devia sentir.

O mencionar de seu nome já me estremece, a sensação parece me entorpecer. Se isso não é atração, eu não sei o que é. Talvez eu saiba, mas não queira falar. Porque no fundo, continuo consciente de que acabou e daqui por diante, nem nos olharemos mais.

Depois de ouvir algumas partes do que disse, Hope respira fundo e me fita com uma expressão de esfinge, sem nem mesmo se mover.

— Pelos céus, diga algo.

— Se eu disser você me bate.

— Diga e corra então.

Ela abre um sorriso festivo, afirmando baixo e com cautela:

Você curte ele.

— É, eu curto — repito com ar de sarcasmo.

— Mas no sentido de gostar.

Quase me engasgo com o café.

— Dá pra perceber nas suas palavras.

— Como é? — a encaro furiosa e perdida — Não é porque saí com Brandon Campbell que estou caindo de amores por ele.

— Eu não disse “caindo de amores”. Mas isso se encaixa também.

— Você está confundindo as coisas, Hope.

— Talvez. Mas por que você está nervosa?

— Eu não estou nervosa — franzo o cenho e mexo minhas mãos dum jeito desgovernado.

Ficamos em silêncio e ela ri. Ri alto como se houvesse muita graça.

— Relaxa, Phillips. Não há mal algum em se entregar. A vida é curta. Vai por mim, muitas garotas iam amar estar em seu lugar.

Reflito sobre sua frase tentando entender em que ponto ela está tentando chegar com esse discurso palerma.

— E se a vida estiver tentando lhe passar alguma mensagem com isso?

— De qual lado você está garota? — reviro os olhos mais uma vez, cansada.

Ela ignora meu surto. Eu tento também.

Entretanto, e se?

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora