Vinte e sete

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Forço meus olhos a se abrirem contra a luz que se penetra em cada canto de um quarto monótono.

Elegante, porém, monótono.

O cheiro de algo insuportavelmente bom acaba sendo razão do meu despertar – não do meu levantar. Rapidamente reviro os lençóis brancos sobre mim, assegurando de que estava com as mesmas roupas de ontem a noite.

Tola!

Como pude ser tão imbecil a ponto de beber daquele jeito?

Não, depois eu me preocupo com isso.

Preciso retornar a minha casa.

- Bom dia, princesa.

Meu coração salta a ponto de quase cair no chão da qual coloco os pés, gelados que só. Minha alma vai até os céus e volta, logo, irá até o inferno. O retraimento mistura-se com o dissabor que percorre quilômetros dentre minhas correntes sanguíneas, devo estar com o rosto corado e perto de revirar os olhos.

Filho de uma puta.

- Me leve para casa. - levanto rapidamente tentando prender os fios do meu cabelo em um coque brusco.

- Mocinha - ele para no batente da porta, interrompendo minha passagem.

- Já estou constrangida o suficiente, não acha? - isso é uma súplica, para que ele me deixe ir. Eu não quero continuar implorando para que ele conceda minha ida, nem quero me sujeitar a ter de encará-lo depois da noite passada.

- Relaxa, Phillips - Brandon começa a discursar, tentando me tranquilizar de alguma forma, mesmo sendo inútil quando tudo que vejo é sua boca movendo-se sem som.

Minhas pálpebras pesam; meu corpo inteiro pesa mais que o habitual.

- Emma - ele estala os dedos para me tirar do estado hipnótico. - Venha.

O sigo até a cozinha, onde me sento diante a ilha de mármore denim, analisando novamente cada detalhe de cada canto. É anômalo pensar que dormi aqui, e não me orgulho disso.

- Red bottle?

- Sua cafeteria predileta, estou enganado?

Não, você não está.

Brandon comprou dois cafés do lugar que mais aprecio nessa cidade, isso é ótimo.

- Café é igual em todo lugar - dou de ombros. 

- Como você é sarcástica, querida.

Trocamos careta enquanto ele coloca panquecas no meu prato.

- Uau. Você passou de péssimo, para ruim.

- De você, eu já esperava elogios camuflados assim.

- Não foi um elogio, Campbell.

- Você precisa comer agora, depois conversamos.

Quando eu terminar de apreciar seus dotes culinários, o que será de nossa conversa?

Ao olhar para Brandon, penso o quão oscilante pode ser seu humor. E o quão ruim isso pode ser, a ponto de nos afetar. A forma em como ele age é covardia, é covardia me deixar imaginar coisas entre nós das quais ele não está disposto a passar.

Das quais eu não estou.

Se ele quer me afundar, saiba ele que afundará comigo.

Ouço um barulho de notificação vindo do meu celular, logo que o apanho vejo duas ligações perdidas de Hope e mais outras mensagens da mesma.

Respondo-a de imediato deixando ela a par de como me encontro.

- Não vai comer mais nada? - Brandon olha para as garfadas mínimas que dei nas panquecas.

- Não estou com fome.

- Tudo bem, princesa.

- Não tenho o que fazer aqui. Vou só pegar meus calçados e ir embora.

Ele não diz nada, apenas observa meus movimentos como quem estivesse trazendo negatividade àquela manhã que ele gostaria de proporcionar sem farpas nem nada.

- Ah, obrigada.

É singular, mas é de verdade.

Com os saltos nas mãos, – até porque não irei andar com eles a essa hora –, vou até a porta de entrada. Eu sinto como Brandon está. Sinto essa culpa que não está apenas dentro dele, mas dentro de mim.

Sabe como é isso?

Tentar desgostar daquilo que você parece não imaginar ficar sem?

É doloroso.

- Emma.

Escuto ele chamar meu nome, sem encarar seu rosto, ainda assim paro.

- Você sabe que não precisa ir.

- Preciso, Campbell.

- Não me chama assim, porra.

Quando ele não quer me olhar nos olhos, quando Brandon passa as mãos pelo cabelo, é o ápice de sua irritação. Eu despertei sua raiva e sou capaz de perceber isso.

- Você sabe e você faz o contrário. É pra me provocar? - ele questiona com acidez.

- Não preciso te provocar. Você mesmo se sente ofendido com tudo que faço, Brandon.

- Por que não facilita as coisas?

- Por que você é assim?

Por que sinto meu coração acelerar e o suor passear gelidamente pela pele?

- Me desculpa.

Ele se joga no sofá. Tira um cigarro da mesa e o leva até os lábios. Eu odeio vê-lo assim; há dois segundos ele tentava apaziguar a situação e agora está completamente revoltado.

- Eu não sou o que você gostaria que eu fosse, não sou nem mesmo o que eu gostaria de ser, Emma. Eu sou péssimo nisso. E eu odeio te fazer ficar assim. 

Minha garganta se fecha por milésimos de segundos.

Me jogo ao seu lado no sofá e nós dois passamos a contemplar a parede em branco juntos, em silêncio. E o silêncio é gritante, neste momento ele corta cada tecido de meu corpo sem piedade tirando cada gotícula de sangue com regalo.

Nunca gostei de vê-lo quieto.

- Eu te odeio com todas as minhas forças.

Nossa respiração pesada está em sincronia. Posso sentir nossas vontades de desabar ali mesmo, embora segurássemos firme.

- Mas eu odeio mais ainda ficar longe de você.

Nossos olhos então se fixam como se a guerra ali travasse, e tudo então era nós novamente.

- Somos jovens, Brandon. Não merecemos sofrer, merecemos aprender a amar.

Ele traga por uma última vez o cigarro antes de tirá-lo da boca, assim feito, me abraça como se naquele aperto houvesse a cura para a auto sabotagem.

- Eu não posso te perder, princesa. Não posso.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora