Contra as leis do amor

Vinte e cinco

- Acho que nunca parei para contar de fato como eu e sua mãe começamos a sair - o senhor Ethan irá começar um longo discurso, eu acompanho sua voz embargada de saudade, e, claramente, incerto da forma em como eu poderei reagir a isso. - Ela não era do grupo dos populares, mas quase todos os garotos queriam ela. No entanto, na época, Grace tinha um namoradinho gótico que não vale a pena tentar lembrar seu nome agora. 

Grace.

Apaixonante.

- Enfim. Não tínhamos chance alguma porque ela menosprezava qualquer um que não fosse aquele carinha de preto que fumava maconha atrás da arquibancada. Sério, era um desperdício. Mas eu sentia, Brandon - ele estampa um sorriso seguido de um suspiro - eu simplesmente sentia que era ela, a garota na qual eu levaria até o altar nem que me custasse a reputação que levara anos a ser construída. 

- E então?

- Eu sabia que ela fazia teatro. A propósito, Grace era a melhor atriz que o colégio já tivera. Foi então que coloquei as aulas na minha grade, apenas para dividirmos o mesmo ambiente. Se alguém do time de futebol descobrisse que estava fazendo aquilo, eu com certeza viraria chacota pelo resto da vida. - Ele dá uma pausa silenciosa, ainda degustando as lembranças do ensino médio. - Eu era péssimo em decorar textos e toda aquela baboseira, mas era ótimo em improvisar. Foi quando o diretor nos colocou para contracenar juntos, e ali, Brandon, minha vida balançou de um jeito que não conseguiria explicar se não fosse através da palavra amor. 

Não, não me venha falar de amor, paizinho. 

Amor é impactante demais para encaixá-lo em nossas situações. 

- Começou quando eu achava seu estilo maneiro, a forma em como ela controlava sua vida de forma independente que me atraía, até mesmo como ela meditava antes de uma apresentação era incrível para mim. E isso tudo era normal. Até o dia em que não me via sem ela. Eu simplesmente amei sua mãe. Desde sua primeira palavra trocada comigo até as discussões que ela ganhava mesmo errada. Se estar assim é loucura, então vida longa aos loucos. 

- Uau - engulo em seco admirando vários pássaros pousarem na ponte. - Devo suspirar depois disso? 

- Não - ele me analisa receoso - Sei que quando bateu aquela porta nunca deu chance para saber o que de fato havia acontecido entre nós dois. E não adianta tentarmos fugir disso. 

- Não fode, não estou a fim de escutar...

- Grace estava mentalmente instável, Brandon. - Ele se manifesta contra minha vontade.

Fico em um silêncio torturante antes de mirá-lo com a maior confusão que já se estendeu sobre minhas veias. 

- O que está dizendo?

- Sua mãe já não se encontrava bem. Por vezes a vi ingerindo dos mais diversos remédios e isso tudo foi como um soco no estômago dentro do nosso casamento. Procuramos ajuda, ela estava tendo muitas crises e tamb...

- Espera - passo as mãos dentre os fios de cabelo e os deixo mais desgrenhados que antes - só está me contando essa merda agora por quê?

- Grace era teimosa, você sabe. Se não fosse pela minha descoberta ela jamais teria abrido a boca para dizer o que estava acontecendo. Preferiu omitir que estava quase ficando louca com tudo aquilo a fazer o filho dela se preocupar com mais aquele "peso". Eu fui um covarde por não ter dito durante esse tempo, mas convenhamos, você não deixou. E lamentavelmente também não pude fazer muita coisa já que... enfim. 

- Nós a perdemos, pai. Não é difícil falar que a porra do acidente a matou naquela noite. Ela não estava sã, estava? 

Ele acena que não. 

- Me deixou acreditar que éramos responsáveis por aquilo? 

Respira, Campbell. 

Não pode agredir seu pai. Nem gritar, nem nada. 

Já se passou anos e isso não é mais intenso. Já estava conformado. Aliás, já estou plenamente conformado que pessoas vêm e vão, é a lei da vida, e nós, como mero cidadães, devemos seguí-los. 

- Tudo bem. - Tento sorrir e desfocar disso, acendendo um cigarro.

Meu pai e eu vamos juntos caminhando de volta para dentro da casa.

Talvez com alma mais leve e o coração mais límpido para recomeçar. 

Tudo e tudo de novo.