Dezoito

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| Brandon, point of view |

— Matt — cumprimento com um sorriso largo no rosto ao ver meu amigo parado na porta carregando uma sacola de supermercado.

— Mas que merda é essa, Campbell? — Cohen invade meu espaço, analisando com minudência o caos que tudo se encontra.

Fazem dois dias que não vou a faculdade.

Dois.

Meu apartamento está revirado; garrafas de bebidas fora do lugar, guimbas de cigarros, embalagens, tudo. Não há luz aqui, uma vez que fechei todas as cortinas. De maneira resumida, estou como aqueles caras largados que não possuem um emprego, nem a quem recorrer, e ainda por cima gastam os últimos centavos com bebida e cigarro.

Matthew me olha perplexo enquanto despeja dois lanches em cima do balcão.

— Sei que não iria cozinhar, então aqui está — ele sacode o enfardamento dos mesmos.

— Valeu.

— É o capitão do time, sabe que não pode faltar, não sabe?

Balanço a cabeça positivamente.

— Sei que você não é o cara mais organizado do mundo, mas olha esse lugar — ele varre seus olhos novamente por todo canto e novamente busca encarar meu rosto tentando encontrar uma justificativa — o que está havendo?

O sabor da mostarda com aquela pitada de legumes picados se torna tão agre,  que até eu engolir, é uma eternidade para processar as coisas.

Até onde pode ir meu drama?

— Quando foi que meus problemas mudaram? — indago, deixando a resposta por sua conta.

— Ethan?

Assinto com temor.

— Falou com ele?

— Ele me ligou. Tentou contato diversas vezes até que atendi.

— E então?

— Acha mesmo que quero falar com meu pai depois de anos? Porra. Não!

Me levanto subitamente passando as mãos no rosto numa ação instantânea de tentar maneirar.

— Sabe que não vai fugir pra sempre né?

— Ninguém está fugindo.

— Brandon... — Matt sabe do que houve, sabe como a relação entre meu pai e eu funciona e por muitas vezes tentou me aconselhar. As pessoas do globo externo não enxergam nossos problemas. Não entendem o mártir que é viver com isso. Mas evito levantar o tom de voz e dou espaço para que ele continue — você já está grandinho o bastante para saber o que é ou não certo. Já se perguntou o que ele quer? Talvez uma reaproximação com o próprio filho? Não se machuque tanto a esse ponto.

— O que sugere que eu faça? O abrace e diga que vai ficar tudo bem e que o perdôo? Tente enxergar a situação, Cohen — falo com um tanto de sarcasmo e ira.

— Eu sei lá o que você vai fazer! Só espero que não se arrependa mais tarde — ele se vira para o balcão e pega seu outro lanche.

Que inferno.

Eu mereço esse circo que Ethan Campbell criou para a minha vida. Espero que ele não se arrependa.

Suspiro pesadamente e volto a me sentar.

— Tudo bem, sem essa historinha sobre seu pai — Matthew diz de boca cheia — amanhã depois do treino vamos àquele bar de sempre.

— Deveríamos nos policiar.

— É um estimulante “pré-competição” — ele afirma com ironia associando ao fato de estarmos a uma semana antes de um jogo decisivo. 

Por um instante penso que será bom.

— E aquela garota, hein?

— Garota?

— Emma! Difícil esquecer o nome de quem roubou o coração do Campbell.

— Sem essa, Jenkins.

— Nem cite esse nome — dou risada de sua expressão nebulosa e impaciente mas logo ele volta com o tom brincalhão. — É sério, como vão as coisas?

— Melhor impossível. Na verdade, possível — reflito sobre os últimos acontecimentos com ambição.

— Falando desse jeito até parece que realmente quer ir mais afundo.

— Por que não?

Ele me olha totalmente céptico.

— Se lembra da última vez co...

— Não lembraria se não fosse você.

— Ela estava obcecada.

— Completamente maluca.

Nós concordamos em sincronia com a passagem de algumas memórias não tão boas do meu passado, em específico, uma garota que encontrei numa boate e se tornou minha “fã” número um. Nos envolvemos, verdade. Mas sua paixão se tornou uma perseguição. Fatos hoje engraçados, mas que naquele tempo me deixavam puto.

Não sei quanto tempo levei até que pudesse tirá-la da minha vida por inteiro.

Agora, me vejo numa situação oposta. Não que eu esteja obcecado, mas estou fissurado na ideia de ter alguém ao meu lado – coisa que nunca me vi cogitar – e com Phillips, a certeza dos meus sentimentos se moldam dia pós dia.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora