Vinte e seis

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Eu te liguei, garota. 

Me ausentei de qualquer prazer que o cigarro pudesse me dar enquanto o tragava, e foi apenas porque o prazer, não me deixava conformado. 

Conformado, tsc. 

Desde que te conheci, Phillips, conformado é uma palavra quase inexistente no meu dia a dia. No entanto muitas coisas têm acontecido, e eu sei, você deve estar saindo com aquele idiota do Cullen. Você sabe que ele terminou o namoro dele recentemente, ou Dylan ainda não contou? Provavelmente não sabe que está suprindo a carência de um coitadinho como ele. E você é demais para ele, vocês simplesmente não se combinam, tente ver isso.

Não há conexão. 

Não estou dizendo que há alguém perfeito a sua espera. Mas Emma, estou a aguardando há quase duas horas, literalmente.

Eu desejo esbarrar em você na faculdade mas você evita; você me bloqueou em exatamente tudo e já fazem dias e dias. Quero despejar mil coisas em cima de você, porque tudo que mil meninas não fizeram, você fez do pior em apenas alguns meses. Está me fazendo brincar com correspondências no carpete e decorar os moradores deste prédio. 

Estou esperando demais. Emma não irá aparecer. 

Decido ir embora para além do caminho que trilho até casa, e contorno pelo centro. Hoje é sexta, eu já previa as ruas cheias com bares e clubes abertos, mas não exatamente nesse horário. 

Espera

Estaciono o carro de qualquer jeito, e faço o mesmo com a porta já que minha pressa fala milésimos de vezes mais alto. Com o sangue fervendo vou em direção a calçada de um pub de rock, com letreiro grande e neon e duas letras faltando.

Porra. 

- Que MERDA é essa?

- Campbell?

Esqueço o nome dela, uma de cabelo claro, acho que deve ser Hope ou algo do tipo. Ela segura a amiga do lado, com suor pelo rosto pálido, cambaleando para os lados, presumo que deva estar fodida de mal. 

Antes fosse uma estranha. Mas não, é Emma. - Por isso desci do carro. 

- Como deixou isso acontecer? - olho revoltado para a menina, de imediato peço para que ela me deixe pegar Phillips, e passo meu braço ao redor de seu pescoço, tentando segurá-la. 

- Qual é, você vai ajudar ou vai ficar criticando? - ela revira os olhos, atônita. 

Emma segura um par de saltos pretos com a mão direita, seus olhos se fecham voluntariamente. 

- Princesa... - tento respirar fundo - vou tirar ela daqui.

- Onde pensa que vai levá-la?

- Minha casa. 

- Nem brincando, Sr. Campbell. Eu irei junto. 

- Perfeito - dou de ombros as direcionando até o carro. 

Em poucos segundos chegamos no meu apartamento. 

Tudo bem que ela quase vomitou enquanto subíamos pelo elevador, mas por sorte deu tempo de deixá-la no banheiro. Enquanto me sento com os dedos a massagear as têmporas, Griffin parece se divertir com a situação, e dá voltas e voltas pela minha sala de estar. 

- Sabe, ela nunca ficou assim - ela pausa com risadas baixas -, o mais engraçado é te ver aí, a ajudando. 

- Não é engraçado. Não faria o mesmo por Tyler?

- Isso aqui é tudo seu? - ela torce os lábios, observando as bebidas presentes numa copa afastada junto com umas taças. Eu assinto, sacando seu desvio. - Tyler e eu somos estáveis. Faríamos tudo um pelo outro. 

Entendi. 

"Estáveis" - ela está implicitamente me jogando uma indireta. 

Então Emma surge na porta, com o cabelo amarrado num coque 'perfeitamente' desalinhado, e dessa vez mais atenta. 

- Droga - ela se manifesta, com uma expressão de arrependimento. 

- Emma. Você se sente melhor? - Hope rapidamente a abraça, e rapidamente a solta.

- Um pouco. - Ela pisca lentamente e passa as mãos pelo rosto. - Por que diabos estamos aqui?

Griffin explica e eu apenas miro atentamente para ambas, o olhar envergonhado de Emma é resoluto, sei que ela não gostaria de me ver, justamente agora. 

- Não posso ficar aqui - diz Griffin com o celular na mão.

Phillips então começa a rir, num nível que quase me faz querer rir com ela. 

- Tá, então vamos...

Emma está fora de si. Ela visivelmente não está legal, nem ao menos consegue andar até a entrada sozinha. 

- Não - me levanto com autoridade - Emma fica.

- Brandon, obrigada por querer ajudar mas sério, desista - Hope argumenta. 

Phillips então fixa seu olhar e seus passos até mim. Com a maquiagem borrada, ela leva o polegar até meu rosto, e eu permaneço inerte. 

- Brandon - ela segura um possível ataque de risos - já deu. Você não precisa fingir que se importa. 

- Fiquei te esperando por horas hoje. Número 14. Sua vizinha namora um espanhol doze anos mais velha que ela. E o outro é um músico. Eu não decoraria isso se não fosse importante para mim. Então por favor, para de fingir que não acontecemos em nenhum momento porque isso me deixa puto. 

Ela dá uma meia volta e reprime os lábios com as mãos agitadas, feito uma criança. 

- Tchauzinho - Hope se despede e sai de mansinho, nos deixando a sós.

- Quero uma água. - Emma se senta no sofá mantendo-se ereta. 

Com um sorriso que se estende de canto a canto, vou até a geladeira e pego um copo com água para ela. 

Total silêncio. 

- Vou tomar um banho. Qualquer coisa, sei lá, grita. 

Enfim, um sorriso surge de seu semblante desorientado. 

Passo pelo corredor e então vejo que ela deixou o celular cair no chão, ele toca compulsivamente, então assim que o apanho, vejo de quem se trata. 

- Dylan - digo de forma ácida.

- Quem está falando?

- Oh, desculpe. É que Emma deixou o telefone por aqui e eu acabei atendendo, mas se quiser, repasso imediatamente - nunca tive tanto sarcasmo na minha vida inteira. 

- Campbell - ouço seu pesar do outro lado, uma pena. - Converso com ela depois. 

Ligação encerrada. 

Poxa. 

Demoro uns vinte minutos para sair do banho, e a primeira coisa que vou checar é Phillips. Com certeza. Mas assim que chego na sala, me deparo com ela deitada, de mal jeito. Sem me sacrificar tanto, a levo para o quarto de hóspedes.

Não tem tanta coisa por aqui, mas apenas a cama por si só já é uma grande coisa. 

Evito fazer muito barulho para não assustá-la, e deixo a janela entreaberta para que o vento possa arejar o espaço. Dessa forma pego um edredom e estendo sobre ela, não completamente. Confiro se seu celular está ali e também seus sapatos, para que acorde e veja que seus pertences estejam ao seu lado. 

Eu até ofereceria uma roupa para ela caso a mesma não estivesse dormindo feito um anjo. 

Meio anjo, né.

Só espero que amanhã ela não surte, nem nada.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora