Trinta e três

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É tão idiota pensar que a camiseta do manequim cairia perfeitamente bem no corpo de Brandon...

E é terrivelmente idiota vir ao shopping e se lembrar de momentos das quais eu adoraria reviver.

Grécia. O mar. Casamento. Hotel. Paz.

Eu retrocederia algumas semanas antes apenas para desfrutar do paraíso por mais um bocado. No entanto, também devemos lidar com os espinhos presentes nas rosas, e saber admirá-los como um todo. Tudo bem, palavras profundas demais apenas para dizer que: voltar a rotina é o mesmo que cair da cama com um alarme indesejado.

Ainda não retornamos as aulas, por isso tenho aproveitado o tempo para me reconectar e refletir sobre várias coisas.

Faço isso desperdiçando tempo admirando jóias Tiffany&Co e lingeries VS nas inúmeras lojas por aqui.

- Já conseguiu as passagens?

- Sim, mãe. - Reviro os olhos diante sua insistência. - Estarei aí daqui dois dias.

- Tenha bastante cuidado ao pegar ônibus. Você sabe como sou paranóica com isso... E a crueldade é tanta!

- São os efeitos de tantos jornais, Srta. Phillips. - Nós duas calhamos a rir por um segundo. - Mas não se preocupe. Sei me cuidar.

- Sua avó e eu estaremos a sua espera, beeeem ansiosas.

- Não a mate do coração antes de eu chegar.

- Vou tentar. Eu te amo, querida.

- Eu também, mãe.

Finalmente encerramos a ligação de quase uma hora. Não fora o suficiente para dar detalhes de tudo, embora tenhamos conversando muito.

Estarei a caminho da Geórgia – quase como um segundo lar, – onde meus avós dividiam uma casa de campo até que meu avô viesse a falecer devido a uma neoplasia.

Estou certa de que será ótimo para mim ter esse período com elas.

E veja só que incrível: irei de ônibus! E sim, já viajei antes assim. Paramos algumas vezes nas estradas e isso me permite fotografar as paisagens.

Comprar uma Heineken nas conveniências e talvez um chiclete de hortelã, também é uma ótima razão para se ir de ônibus.

- Não está pensando em ir sozinha, está?

Assinto com a cabeça.

- Não. É perigoso. - Brandon me repreende.

Analiso o cardápio do restaurante que viemos almoçar, regado a flores e plantas olorentes.

É como se estivéssemos num lugar dentro da natureza.

- Não é. - Ajusto o óculos escuro em meu rosto e continuo a ler os inúmeros pratos antes de escolher de fato um.

- É.

- Não, não é.

- Pare de ser teimosa. Não lê jornais?

- Você lê?

- Não é preciso ler para saber o que pode acontecer.

- O que pode, não o que vai.

- Uau, ela agora é vidente. - Ele revira os olhos.

Então eu bufo, encarando seu rosto faiscando perplexidade.

- Brandon, não estou atravessando o país - sorrio enquanto massageio sua mão na mesa. - Se está tão preocupado, por que não vem junto?

Ele hesita minha questão por uns segundos.

- Vai conhecer uma parte da minha família. Estará conhecendo a mim.

- Podemos ir de carro, não acha?

- Não.

- Por quê?

- Porque não. E pare de enrolar.

- Tudo bem, tudo bem. - Ele finalmente abre um tremendo sorriso.

- Vários cenários diferentes, não acha?

- Eu adoraria passar a minha vida assim. Indo de um lugar a outro com você.

- Podemos imaginar tudo e qualquer coisa.

- Imaginar?

- Realizar. Isso. - Pisco quase dando uma risadinha - Podemos materializar nossa vontade.

- Não tem noção do quanto eu quero.

- O quê?

- Essa comida aqui - ele aponta despretensioso para o menu.

Reviro os olhos.

- Idiota.

- Vai negar que gosta desse idiota, princesa?

- Bom, - faço uma careta - eu até poderia negar, mas já estamos muito longe para fingir algo.

Brandon se esforça para alcançar meu rosto, e nesse momento tão devasso, nos beijamos. 

É a primeira vez que digo que, meu coração sente-se pleno com a nossa relação. Estável. Alinhada. Harmoniosa. E mais feliz ainda por irmos juntos a Geórgia.

Elas irão amar conhecê-lo.

E eu vou amar levá-lo ao meu canto. Abrir as portas para uma Emma diferente de Cannyville.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora