Trinta e cinco

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Esfrego as mãos no rosto várias vezes para ter a certeza de que Brandon não está na cama.

Quando vou pegar o celular, escuto a porta se abrir devagarinho.

Não há nada pior no mundo que gostar de um outro ser humano. Ele pode fazer nosso coração acelerar descontroladamente, sair pelo peito e nos tirar um sorriso genuíno mesmo quando não temos uma justificativa para isso além do gostar. É péssimo sentir a vulnerabilidade disso, mas é o cúmulo do perfeito imaginar que aquele alguém está ali.

Há quatro segundos me assustei com sua falta ao meu lado, mas o vendo, o alívio suavizou meu corpo inteiro.

Preciso filosofar diante disso.

- Não quis te acordar.

- Não fez isso.

Ele se deita novamente, me deixando acomodar em seu peito.

A minuciosidade desse instante e os traços que o marcam, são simplesmente meu ponto fraco. Quero me abrigar aqui, para sempre.

- Emma.

- Oi.

- Podemos conversar seriamente quando essas férias passarem?

- Sobre o quê?

- Nós.

- Sim. Mas só quando tudo passar. Por enquanto vamos tomar café e fazer uma tour pela fazendinha.

Sorrio por longos segundos, antes de caminhar para trocar minha roupa.

No momento, não fiquei pensativa a respeito do que ele disse. No entanto, também não deveria.

Mas... O que exatamente deveríamos conversar sobre nós?

Descemos até a cozinha.

- Lenore foi a cidade. Mas o café já está prontíssimo. - Minha mãe sorri brandamente enquanto seca as mãos em um pano de pratos.

De imediato - como se fosse impossível não notar - percebo que há uma pequena cesta com cannolis na mesa.

- Ah, - ela percebe meu olhar - Mike soube da sua visita e decidiu deixar isso aqui.

Puts.

Vou ter que relembrar a figura de Mike, já estou vendo a feição de Brandon sem entender de quem estamos falando.

- Ele foi meu amigo durante todo o tempo em que estive aqui na Geórgia. Melhor amigo - enfatizo para que ele saiba de sua importância.

Brandon franze o cenho e sorri com um pouquinho de sátira, mas parece assimilar.

- Você vai conhecê-lo ainda hoje. - Massageio seus ombros enquanto ele se serve com suco.

- E se eu recusar?

Minha mãe e eu nos entreolhamos dando risada.

- Estou brincando. Quero conhecer seu antigo melhor amigo.

- Brandon.

- Mike.

Os dois permanecem no aperto de mãos por tanto tempo que, creio eu, estarem lendo o histórico de cada um através desse gesto.

Mike deixou o cabelo tigelinha e agora está com ele maior e quase na altura dos ombros. Seus fios loiros agora estão mais escuros, não sei se ele tingiu ou se o tempo deixou assim. Mas sei que os olhos meio apertados continuam o mesmo desde a última vez que vim aqui: só que mais curiosos.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora