- Eu imaginei qualquer coisa, menos isso. Era o que faltava para completar nossos clichês.
Apanho a manta escura e mais as outras coisas que trouxe, colocando-as novamente sobre o gramado. Dou um sorriso brando, tapando com a mão os raios quentes de fim de tarde que atingem meu rosto e ombros.
- Não sou tão criativa quanto você, mas aposto que não é tão ruim.
Procede em todos os idiomas.
Se esticar nas folhas secas, ouvir os barulhinhos de embalagens de sanduíches sendo abertos e apreciar uma trama dramática no telão com luzes na borda, pode ser velho. Às vezes, sem sentido. Mas qual é a graça de se sentar numa cadeira quando você pode assistir um filme assim?
E com Brandon, isso se torna tão transigente.
- Poderíamos estar numa guerra que nada seria ruim com você ao meu lado.
- Eu já disse que ainda aprecio suas investidas? - rebato abrindo uma lata de soda.
- Então significa que já apreciava antes?
Mordo os lábios na tentativa falha de não rir.
- Eu odiava. Não por isso, por ser você. Mas já era.
- Já era seu rancor que me feria, pequena donzela - ele cai para trás atuando uma profunda dor inexistente e ambos sorriem.
Top Gun.
Numa tradução próxima a grande direção de Scott, o título surge junto a algum som, fazendo com que todos os barulhos possíveis se cessassem. Clássico de '86.
- Você poderia ter a gentileza de se acomodar ao meu lado? - Brandon sussurra em meus ouvidos, fazendo-me perceber que estamos em lados opostos.
Assim o faço.
Ele passa o braço por trás do meu pescoço, me deixando sem jeito. É claro que estou acanhada. Por mais que tenhamos saído algumas vezes, criado um vínculo, ainda é como se eu estivesse abrigando um sentimento sem nome. Mas também é claro o quanto quero mantê-lo por perto, sem apreensão.
Quase duas horas aqui. Encostados um no outro. Atentos apenas ao filme.
Tão singelo.
Tão tranquilo que eu sinto o conforto de estarmos juntos.
Brandon surge com um cigarro entre os dedos e sem perdemos o contato visual, nos levantamos.
Caminhamos entre as árvores até onde o carro está. Sua quietude me assusta, principalmente quando ele bate - de um jeito quase agressivo - a porta do lado do motorista. Eu o observo, sem deixar nítido, seu suspiro enquanto tamborila os dedos sob o volante.
- Não podemos continuar fingindo que está tudo bem - ele diz de repente, mas sem nem mesmo olhar nos meus olhos.
- O que está dizendo?
- Nós dois, Emma. Não daríamos certo nem se quiséssemos.
- Está dizendo que não quer? Ou especulando que EU não queira?
- Porra, Emma! Estou te poupando de se machucar... - seu tom de voz sobe e desce, sua respiração é mais ofegante que o esperado.
Não entendo essa inconstância do nada, essa mudança de humor nada comum de Campbell. Eu não estava esperando por isso, minha sensibilidade aumenta conforme seus gestos se alternam entre o incoerente e o culpado.
- Olha pra mim - nessa situação toda, só consigo reparar nos seus olhos que sequer cruzam os meus, como se me encarar fosse fatal. - Olha pra mim, porra.
Enfim conseguimos um minuto de paz.
Somente aquela luta travada de olhares sem manifesto.
- Escuta, - engulo em seco com o coração pressionado contra o peito, assustado com isso - se quisesse me poupar, teria surtado antes e não agora.
- Não estou surtando... - ele ri de forma pervertida. - Merda. Merda. Merda.
- Estávamos bem há dez minutos. E dentro desse tempo você age feito um babaca, do nada. Certo. - Tento tirar alguma justificativa dele. Alguma cabível.
E eu não consigo.
Brandon permanece estático e com uma expressão de quem fodeu com tudo que podia.
- Se não me disser eu saio desse carro, Brandon. - Estou confusa e puta pra um cacete e ele parece não se importar. Minha voz falha, eu não queria ter de dizer isso, mas o momento clama: - E não precisa me procurar depois de hoje. Nunca mais.
Uma de suas mãos percorre seu rosto, abaixado, vejo seus lábios se abrirem e então finalmente presumo que ele vá dizer algo.
No entanto, n-a-d-a.
Meus olhos se fecham voluntariamente, e eu juro que há uma força me prendendo para que nada saia do controle - não mais. Sinto um vazio se abrindo e uma nuvem cinza cobrindo minha visão. Meus dedos seguram a maçaneta com violência, e então eu viro as costas para ele. E para tudo que nós nem classificamos.
Tipo, tudo.
Não será um caminho longo até meu apartamento. Eu até prefiro andar para me distrair em vez de ficar me questionando: por quê?
Por que, Brandon?
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Contra as leis do amor
Romance"Sim, por você, eu vou tentar e recolher esses cacos até eu sangrar se isso fizer você ser minha." ➳ Plágio é crime.