Dezesseis

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We looked for stranger things
            'cause that's just who we are (...)

Me permito refletir sobre a letra da canção, então, com um olhar intrigante de canto, encaro Brandon.

Somos nós, estranhos?

Nessa quietude todas as músicas da Billboard que tocam nesse carro parecem se associar ao que estamos vivendo. Espero que ele não tenha visto minha risada de dois segundos por pensar isso.

Porque há muito mais para se importar, como, no fato de estar há não sei quanto tempo percorrendo estradas que saem da cidade. Seria demais pensar que possa ser sequestro. Mas, também espero que ele não esteja me levando para o meio do nada.

— Estou entrando em desespero — murmuro observando algumas placas.

Ele sabe que estou. Mas de alguma forma, meu desalento não o faz mover um músculo sequer. Tento fazer com que Brandon me responda, olhando diretamente para seu rosto.

— Dá pra dizer alguma coisa?

Ele sussurra um “shiii” e desacelera o automóvel.

Puta merda.

Esse barulho.

— Não brinca... — me apoio no banco e abro meu mais branco sorriso, de imenso alívio e euforia.

— Estamos quase lá, princesa.

Desta vez Brandon Campbell se atreveu a ir mais longe, e conseguiu me surpreender. Eu jamais suspeitaria que estaríamos indo em direção a praia.

Nós dois juntos, não mesmo.

Nada como o contraste do mar com a areia – o som das ondas que definem a mais pura placidez que se pode ter em meio ao caos, num lugar desses. Suspiro fundo com os olhos a contemplar nossa vista.

Brandon abre o porta malas, revelando uma cesta. Mas, espera! Vamos fazer um piquenique? Me certifico de que ele apanha o objeto, e, com uma expressão otimista, ele diz de supetão:

— Em qualquer lugar, a qualquer hora, comida é sempre bem vinda.

Sorrio em concordância.

Há inúmeras (e grandes) pedras por aqui. Conchas que cobrem os grãos de areia nívea que gradualmente são levados pela água salgada – chego inclusive, a tocar meus pés no mar. Logo, vejo que Campbell estica um pano de algodão para nos aconchegarmos numa área pouco mais acima de nós, assim como o mesmo põe a cesta ao nosso lado.

Bem, aqui estamos.

De novo.

— Hum, isso é um banquete — digo alegremente no momento em que fito a comida que ele faz questão de colocar sobre o tecido – embutidos, suco, e até mesmo uma torta doce. Ele pensara em tudo.

— Eu tinha pensado em vinho — ele aponta para a jarra de suco industrializada.

— O lado positivo é: sem álcool. O lado negativo é... sem álcool.

— Não precisamos disso, afinal.

— Nem dos cigarros — gesticulo para que ele coloque o maço que antes estava no bolso de sua bermuda branca, na minha mão. Brandon hesita, mas o faz. Não que eu seja uma controladora ou coisa do gênero, mas não é agradável estarmos num lugar como esse e vê-lo inalar uma fumaça tão fatal. Se podemos aproveitar sem uma gota de álcool, podemos aproveitar sem fumaças também.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora