Trinta e sete

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Oi, Em.

Você escolheu semear algumas flores, talvez não se lembre, mas uma das primeiras coisas que desejou ao se mudarem para essa casa trabalhada em vidro e mármore soturno, foi ter um imenso jardim para passar o tempo lendo jornais que Odin entrega uma vez ao dia – às nove, para sermos exatos.

Você suspira como quem estivesse flutuando com os pés descalços, pulando de nuvem em nuvem, lambendo os dedos com gosto de cereja.

O estalo do champanhe sendo aberto abre um imenso sorriso de gratidão.

- Ia comemorar sozinha?

Ele está ali. Sua voz ainda a faz estremecer e faz suas mãos transpirarem.

Porém mais do que isso, a saudade acumulada nos últimos dias a faz se encaixar no colo dele num piscar.

- Velvet não é tão ruim assim...

- Você que é incrível demais para aquele lugar.

Em, você não irá entender os diálogos disso.

E o sabor de notas de amêndoas com frutas de polpa branca atravessam o paladar agradavelmente quando o beijo sela a falta que ele estava fazendo.

Outras cenas a cortam.

As noites mal dormidas com o peito apertado. E o calafrio que o vento pelas frestas invisíveis aos seus olhos traz, arrepiando seu corpo que perambula pelos cômodos até você fazer o que faz todos os dias pela agonia de estar só: sentar em sua poltrona dando goles em um vinho baratíssimo enquanto contempla o mar.

É uma homenagem em tanto a vocês, não acha?

A maré que reflete ao brilho da lua. E esse aroma de praia?

E lá está ele em mais uma aparição, você sabe que ele está em alta mas também sabe que não é nada como aqueles famosos. De qualquer forma também sabe que até onde se encontra, haverá dias em que cuspirão fogo a ponto de incendiar tudo.

Sua respiração está até mais lenta.

Aquele álbum? Ah, sim.

São vocês.

Do início até o momento – as velhas cervejas na roda de amigos até os passeios de lancha que incluem crianças.

Sua mente a força a saber os nomes e quem são aquelas pessoas tão mudadas, mas desiste imediatamente quando é interrompida.

Irei deixá-la antes que fique louca.

Tchau, Em.

Acordo confusa, massageando o peito para tentar me tranquilizar, e de repente, a realidade.

Olho para o lado e Brandon está ali.

Só de ver seu rosto já me sinto completamente aliviada, até um sorriso brota em meus lábios. Não hesito nem mesmo de passar as mãos pelo seu cabelo despenteado.

Foi um sonho em tanto.

Não sei, foi tão genuíno que senti como se minha intuição estivesse manipulando cada passo e ação dentro dessa outra realidade paralela. Há traços que ainda martelam em minha cabeça por eu ficar presa em decifrar algumas coisas.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora