Treze

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| Brandon, point of view |

Decorei todos os detalhes desse lugar em questão de horas. O tédio se mistura com a exasperação em meu peito, me deixando desnorteado.

Fecho o punho, mas, respiro fundo.

Não posso ser levado pelo calor do momento, tampouco ser barrado de seguir em frente por conta disso. Se ele pretende executar algo contra mim, que o faça.

Coloco a bebida mais forte que tenho em um copo, para deleitar do prazer que só o álcool poderia oferecer agora, até meu celular tocar.

Merda.

Caminho até ele com os olhos semicerrados e a mão certeira para atirá-lo pela janela, mas não o faço quando vejo um número desconhecido estampar a tela. Perguntas rodeiam minha cabeça até eu finalmente atender a ligação, com um grave ‘alô’.

Ei.

Um sorriso tacanho se deixa brotar dentre meus lábios, os objetos voltam a ter cor novamente aqui dentro – onde até pouco tempo, pareciam cinzas.

— Emma?

Ahm, sim.

Ainda sem saber como reagir a sua chamada inesperada, fico boquiaberto. Se eu a conheço bem, agora ela deve estar se perguntando a razão de estar telefonando para o número que salvei em seu celular.

Desculpe por ligar a esta hora.

— Ainda é cedo, não acha? — encaro o relógio de parede.

Para um dia de semana, não sei...

— Não se preocupe, estou acordado. Mas o que despertou interesse em me chamar assim, do nada?

Para falar a verdade, não sei dizer. Só senti que deveria o fazer.

— Parece que seu instinto funciona bem.

Por que? Está com algum problema?

— Não, longe disso — tento esconder, mesmo imaginando sua descrença ao outro lado da linha. — Isso é preocupação, cara Phillips?

Não seja tão inocente, Campbell. Mesmo se fosse, não seria da sua conta.

— Então me ligou para bancar a grosseira, é isso?

Escuto sua risada baixinha.

— Ei, o que faz agora?

Falando com você?

— Antes de me ligar, obviamente.

Estava lendo um livro.

Dou uma breve pausa, até afasto o celular e surge um novo sorriso traquina em meu rosto. Não é exatamente isso que eu gostaria de fazer, mas é exatamente isso que farei, para satisfazer meu ego descontente.

— Sua noite poderia melhorar se de repente, um anjo surgisse na sua porta.

Se o anjo for você, eu dispenso.

— Não faria isso comigo, faria?

Antes de responder ‘sim’, o que estaria Brandon Campbell fazendo na minha porta às dez e quarenta e sete da noite?

— Você foi exata demais. Eu acrescentaria uns quatro minutos! — algo me diz que ela revirou os olhos — mas, eu estaria chorando, suplicando pela atenção de uma donzela encantadora que nesse caso, me colocou em perigo.

Te coloquei em perigo?

— Sim.

Emma não tem ideia de o quão grave a situação é, e isso me deixa desconfortável. O fato de eu estar conversando com a mesma sem ter apertado o botão vermelho ainda, me faz criar um cenário medonho em que, me imagino como vítima. Ela não percebe que pouco a pouco está invadindo uma propriedade insondável? E que isso é ruim para ambos? Contudo, não me importo. Não sei o que acontece mas, realmente não ligo se estou prestes a ferrar com a minha vida.

Ou com a dela.

Acho que devo dizer boa noite, Brandon — ela murmura com a voz suave, dando entender que não há introdução entre nós.

— Não será uma boa noite, princesa. Estarei aí daqui a pouco — respondo com ampla confiança, disposto a ir até ela, mesmo que sua palavra faça oposição a minha.

Se eu não abrir a porta, estarei dormindo. A probabilidade é de mais de noventa por cento.

— Mas você não disse cem — ouço um suspiro misturado com um humor, se isso é bom, não sei.

Desligo o celular.

Eu sei que ela estará lá.

Seus olhos pardo-acinzentados me analisam de maneira a me julgar, como se fosse tirar uma faca da cintura e cravá-la em mim, de tamanha fúria que expressa seu semblante

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Seus olhos pardo-acinzentados me analisam de maneira a me julgar, como se fosse tirar uma faca da cintura e cravá-la em mim, de tamanha fúria que expressa seu semblante.

Permaneço calado, com as duas mãos no bolso da minha bermuda praiana.

— Diga alguma coisa, mas não me olhe assim.

Ela ri, de um jeito irônico e bonito.

— Você simplesmente implora para eu ser cruel.

— Cruel? Você é fofa.

— Ora, vejo que tem se enganado quanto a minha pessoa.

— Você pode ser meio maléfica às vezes, mas não sempre.

— Não me referi a isso. — Ela cruza os braços como uma mãe faria prestes a dar um sermão ao filho — minha ligação não foi um convite para você vir até minha casa.

— E quem disse que saí do meu apartamento para ficar no seu? — respondo espontaneamente sem deixar meu charme de lado.

Ela ergue a sobrancelha aguardando minha justificativa concreta.

— Vim buscá-la.

— Me buscar?

— É. Eu tenho um belo terraço, vinho e livros.

— Sem chances — Emma dá uma olhadela para os cantos e ri em deboche.

Fico quieto, com minha seriedade tentando afetá-la.

— É sério?

Afirmo com a cabeça.

— Não sei.

— Você não precisa saber, só precisa ir. 

Ela me observa novamente, com os músculos faciais tensos, temendo que eu faça algo que não possa controlar. Eu sei que ela quer o controle disso, mas não tem.

E um paradoxo: eu também não.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora