Prólogo

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"House of Cards" - BTS

(https://www.youtube.com/watch?v=dwYxlcszZAI&list=PLntBYVB6xuzB_uhaVSD_5oqj0pE4NgMWt&index=1)

O barulho dos meus saltos a tocar o chão era aquilo que conseguia ouvir, aquilo em que me conseguia concentrar. Sentia o tecido do vestido vermelho que escolhi especialmente para aquele momento, tocar suavemente as minhas pernas enquanto me movia, sem abrandar, por entre a multidão.

Enquanto caminhava, retirei um copo de champanhe que me fora oferecido numa bandeja. Ia precisar de álcool naquela noite. Bebi metade do líquido dourado sem sequer respirar, pois nunca sentira a garganta tão seca.

Após atravessar todo o salão, parei. Um arrepio atravessou o meu corpo.

Não sabia explicar, mas conseguia sentir a sua presença e o seu olhar. A comoção do grupo de pessoas que me envolvia confirmou as minhas certezas.

Respirei fundo.

Ao olhar para trás, pude vê-lo. Não precisava de o procurar, encontrá-lo-ia entre milhões de pessoas, com facilidade. Ele sorria, enquanto falava com alguém. Desviei rapidamente o olhar e bebi o resto do champanhe. Mas sem conseguir evitar, voltei a olhar discretamente na sua direção. O nosso olhar cruzou-se e vi como ele se virava na minha direção, para me poder encarar melhor. Era a sua forma de me cumprimentar.

Estava longe de mim, mas sentia-me como se ele estivesse bem à minha frente. O seu olhar intenso fitou a minha face e desceu lentamente por todo o meu corpo até aos meus pés. Queria ficar, mas também fugir, e nem conseguia mexer um músculo. Ele sorriu de forma provocadora.

Alguém tentou chamar a sua atenção, porém ele manteve o olhar, murmurando algumas palavras que fizeram a pessoa desistir.

Esbocei um sorriso enviesado e puxei o meu cabelo para trás discretamente, exibindo o ombro. Cansada de ser uma marioneta nas suas mãos, decidi que estava na altura de o jogo ser a dois.

A minha respiração acelerou quando o vi baixar o seu olhar, enquanto ria discretamente, puxando o seu cabelo para trás ao reencontrar os meus olhos. Tinha-me com um só olhar e sabia disso, não o escondia.

Alguém chamou o meu nome, puxando-me daquele transe em que entráramos. Mantive uma conversa de conveniência e aparência, pois, não querendo admitir, eu sabia qual o único porquê de estar ali naquela noite.

Relaxei assim que o diálogo terminou e fiquei novamente sozinha, mas imediatamente sustive a respiração ao sentir o calor de um sussurro no meu ouvido.

- Porque é que me provocas desta forma?

- Não fiz nada. – Respondi friamente, não me movendo para o encarar.

Ele afastou-se de mim, não podia correr demasiados riscos.

- Devo falar do teu vestido, ou apenas da expressão com que estavas a olhar para mim.

- Fala do que quiseres. Não vejo mais ninguém incomodado.

- Isso é porque não estás a olhar para mais ninguém além de mim. De outra forma terias percebido o olhar que estás a receber de grande parte dos homens que estão no salão. – Respondeu de forma seca. Podia perceber como estava verdadeiramente incomodado, não era uma simples brincadeira.

Ri-me discretamente. Ele sabia que tudo o que eu era, lhe pertencia, mas preocupava-se com os olhares dos outros.

- A diferença é que... - Virei-me para o encarar e vi que ele olhava a multidão, sem realmente a ver. Desloquei-me para ficar de frente para ele, a centímetros do seu rosto e sussurrei, enquanto alisei a sua gravata – Só tu é que me podes ter.

Foquei o meu olhar no dele, degustando cada momento da expressão no seu rosto, antes de me afastar. O som do meus saltos, era novamente o único som que eu ouvia.

Não ia olhar para trás. Deixei o salão sem parar, sabendo que ele não me ia seguir, enquanto mantinha bem vivo na minha memória, o momento em que ele perdera todo o seu autocontrolo, mas não podia agir. 

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