Alguns Quilómetros

Capítulo 21

HUGO.
Eu deixei o celular de lado e passei a focar no trânsito, só mandei um áudio pra morena desejando uma boa viagem até a sua casa. Eu estava com saudade dela e nem parecia que havíamos nos visto ontem cedinho. A vida tem dessas. Eu me apeguei ao jeito espontâneo e carisma da Bia e essas coisas são difíceis de achar em alguma mulher. Cheguei no escritório por volta de 9:45. O meu chefe sempre chega mais tarde, então, fico tranquilo pra chegar nesses horários depois do meu expediente normal que inicia 9:00. A Joana estava arrumando alguns papéis na minha mesa, ela é a funcionária mais antiga daqui, mas não é velha. Deve ter lá pelos seus 35 anos e tem tudo em cima, dá gosto de ver até, mas não dou ideia porque sei da fama que passa por aqui.

Joana: Bom dia, Sr. Hugo.

Hugo: Hugo, só Hugo. -Sorri.- Bom dia.

Joana: Tudo bem. Arrumei alguns papéis e já deixei na sua agenda os seus compromissos para o dia.

Hugo: Meus compromissos? -Arqueei uma sobrancelha.

Joana: Sim. Aa, não.

Hugo: Quê?

Joana: Sr. Cláudio ainda não chegou de viagem e pediu pra passar para sua agenda os compromissos da agenda dele.

Hugo: Sério?

Joana: Ele não falou?

Hugo: Não. -Balancei a cabeça.- Ele sempre faz isso, não sei porque não vim preparado.

Joana: Bom, já vou indo, trago seu almoço.

Hugo: Joana, vou almoçar na rua.

Joana: Tudo bem, qualquer problema é só dar um toque no meu telefone.

Hugo: Valeu. -Sorri carismático pra disfarçar a raiva que eu estava sentindo.

Jurei que iria vim para o trabalho apenas pra assinar papéis, checar as empresas de posse do meu chefe e ele me coloca pra ir em duas reuniões em um só dia? É pra me matar do coração. Teria nem tempo pra respirar direito. Deixei meu celular na gaveta e fui fazendo o que era necessário por ali. Fiz ligações, reclamações, assinei contratos. Que volta de férias sensacional em? Puta merda. Na hora do almoço dei graças a Deus e caminhei para o restaurante mais próximo da empresa. Não demorei nem 20 minutos por ali e já voltei. Aproveitei pra bater um papo com a minha morena que não havia enviado mais nada pra mim depois do meu último áudio. As minhas mensagens não estavam sendo enviadas, então, resolvi ligar. Ela atendeu no terceiro toque.

—Ligação.
Beatriz: Alô? -Falou manhosa.
Hugo: Morena, já chegou?
Beatriz: Sim, faz um tempo, pode falar agora?
Hugo: Quê? Posso ué.
Beatriz: Liguei faz um tempo, mas uma mulher atendeu dizendo que você estava ocupado demais para falar ao telefone.
Hugo: Mulher? Que... Joana.
Beatriz: Quem?
Hugo: Secretária do meu chefe.
Beatriz: E agora sua secretária?
Hugo: Por hoje apenas.
Beatriz: Secretárias pegam no celular dos seus chefes?
Hugo: É errado, não sei nem porque ela faz isso.
Beatriz: Tudo bem. -Falou calma, mas sabia que naquela transparência havia uma raiva, ela estava estranha.
Hugo: Amor?
Beatriz: Sim.
Hugo: Ela não fez por mal.
Beatriz: Tá tudo bem.
Hugo: Sério?
Beatriz: Não, mas é o seu trabalho e sua vida, então, tudo bem por esse lado.
Hugo: Queria estar aí pra tirar essa sua marra.
Beatriz: E eu também queria que estivesse pra não ter que ficar aguentando outra mulher... -Suspirou.- Você sabe.
Hugo: Só por isso?
Beatriz: E pra matar a saudade dessa sua boca gostosa.
Hugo: Você tem dois estados de espírito.
Beatriz: Aproveite o atual. -Riu.
Hugo: Claro que sim. E sua família, como tá?
Beatriz: Bem, graças a Deus.
Hugo: Bom, agora preciso voltar ao serviço e tenho duas reuniões.
Beatriz: Boa sorte, amor, mais tarde nos falamos.
Hugo: Beijos.

Arrumei minha pasta com os papéis necessários para a primeira reunião e fui para a sala reservada. Joana estava no canto e preferiu não manter contato visual comigo, mas mais tarde eu iria tirar minhas dúvidas em relação a ligação. As horas passaram rastejando e tudo que eu precisava era de uma cerveja gelada enquanto aquele monte de velho tagarelava sobre ações na minha mente. Os bons anos quebrando galho do meu chefe serviram para que eu pudesse adquirir experiências em assuntos assim. Meu expediente acabou as 19:00. Estava morto de cansado e acabava de sair de outro prédio onde ocorreu a segunda reunião. Havia marcado com o Gabriel de beber em um bar perto daqui e ele estava me esperando lá. Peguei meu carro e conectei o celular no som para ir aliviando o estresse daquele dia cansativo. Ainda bem que amanhã volto a rotina normal de apenas grudar na cadeira e resolver papéis mais conhecidos por mim. Estacionei no bar onde havíamos marcado, deixei meu terno dentro do carro e puxei a manga da camisa social para ficar um pouco mais “informal”. Meu celular acabou descarregando e eu iria mandar mensagem pra morena quando chegasse em casa.

Gabriel: Fala, filho de quenga, tá acabado. -Fizemos um toque.

Hugo: Sai agora daquele inferno.

Gabriel: Deixa teu chefe escutar.

Hugo: Nem lá perto eu passo mais. -Ri.- Desce uma cerveja pra mim. -Falei com a garçonete que passava por ali.

Gabriel: E aí, vai na festa neon do final do mês?

Hugo: Querendo.

Gabriel: Descer embrazado pra rapar as moças.

Hugo: Se orienta aí.

Gabriel: Falou o cachorro maior.

Hugo: Tô combinando com a mulher de vir pra cá.

Gabriel: Bia é fechamento, borá lá.

Hugo: Ela ainda não sabe.

Gabriel: Entendi. -Dei um gole na minha cerveja.- E ela tá onde?

Hugo: No Rio ué.

Gabriel: Postou foto num lugar diferente.

Hugo: Hm.

Gabriel: Abre teu olho que aquele moleque comentou.

Hugo: Quem?

Gabriel: Miguel né?

Hugo: Tá testando minha paciência esse aí.

Gabriel: Tá achando que a gente não chama pra briga.

Hugo: Deixa ele.

Não demorei ir embora, estava precisando de um banho e uma cama. Peguei um trânsito pouco cabuloso, mas finalmente cheguei em casa. Vinha um cheiro bom da cozinha, então, fui logo falar com minha coroa. Fui pro banheiro tomar um banho demorado. Passei desodorante. Coloquei minha cueca e bermuda. Coloquei meu celular pra carregar e esperei ligar pra ir falar com minha morena.