Olhos Vazios

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"Bem-Vindos à Northigh" era o letreiro da entrada, com uma pintura feita à mão da cabeça de uma coruja - claro, levando em conta que esse é considerado o animal da sabedoria. Os olhos realistas daquela coruja, chegavam a dar calafrios. Bom, meu caro amigo, leitor, essa é minha história, espero que consigam mergulhar no que eu vivi e que venhamos a desenvolver uma relação interessante.

A Northigh School, escola que levava o nome da cidade, que era no topo de uma montanha, era o principal ponto de referência. Dividida em dois prédios, em um, o maior, ficavam as salas de aula, noutro algumas outras salas, salões de reunião, refeitórios e quartos para alunos que moravam lá, pois suas casas eram distantes. No inverno, era quase certo pairar uma névoa densa e fria, o que tornava a escola mais sombria e dava espaço para que histórias macabras rodassem pelos pátios e corredores. 

O meu nome é David Goldberg, tenho 27 anos, sou recém formado em Literatura. Minha universidade era próxima da capital e, como desde os dez perdi meus pais, minha única referência de família era minha tia-avó. Depois de passar quase quatro anos longe de casa, voltei para a deliciosa, com certos tons de sarcasmo, Northigh. 

Ao receber a carta de confirmação de contrato da Northigh, cheguei a chorar, pois eu e a minha tia-avó Gertrudes, esperávamos ansiosos por alguma resposta. Eu fui aceito na melhor e mais famosa escola de ensino médio da cidade. Sim, isso no meu primeiro emprego. Ironia do destino, ou armação? Saberemos. Melhor, eu já sei, você saberá.

- Fico extremamente maravilhada com seu sucesso, meu caro. Sempre foste meu orgulho, tinha certeza que chegarias no topo. - comentou a titia, ao ler a carta. - Agora serás útil e não apenas um peso morto nessa casa. - Ela deu dois tapas nos meus ombros e virou-se de costas, gargalhando. Acostumem-se.

A tia Gertrudes era uma senhora rancorosa e cheia de soberba. Ela aceitou cuidar de mim, pois ninguém mais morava nas redondezas ou queria ao menos ter a honra de concluir com minha criação. A família Goldberg é espalhada pelo mundo, um pouco em cada lugar, sobrou pra essa idosa, amável e amarga (percebam a antítese), a tarefa de estar como minha responsável. Entretanto, eu, diferente da titia, sou muito feliz e não guardo rancor de ninguém. 

Andei de um lado ao outro, pensando em como seria lidar com os alunos e como reagiriam diante de um professor tão novo. Eu tinha ainda certa insegurança, pois seria a primeira vez com esse trabalho, algo que sempre sonhei e calhou de eu conseguir logo na maior instituição de ensino da região. Pense num jovem realizado, sou eu. Mal sabia o que estava por vir.

O tempo passou voando e quando menos esperei era o grande e esperado primeiro dia de aula. Eu respirei fundo, olhei no relógio, passei pelos portões da Northigh. Pessoalmente, parecia que eu era um deles, alunos que sorriam e andavam pelo pátio, se reencontravam depois dos três meses de férias. Eram meninas que choravam ao rever amigas, meninos que se cumprimentavam e se abraçavam. Estufei o peito e passei por eles em direção ao prédio menor, onde me encontraria com o diretor e coordenador da escola, o senhor Oliver Hausen. 

- Seu histórico e currículo me chamaram a atenção. Formou-se com a maior média, trabalhou em diversos serviços sociais e com isso superou em demasia a meta de atividades extracurriculares. Estou satisfeito em tê-lo conosco. - Disse o sr. Hausen ao me cumprimentar e entregar em minhas mãos uma apostila com todos os horários, planejamentos e detalhes necessários para minha adaptação. 

- Fico lisonjeado em fazer parte de sua equipe. - respondi e, sem saber muito o que fazer, eu ensaiei uma reverência, mas desisti e bati continência. Certo, certo eu fiquei nervoso e quem não ficaria? Você que está lendo, como reagiria diante de um dos mais renomados profissionais da sua área? Não me julgue então. 

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora