O Fantasma da Northigh

Família é Família

Desde os primórdios os homens se unem, formam laços inexplicáveis uns com os outros, acabam reproduzindo e criando ramificações afetivas, o nome dado a essa união é família. Mesmo que não seja de sangue, esse laço pode ser tão forte que quase nada poderá o romper. Não importa onde você esteja ou aonde você vá, sempre tem alguém que vai lembrar de você. Eu mesmo, que tão cedo me vi sozinho, acabei caindo nas graças da doce senhora Gertrudes, sendo bem otimista em minhas palavras. Mas havia alguém por mim, mesmo que eu não conhecesse.

Porém, o livro mais lido por minha tia avó, diz em uma de suas passagens que o amor no mundo se esfriaria, que filhos iriam ficar contra os pais e pais contra seus filhos. Não sei se você acredita, mas isso é consideravelmente real. Se olharmos nos noticiários, veremos que isso se comprova. Há quem diga que a família, dizendo como num modo geral, está falindo.

Nenhuma é perfeita, nenhuma é cem por cento intocável. Até porque se unir com outras pessoas é um desafio que se deve enfrentar dia após dia.

Se olharmos as famílias de Northigh, veríamos que os laços aqui são minuciosamente fracos e parcialmente rompidos, não sei se por maldição ou seja o que for, mas os Hausen, acabam de enterrar um neto, alguém da terceira geração. Michael Hausen, o pai, não se deu ao trabalho de vir ao velório do filho, disse que essa foi a escolha de um jovem fraco e inútil, segundo relatou posteriormente a mim Ivena, a tia do menino. Sem dúvidas Oliver, o avô, era quem mais sofria com o ocorrido, pois a culpa o consumira ao ver aquele caixão fechado, pois a cabeça do rapaz ficara dilacerada com o disparo. O pacto que fizera estava destruindo sua vida, sabia que possivelmente aquele seria apenas o começo.

Uma semana depois do que ocorreu, eu soube que Jhonatan Hamilton fora encaminhado a um colégio militar, no qual o pai, duro e conservador, cria tranformar o filho num homem, como disseram que ele disse. O senhor Hausen ficara quase uma semana sem aparecer em público, segundo Ivena, pouco saia de seu aposento. A professora deu início ao trabalho para retomar as aulas na escola, que fora interditada, porém, nada fora feito pelo que aconteceu lá. E tia Gertrudes estava mais estranha que nunca, quase não dirigia a palavra a mim, parecia ter algo preso na garganta para me dizer, mas se tinha algo que aquela senhora sabia era guardar segredos, rancores, ânsias do passado. Ela nada me disse sobre a visita de Maya Ferguson.

Além disso, Tyler não voltou a aparecer, nem mesmo dar notícias, já Wendy insistia em investigar, entretanto eu fazia tudo o possível para mantê-la distante dos problemas, até então. Por fim, todos na Northigh pareciam uma grande família fundada em segredos, mentiras e ameaças. Todos eram ameaçadores, não podia se confiar em ninguém. Karolina ou quaisquer outros que já haviam tido arrancadas suas máscaras sumiram.

Por hora, eu voltava a escola depois de tudo aquilo, do sétimo andar restou cinzas, aparentemente o mal estava contido.

— Bom dia, professor Goldberg. — disse Ivena a frente de uma enorme mesa, que estava rodeada por poucos professores, diferente dos primeiros dias em que estive aqui.

— Perdoe-me pelo atraso, eu... — dizia eu, quando me aproximei dela e sussurei próximo a seu ouvido. — Você disse que seria apenas eu e você, como sabe que podemos confiar nessas pessoas? — depois sorri e acenei para os outros. — Bom dia a todos.

— Mantenha os inimigos por perto e não será surpreendido. — cochichou ela, sorrindo. — Agora sente-se.

— Parece tenso, David! Bem que eu lhe disse que não devias se envolver com as complicações do sétimo andar. — comentou Bruna Osaka, como sempre sorridente. “Acha que me engana com esse sorriso?” pensei, mas sorri.

— Eu tentei. — respondi fingindo simpatia.

— Bom, depois de tudo que ocorreu, a polícia local confirmou que não há responsabilidade da escola pelas mortes. — ao dizer isso Ivena gerou falácias entre os professores. — Porém... — ela precisou aumentar o volume da voz. — Nós sabemos que precisamos manter a segurança de nossos alunos, pelo menos dos que permaneceram conosco, sendo assim interditaremos também o sexto andar e as aulas vão funcionar até o quinto apenas, já que também foi constatado pelo corpo de bombeiros que o dani no sétimo andar não causou prejuízos à estrutura do prédio maior. O que não pode é nossos alunos ficarem mais tempo sem aula. O diretor ainda está se recuperando e pretende voltar em breve, sendo assim, amanhã as aulas retornarão. Sem mais, boa sorte a todos! — disse ela assim liberando os professores, quando ficou apenas eu e ela, finalmente podíamos falar dos planos.