Colateral (Parte 1)

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No hospital, a família Spencer continuava a espera da alta de Ronan. Olivia ia em direção ao quarto onde o irmão estava. Ela caminhava lentamente vendo fotos em suas redes sociais. Ao notar a foto, postada por Jonathan Hamilton, de Michael Hausen sem camisa com a legenda "O esqueleto do nosso laboratório fugiu." A menina segurou-se para não gargalhar ali mesmo, porem, falhou e quebrou o silêncio exigido em um hospital. Claro, ela curtiu a foto e seguiu para ver as próximas. Até ser surpreendida pelo irmão que andava pelo corredor com as roupas rasgadas e sangue escorrendo pela boca. O garoto simplesmente passou correndo ao lado dela. 

— Ron? Aonde está indo? O que houve? Ron? — gritou ela olhando o irmão dobrar o corredor indo para a saída.

Quando pensou em segui-lo, ouviu seus pais conversando com um médico, saindo do quarto. Eles estavam calmos e até sorriam. Ao ver o irmão sair do quarto, bem vestido, junto com os pais, o corpo da menina se arrepiou por completo. Ela olhou para o fim do corredor outra vez, perplexa, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. O que teria sido aquela imagem de alguém muito semelhante Ronan? 

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Talvez esse parte te dê um nó na cabeça, se for pela minha maneira de narrar, peço-lhe seu perdão. Confesso que quando decidi escrever o que passei na Northigh, até eu tive nós na minha mente. Por diversas vezes pensei em ir embora e largar tudo, nem mesmo encerrar meu primeiro ano. Você deve pensar: mas é fácil, só tem problemas quando sobem ao sétimo andar. Ou ainda: é só parar de subir e pronto. Ah, caro leitor, seus pensamentos não se aproximam do que ainda está por vir. E não, os problemas não se limitam a escola, pois o pior será quando for a vez do mal ultrapassar o limite que deram a ele. 

Voltando ao que lhe interessa. Acredito que a sua ansiedade se deve ao como de fato Tyler e o novo aluno fugiram, ou se fugiram do perigo em que se meteram, mas paralelamente àquele ocorrido, outra sequência me agradou mais para apresentar a você nesse momento. Não me agrida com palavras duras, apenas estou compartilhando os momentos vagarosa e o mais detalhadamente o possível. Não foi fácil reunir tantas informações e trazer a você essas experiências. 

A história de Ronan é intensa e dura. Digamos que em minha concepção, a ida dele ao famigerado sétimo andar, gerou efeitos em sua vida fora dali, ou despertou o que já havia e estava adormecido dentro dele.

Sua infância, até os dois anos, não lhe era acessível em suas lembranças. Depois daquilo, ele foi entregue com sua irmã, ainda recém-nascida a uma instituição, ou abrigo para crianças. Não chegava a ser um orfanato, pois era apenas um lugar onde crianças com pais problemáticos passavam um período, porém, para eles, esse tempo se estendeu demais. Aos sete anos ele viu sua vida mudar completamente, quando finalmente fora adotado pelo casal Spencer, que casados há certo tempo, descobriram que Katie era estéril e para realizar seu sonho de ser mãe optou pela adoção. Contrariado, o senhor James Spencer não escondeu sua insatisfação, principalmente com a escolha das crianças. Ainda mais por serem negros. Isso mesmo que você leu. Ele odiou o fato de ter de adotar dois irmãos negros, mas cedeu para que sua esposa superasse a dor de não poder ser mãe. 

O menino cresceu sendo mimado pela mãe e menosprezado, na maior parte do tempo, pelo pai, que sempre lhe direcionou poucas palavras, enquanto com Olivia, ele se adaptou. A menina lhe "conquistou" de certa forma, com carisma e carinho, além da rapidez com que se conformou com a nova vida. Já Ronan, sempre fora ensinado a não odiar sua história. Enquanto a menina se aliava ao pai e a seus pensamentos, ele se aliara a sua mãe, que era bem melhor em caráter. A única coisa que Olivia não concordava com seu pai era a forma machista com a qual tratava sua mãe e no irmão isso piorava mais ainda sua relação com James. 

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora