Gato Morto

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Northigh era uma cidade isolada, localizada numa área que parecia uma serra, porém não chegava a isso. Os dias pareciam menores, pois bem cedo o sol se escondia entre os prédios e árvores. Dificilmente o sol brilhava forte e livre. Quase todas as manhãs a densa névoa deixava tudo esbranquiçado. Os invernos eram demasiadamente severos, chegava a ser um espetáculo. Neve, geada, frio, muito frio, calor humano era coisa rara. A população, que não chegava aos trinta mil, segundo apurado, era sempre muito reservada e misteriosa, como a própria arquitetura, que era carregada de um estilo barroco, um tanto gótico. Construções antigas, lembrava Londres, inclusive tinha uma torre com o relógio na igreja de São Nicolau. Esculturas de anjos, junto a gárgulas monstruosas. E mais elevada na cidade ficava a renomada Northigh School.

Todo o clima sombrio que pairava na cidade, combinava com as várias histórias que contavam. Não sei se todas eram reais, ou se eram apenas invenções assombrosas. Uma das que mais me chama atenção, vou contar para abrir bem esse capítulo.

Um jovem andava triste, caminhava naquele fim de tarde próximo ao Cemitério Central de Northigh. Cabisbaixo ele andava como quem acabara de sofrer por amor, ou algo parecido. Quando encontrou no chão um broche extremamente brilhante com pedras verdes. Intrigado, ele abaixou-se para pegar, porém, junto dele, uma linda jovem abaixava também para pegar o mesmo broche, pois era dela, foi o que ela disse. Então os dois conversaram durante metade da noite. Na hora da despedida, ela pediu que ele ficasse com o broche. Passaram-se dois dias. O jovem pegou o objeto e ao observar bem pode perceber que atrás tinha o nome dela e um telefone. Sentado numa lanchonete, ele pegou o celular e ligou, depois de três toques, uma senhora atendeu. Ele perguntou pela jovem e a resposta o surpreendeu. "Essa era minha filha..." E enquanto a senhora falava, ele pode vê-la do lado de fora da lanchonete, feliz ele sorriu pra ela; ela retribuiu. "Mas já faz cinco anos que eu a perdi. Minha filha morreu tão jovem." Quando ouviu aquilo, ele sentiu calafrio por todo o seu corpo, quando passou um carro, a imagem do espírito da garota desapareceu. Nunca mais se ouviu falar nesse jovem, uns dizem que ele saiu da cidade, outros, que ele ficou louco e se matou.

Sentiu a profundidade das histórias contadas por aqui? Agora o quanto de realidade tinha nelas, não sei. Deixo que você tire suas conclusões. O que quero que entenda é que histórias macabras são normais por aqui.

Voltando aonde paramos, realmente era apenas um sonho. Levantei assustado e não tinha ninguém no meu quarto. Ofegante, olhei no relógio e faltavam poucos minutos para a hora que eu marquei de acordar para mais um dia de trabalho na Northigh.

Cheguei um pouco mais cedo, porém era inevitável, assim que passei pelos portões, já olhei para o alto, o andar mais alto ficava com as cortinas fechadas, as janelas eram sujas, algumas estavam com os vidros quebrados. A escola ainda estava vazia, alguns funcionários ainda iam chegando, professores já iam organizando detalhes das suas aulas. Como eu só daria uma aula, aproveitei o tempo extra e decidi subir até o sétimo do prédio maior.

Chegar ao sexto andar, diante das escadas, voltou a despertar o medo em mim. Medo? Eu? Sim. O porquê não sei, pois não era qualquer coisa que me assustava. Mas a verdade era que algo dentro de mim, parecia me atrair, creio que minha curiosidade, que sempre foi mais forte que a do gato que morreu com ela. Então, num surto de coragem, ou doideira — já que eu sempre criticava os filmes de terror, onde os mocinhos sempre iam em direção ao perigo e nem ao menos acendiam as luzes — eu subi.

Naquela manhã, Ivena também acordou decidida a subir no sétimo andar, porém com intenções diferentes da minha. Eu queria só saber mais do mistério dali. Ela queria limpar, abrir as cortinas, as janelas, permitir que a luz do dia entrasse. A professora chegou mais cedo que eu, alguns minutos, estacionou o carro. (Não comentei, mas chegou a hora de revelar. Eu vou trabalhar com a minha bicicleta velha, que ganhei de tia Gertrudes, quando fiz doze anos. Porém, é pouco relevante.) A senhorita Hausen, assim que saiu do carro, teve a mesma reação que eu, olhou direto para o ponto mais alto, do prédio maior.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora