Herói Improvável

188 59 395
                                    

Medo, "uma sensação desagradável desencadeada pela percepção de perigo real ou imaginário". O que é o real e o que é o imaginário? Não importa no fim, pois os dois têm o poder de causar a mesma sensação. O medo pode ser bom, pois nos faz cautelosos, nos previne de situações perigosas, porém, ele pode ganhar formas poderosas, do tipo que domina você, te impede de fazer coisas, ou te faz fazer coisas involuntárias. Às vezes o medo nos protege, às vezes o medo nos segura, às vezes, nos mata.

Eu ainda me perguntava o que levou Mary-Anne a subir no sétimo andar, num horário onde o prédio maior, o da coruja assombrosa, não estava funcionando. Você deve estar ansioso para saber o que houve com Chelsea, eu sei, entretanto, peço que se acalme. Pois o caso de Mary-Anne ainda não foi superado por mim, precisamos ir devagar. Parte por parte. Por que ela não teve medo? A maioria dos alunos teria. Eles têm medo de subir até mesmo durante dias de aulas.

Sentado mais uma vez na sala do diretor Hausen, eu pensava "agora serei demitido, eu quero ser, preciso ser". Eu batia o pé no chão e as pontas dos dedos das mãos na mesa. Eu pensava em saber o que estava acontecendo lá fora, mas ao mesmo tempo só tinha vontade de ver logo o sr. Hausen entrando pela porta e dizer que eu estava fora.

— Já está na hora de agirmos, pai! Até quando vai esperar? — Entrou Ivena e o diretor, os tons de voz eram exaltados.

— E o que eu posso fazer agora? O que você acha que devo fazer? — Ele começou gritando, mas depois, sentou-se em sua cadeira. Passou as mãos no rosto e olhou para mim. Eu podia perceber que ele estava exausto e abatido. — Eu estou com medo. — o diretor Hausen ensaiou um choro diante de mim. — Eu sempre ouvi essas histórias, mas agora está me causando medo. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Faça o que quiser, Ivena! — disse ele, debruçando a cabeça na mesa.

— Você não vai se arrepender, sr. Hausen. Eu vou salvar essa escola. — Ivena bateu as mãos na mesa, depois, antes de se virar para sair da sala, olhou nos meus olhos. (por que ela faz isso? Direto nos olhos.) — Obrigado, sr. Goldberg. — depois de agradecer, ela saiu.

— O que ela irá fazer? — perguntei. Hausen levantou a cabeça.

— Ela vai criar uma espécie de programa de apoio a vida. — respondeu ele. "Só isso? Achei que mandariam derrubar o sétimo andar ou iriam me demitir". Pensei comigo.

— Interessante. Acho isso extremamente importante nesse momento, senhor. — disse eu. — Mas o que irão fazer com a aluna?

— Ela deve passar alguns dias em casa e depois retorna à escola. Quanto ao sétimo andar, nós recolocaremos a faixa de interdição, e eu espero que obedeçam a ordem de não a ultrapassarem. — o tom da última parte me pareceu ameaçador. Estranho. "Pobre coitado estava agora mesmo quase chorando diante de mim e agora está falando assim. Se eu tiver que subir, eu subirei."

— De fato, senhor. Serei o primeiro a ser exemplo para os alunos e... — eu travei. "Eu me demito." — Eu pretendo voltar ao meu trabalho o quanto antes. — Eu queria me demitir, mas eu precisava saber mais. O que Mary-Anne fazia lá? Quem é aquele menino? E o que era aquela imagem? Eu cumprimentei o sr. Hausen e então sai da sala. No momento que sai pela porta da direção, um grupo de alunos liderados por Olivia e acompanhados de uma jovem senhora me aplaudiu.

— Obrigada. Você salvou minha filha. — dizia a mulher vindo para me abraçar e em prantos ela o fazia.

Você ainda está querendo saber o que aconteceu lá em cima, não é mesmo? Eu gosto de deixar você curioso ou curiosa. Não adianta me insultar, eu não tenho como te ouvir. Mas chega de delongas. Voltemos ao sétimo andar. Na realidade, acho que somente eu sabia exatamente o que aconteceu ali. Eu não fui tão herói assim. Não sozinho.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora