Teorias

108 24 214
                                    

Ah! Eu entendo. O certo é você estar apreensivo com o final do último capítulo. Pela minha situação? Nem tanto, não é mesmo? Sim pela de Tyler e Wendy. Entretanto, eu ia lhe dar com pessoas. Percebem o peso disso? O que esperar delas? Tem umas que são boas, outras são ruins. Umas querem prejudicar ao próximo, outras prejudicam, sem querer, tentando fazer o bem. Raramente encontramos quem quer fazer o bem de graça e consegue. Eu te convenci que minha situação parecia mais complicada? Sempre ouvi Tia Gertrudes dizer "Não tenha medo dos mortos, pois piores são os que ainda vivem." Essa mulher é um ícone. Concorda? Assustadora e estranha, mas às vezes ela solta umas boas verdades.

O problema era que o maior perigo que existia no sétimo andar, não era bem um fantasma, um espírito de alguém morto que voltou. Porém, retomaremos isso depois.

A sala, com aquela mesa rodeada dos mais importantes professores da cidade, incluindo Ivena e o diretor Olliver Hausen, se tornou ameaçadora, pois no fundo, eu não tinha certeza se Olivia havia falado a verdade. Se ela estivesse mentindo e o delegado não houvesse enviado e-mail nenhum explicando o que houve, eles estariam prontos para me demitir e destruir para sempre minha carreira, mesmo que depois eu provasse que aquilo havia sido boato. Para que outro motivo eles estariam reunidos ali a me esperar?

— Bom dia, senhores. — disse eu, sem olhar diretamente para ninguém.

— Finalmente, sr. Goldberg. Sente-se. — pediu o diretor apontando para uma das cadeiras vazias. "É agora! Acabou para mim." pensei. — A nossa escola está muito grata pelos seus recentes serviços e seus atos heroicos, meu caro. Mas... — dizia ele, quando Ivena o interrompeu.

— Um simples agradecimento não pode pagar pela vida de uma de nossas alunas. — ela falava se colocando de pé. Eu senti o alívio, certamente Olivia falou a verdade e eu estava a salvo. — Os acionistas enviaram uma parte do valor, iremos iniciar a reforma no sétimo andar. — continuou ela, orgulhosa e muito feliz, já que havia conseguido o que queria.

— Então... — Interrompeu o senhor Hausen, fazendo um sinal sutil, pedindo que a filha se sentasse. — Utilizaremos o espaço das duas primeiras salas de lá para construir uma biblioteca com obras literárias e de entretenimento para os alunos. Já temos uma biblioteca na escola, mas só tem livros didáticos. O que acha de construirmos essa nova, com mais acesso e diversão aos nossos alunos? — perguntou ele. "Que diabos vocês têm na cabeça? Quero fugir desse sétimo andar e vocês querendo fazer algo assim?"

— Acho incrível, sr. Hausen. — respondi sorrindo.

— Ótimo. O professor Richard irá criar o desenho, amanhã já chamaremos o engenheiro e ainda nessa semana começaremos as obras. — disse o diretor se colocando de pé muito sorridente e satisfeito, assim como Ivena. Mas aí, pra variar, meu lado impulsivo brilhou.

— Estranho que até pouco tempo o senhor queria que todos estivessem longe do sétimo andar, então, do nada, decide fazer uma biblioteca de fácil acesso aos alunos. O que mudou, sr. Hausen? — eu não pensei antes, as palavras só foram saindo e o tom era de desconfiança. "Droga!" Depois de dizer aquilo, eu fiquei inquieto, me ajeitei mais na cadeira. "Por que eu não segurei a língua? Agora ele vai achar que desconfio dele." A verdade era que eu o achava tão vítima quanto eu, apesar de considerar estranho ele impedir as pessoas de acessarem o andar. Ivena olhou nos meus olhos, como que perguntando porque eu havia feito aquilo. Os outros professores, meio que concordaram, discordaram. O diretor escorou as mãos sobre a mesa e olhou diretamente para mim.

— Sua pergunta me pareceu insinuante, senhor Goldberg. Acha que tenho algo a esconder? — indagou. Antes que eu pudesse responder ele seguiu. — Amigos professores, eu já escondi algo desse grupo? — perguntou e todos negaram. — Não, pois todos nessa sala são como apoio para minha administração nessa escola, para que ela mantenha o alto nível e a ótima reputação pedagógica que tem. Se você, David Goldberg, está nessa sala é porque eu quero que faça parte dessa classe, a nata dos professores da cidade. Mesmo sendo novato, recém formado e muito intrometido. — dizia ele sorrindo. "Intrometido não." pensei. — Recebi ordens de uma das maiores acionistas para retomar as obras e até que fique pronta, permaneço com a ordem de que ninguém suba, apenas funcionários autorizados, que já devem começar amanhã mesmo a preparar o ambiente para receber a obra. — seguia falando o sr. Hausen. Ele é do tipo de pessoa que dá muitas voltas para dizer coisas bem simples. Essa é uma ótima forma de convencer o interlocutor pelo cansaço. — A obra envolverá a área das duas primeiras salas, fora isso, permanece interditado o resto do andar. E você, sr. Goldberg, será meus olhos para impedir que alunos passem do limite estabelecido. Receba a honra que oferecemos ou levante da mesa e saia, assim perdendo a oportunidade de tão cedo dar uma boa alavancada em sua carreira, estando ao lado dos melhores. — completou ele, que iniciava sua fala em um ritmo normal, porém, depois acelerava, como que para não dar tempo de você pensar. "Ok, David, levante e saia. A sua consciência te diz, saia." Era o que eu pensava.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora