O Forno (Parte I)

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Se você que está lendo é pai, ou mãe, sabe exatamente como é ver um pedacinho de si crescer e se tornar uma pessoa na qual você deposita total fé e esperança de que seja melhor que você. Se não, você é filho de alguém, no mínimo tem um responsável, alguém que cuida de você, preza por seu futuro. Talvez você não tenha ninguém, já não sei bem o que dizer dessa condição, mas pensemos na superproteção fraternal. Dela que tratarei nesse capítulo.

Enquanto todas as loucuras quebravam a família Spencer, eu estava recebendo uma notícia um tanto quanto surpreendente sobre meu passado, algo que me desestruturou, mais assombroso foi saber que Gertrudes já desconfiava de tudo aquilo, mas a teoria dela é ainda mais louca que a da agente Ferguson. Mas retomarei isso mais adiante. Antes quero falar sobre pais absurdamente protetores.

Tyler Ross, como já sabemos, sempre fora o menino de ouro para qualquer pessoa que o conhecia. Extremamente educado, cativava a todos. Chegou a ter amizade com o menino considerado por todos os outros alunos o mais insuportável, o já falecido Michael Hausen Jr. Era impossível não pensar num bom futuro para o menino Ross. Mas aquela educação fora criada de forma rígida.

Aos quatro anos, quando estava no auge da infância, vira seu pai construir um grandioso forno à lenha. Logo bem cedo ele acordava para ver com admiração seu pai construir pouco a pouco aquele enorme forno onde eles ganharia suas vidas vendendo pão.

Um pouco mais tarde, estava nas ruas com seu pai a vender os pães que bem cedo eles assavam. O menino adorava o cheiro de pães frescos e recém-assados, por isso tão novo já acordava ainda antes do raiar do sol para acompanhar o senhor Ross e comemorava a cada pão vendido, pois ele dizia que a cada moeda, ficava mais próximo de se tornar um astronauta. Ele amava, e ainda ama, as estrelas, adorava o universo. Sonhava em comprar um telescópio para ver o céu.

Os Ross sempre foram muito religiosos, iam todos os domingos à igreja, eram fiéis e muito rígidos com todas as escolhas. O que era bom, o ambiente da humilde casa no fim da Estrada Grand Eagle, o local mais pobre da próspera cidade de Northigh.

Quando Tyler completou seu décimo ano, ganhou um helicóptero de controle remoto com o qual também sempre sonhara, queria tanto quanto ao telescópio, entretanto o brinquedo que pôde, foi o que ganhou. Ele ficou feliz demais e brincou quase que uma tarde inteira, até que por acidente, perdeu o controle e viu o seu amado helicóptero chocar-se com o artefato mais antigo da descendência. Um belíssimo relógio de parede antigo e provavelmente muito caro. Temeu muito catando todos os cacos de vidro que se espalharam pelo chão. Ele sabia que seu pai não era de brigar, ou agredir, porém naquela situação ele só esperava o pior. Sua mãe como sempre tentouo ajudar, mas deixou claro que teria de falar a verdade para o pai.

Quando Peter Ross chegou a sua casa, logo reparou o vidro do grandioso relógio com um buraco.

— Você fez isso, Tyler? — indagou furioso o homem. — Como pode ser tão descuidado? Ficará de castigo. — ele puxou o filho até os fundos da casa e ao chegar lá, abriu o forno à lenha que criara e trancou o filho ali.

O pequeno Tyler ficara encolhido, esperando o tempo de castigo que ele nem sabia quando se findaria. Ele tremia de medo de seu pai o esquecer e acender o forno. Tinha certeza que o papai Ross não acenderia por mal.

Após passar quase duas horas inteiras dentro daquele forno, Tyler chegou a adormecer e despertou quando ouviu a mãe destravando o forno. Ela dizia que o castigo havia acabado e que o pai estaria lhe esperando para catar lenha. Quando encontrou o pai, ele só soube correr e aos prantos abraçá-lo. Naquele instante Peter Ross teve certeza de que seu filho era especial. Desde então, nunca mais Tyler havia ficado de castigo, até sua mãe descobrir seu envolvimento com todo o alvoroço na Northigh School.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora