Vivo-Morto

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Ser criança é muito bom. Já parou para lembrar da infância hoje? Não sei quanto tempo se passou desde a última vez que você ralou o joelho ao cair no chão no meio de uma brincadeira, ou se aventurou com seu brinquedo favorito, nem mesmo sei se você fez alguma dessas coisas em algum momento de sua jornada. Mas de uma coisa eu tenho certeza, você sente falta de algum momento específico de seu passado.

Eu me lembro do dia exato em que eu estava aprendendo a andar de bicicleta, com auxílio de meu pai. Você certamente já leu coisas incríveis que faziam analogia ao momento em que você sentiu a liberdade de andar pela primeira vez sem a rodinha e sem ninguém segurar você. Mas eu não tenho nada bonito a dizer. Até porque como vocês já sabem, eu fui uma criança muito medrosa e infelizmente não consegui segurança naquele dia para tirar as rodinhas, pois na primeira tentativa, eu cai próximo a um poste na pracinha, no meio de sacos de lixo. Durante muito tempo a bicicleta ficou largada, até o dia em que percebi todas as outras crianças na rua apostando corridas com a sua. Eu estava ficando para trás, eu estava estagnado, então... Naquele dia eu continuei com medo. O dia em que criei realmente coragem, cinco anos depois, foi o dia em que eu estava sozinho em casa e tia Gertrudes ligou desesperada, dizendo que precisava de ajuda, eu não sabia dirigir, na garagem tinha a bicicleta, o carro e um gato. Não, não peguei o gato. Não tive escolha, superei o trauma e fui. Chegando lá, ela só queria alguém para ajudar a carregar as compras.

Porque essa história? Eu digo, a vida é o tempo inteiro essa evolução, se você não tiver uma motivação, você pode ficar estagnado. A vida é uma brincadeira de criança, se não tiver a inocência de uma para se aventurar nos desafios, não está vivendo. Acabou que ficou uma reflexão bonita. O que acha?

Mas toda essa minha falácia desnecessária, foi para te dar tempo para respirar, pois as próximas cenas que irei descrever, serão tensas e loucas. Prepare-se!

O que posso dizer sobre estar naquele abraço? Muita coisa na minha vida era como uma terra árida, um deserto sem fim. Perder meus pais ainda sendo tão novo, de um modo tão... Horrível, tornou-me assim. Mas aquilo viria para começar a mudar tudo. Eu não tive medo dele, não tive nenhum receio de ser abraçado, porém, também não conseguia retribuir, pois aquele ser estava a me atacar e eu não sabia o que iria me causar.

- Eu não quero que você morra! - gritava o menino, enquanto chorava copiosamente. Eu comecei a ser contagiado por aquilo e tive de segurar o choro. Já disse que sou chorão?

A entidade que estava diante de mim, mudou sua forma e tornou-se como uma sombra e com um grito de dor pareceu fugir dali.

Eu abaixei, me ajoelhei no chão, podendo olhar nos olhos dele, eles não estavam mais vazios como no primeiro dia que o vi, mas, molhados, expressavam alívio e ele respirava ofegante.

- Você... Você não... - eu não conseguia terminar a fala. Ele levantou a mão direita e lentamente aproximou do meu rosto e quando tocou, ele sorriu, revelando que os últimos dentes de leite caíram, pois faltava um bem na frente. Eu não sabia se chorava ou o acompanhava em uma risada, mas o abracei outra vez. Sim, pude sentir seu coração bater. - Olha pra mim. Qual é o seu nome? - eu segurava seus ombros e esperava alguma resposta, mas ele apenas me olhava admirado. - Vem! Vamos sair daqui! - tentei o puxar para a saída, mas ele forçou o braço.

- Eu não posso sair assim. Pode ser perigoso. Ele vai atrás de mim. - respondeu o menino, olhando para trás já preocupado com a possibilidade de aquele ser voltar.

- Vou te tirar daqui agora mesmo. - disse eu, voltando a puxar o menino e quando já ia passando pelo portão, algo puxou a perna dele.

Por um descuido, a mão dele escapou da minha e ele foi arrastado. Ele ia gritando. Corri para ajudá-lo, mas quando ia passar pela terceira porta, alguém a abriu. Era Lolita com Ronan segurando em seus ombros.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora