Pelo Menino

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Gertrudes tentava acalmar o menino e o segurava de lado, tentando controlar a convulsão, mas além de estar tremendo, o menino estava queimando em febre e seus olhos estavam virando.

- Reage! Reaja, menino! - gritava a minha tia, fazendo tudo que podia para controlar a situação.

Quando enfim a convulsão foi controlada, o menino se contorceu, parecendo estar sentindo muita dor. Ele começou a gritar em agonia.

- Toda enfermidade espiritual, saia agora dele! É o que eu ordeno em nome do pai, do filho e do... - orava Gertrudes, quando o menino chegou até ela se arrastando e segurando em sua roupa.

- Tira isso de mim! - ele gritou muito alto e perdeu a consciência. Ela viu uma sombra nos olhos inundados de Samuel, creio que tal coisa tornavam os olhos dele vazios, era como se aquela coisa, mesmo a distancia estivesse sugando-lhe a vida pouco a pouco.

A senhora o deixou na cama e pegou o telefone que estava num pequeno armário que ficava no corredor, enfeitado com um jarro de flores falsas.

- David? - ela me chamou, ao ouvir que eu atendi. - O menino... Ele está morrendo. - disse ela com a voz embargada.

Eu fiquei parado, olhando para Ivena, que esperava que eu dissesse algo positivo, que eu dissesse que estava tudo bem. Tentei controlar a expressão, não sabia o que falar, senti um nó tapando minha garganta.

- Está tudo bem com ele? Fala, David! - a professora estava ansiosa por uma resposta.

- Estou indo. - Foi tudo que consegui dizer.

- O que está acontecendo? Você pode me dizer? - indagou Ivena, mas eu não respondia, quando dei as costas, pensei que ir de bicicleta poderia ser muito demorado.

- Você me empresta seu carro? - perguntei.

- Eu não vou emprestar nada, David, se você não for sincero e me disser o que está acontecendo com aquele menino, que é meu filho.

- Ele está passando mal e minha tia não sabe o que fazer. Preciso ir o mais rápido o possível. - tentei o máximo possível não expor minha tensão a ela.

- Eu vou junto com você.

- Não. As aulas voltam amanhã, você precisa cuidar da escola e do grande problema que temos. Confia em mim. Eu cuido dele. - tentei passar credibilidade.

Ivena se levantou, caminhou até mim e me abraçou. Eu demorei a reagir, demorei a retribuir aquele abraço, pois eu estava tenso e nem devia estar mais ali, porém, se eu saísse desesperado, ela notaria que havia algo muito errado. A professora se afastou lentamente de mim, olhou nos meus olhos.

- Eu confio. - disse ela, depois me deu um beijo rápido. É isso mesmo, caro leitor, Ivena Hausen me beijou, não foi bem um beijo de verdade, daqueles demorados e cheios de calor, mas foi algo de coração e cheio de sentimentos. - Sei que ele está seguro com você. - disse ela me dando outro abraço e depositando uma confiança gigante em mim, foi como um fardo pesado nas minhas costas.

Eu não sabia até que ponto a frase "ele está morrendo" poderia ser real, na minha cabeça, tentei levar aquilo da maneira leve o possível. Minha tia era algumas vezes exagerada, mas a voz dela, a voz dela era de quem estava realmente sentindo a dor de perder alguém, então, quando estava sozinho no carro, mesmo dirigindo, eu chorei. Não podia ser verdade, não podia ser! Por que aquele menino precisava morrer? "Se ele realmente morrer..."

- Porra! Porra, porra, porra! Malditos! - eu soltava o que estava prendendo minha garganta pelas lágrimas e pelos socos que eu dava no volante.

Descendo a ladeira da escola, eu acelerava o máximo que podia, quando cheguei na esquina que dava na minha rua, eu fiz a curva e acelerei. Eu tinha pouco tempo, então estacionei o carro de qualquer jeito e corri para bater na porta de casa, pois na pressa, não peguei minha bolsa, onde eu havia deixado minha chave e todas as trancas estavam fechadas, assim como pedi que minha tia deixasse.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora