Último Recurso (Parte 2)

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O que falar sobre a religião em Northigh? Existem duas igrejas, uma bem no centro da cidade, a que tinha o grande relógio, como o grande Big Ben de Londres (é uma comparação injusta, sei), essa era a Igreja de São Nicolau, não sabia muito sobre ela, pois conhecia mais a Igreja Cristã da União, onde tia Gertrudes costumava ir, assim como as famílias Spencer e Galarad, que até semestre passado eram os líderes principais. O antigo reverendo Galarad, pai de Chelsea, era uma espécie de religioso ditador, qualquer ato de fiéis que fosse contra as regras impostas por ele, ocasionava em exclusões, às vezes não só da igreja, mas da cidade. Ele era o tipo que culpava os demônios por tudo. Em suas sessões desnecessárias de exorcismo agredia e humilhava pessoas. O Conselho Nacional da Igreja Cristã da União decidiu afastá-lo do cargo depois do que aconteceu no ano passado.

Um jovem chegou com seus pais ao gabinete do reverendo Galarad, eles alegavam que espíritos assombravam o quarto do jovem. O reverendo ao ouvir aquela história, não pensou duas vezes, iniciou as sessões de exorcismo. Entretanto, nada mudava e o garoto seguia vendo os espíritos e ouvindo vozes. Os pais decidiram levá-lo a um psiquiatra e a resposta foi que o filho tinha esquizofrenia, por isso ouvia vozes e achava que via espíritos. Revoltados com o diagnóstico médico, eles voltaram às sessões de exorcismo do sr. Galarad. Então, como nada funcionava, sumiram com o menino, ele desapareceu por semanas, até acharem seu corpo à margem do lago da cidade. Os pais, estranhamente, alegaram suicídio e a investigação parou, porém, ainda assim, o Conselho achou errada a forma como Galarad lidou com a situação e o afastou. Por isso o termo "último recurso" utilizado por tia Gertrudes me assustou.

O novo reverendo, Richard Pérez, um espanhol, era jovem e tinha uma visão muito mais aberta das coisas, além disso tinha muito mais carisma e consciência. Claro, isso não agradava os mais conservadores e engessados na religiosidade pregada por Galarad, como a tia Gertrudes, por isso nos últimos tempos a igreja tem estado cada vez mais vazia, como relata minha inconformada tia.

Eu estava desesperado, quando encontrei Olivia na saída da escola. Ela, que era líder de torcida, estava com pressa, pois iria com o time de basquete para o jogo mais tarde.

— Ei! — gritei buzinando. Olivia olhou e sorriu.

— Olá, querido professor! — disse ela debruçando na janela do carro.

— Você sabe onde Chelsea mora? Poderia me levar até lá? — perguntei, achando no mínimo estranho como Olivia estava debruçada.

— Até poderia fazer isso, porém, mais tarde tenho que estar no jogo, na cidade vizinha. Vai me deixar lá? — perguntou ela. Eu não gostava de Olivia, seu jeito era insuportável. "Claro que não."

— Sim, mas temos que ser rápidos! — exclamei. Eu não tinha escolha, precisava ser rápido e como ela foi a primeira que vi, iria com ela mesmo. Olivia deu a volta, entrou no carro e partimos.

Eu não reparei, mas na saída da escola, Jonathan Hamilton estava olhando, ele viu a forma como Olivia agiu, achou duvidoso. Uma aluna se postar daquela forma diante do carro de um professor e depois sair com ele. O menino, desconfiado, voltou para o prédio menor, certamente ia em direção à sala de Hausen.

Não troquei uma palavra sequer com Olivia durante o caminho, só ouvia ela dizendo para onde eu devia ir. Finalmente chegamos à rua Firefox, lugar onde moravam as mais importantes e ricas famílias de Northigh. Paramos na frente da mansão dos Galarad, era muito bela, arquitetura rústica, com detalhes de madeira, os portões de grade eram altos e em cada coluna do grande muro, uma gárgula.

— Essa é a casa dela. — disse Olivia, descendo do carro. Eu corri até o portão e toquei o interfone. — Por que está tão nervoso, prof? O que houve com ela? — Olivia perguntava, porém, eu a ignorava e seguia apertando o botão do interfone.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora