Minha Voz

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Você já reparou que se olharmos de cima, de uma altura considerável, todos parecerão iguais. Não daria para você saber quem é quem. Eu posso estar viajando? Posso. Mas quando você estuda a evolução da sociedade, você percebe que as pessoas gostam de passar por cima de outras, gostam de diminuir quem quer que for para ter razão, para ter o que quer. E no fim, ninguém será diferente de ninguém, restará o pó.

Pense comigo, tudo evoluí. Os momentos são como o rio, correm sem parar... Acho que estou a parafrasear alguém, porém, enfim... Só não evoluí o ser humano que continua a achar que o próximo, por ser diferente, é menor ou menos importante, ou que merece menos direitos. Como era o caso de James Spencer e algumas outras pessoas em Northigh.

Assim que Ronan saiu de casa daquela forma, Margareth saiu do quintal da residência dos Spencer, sentindo-se humilhada. Ela olhou para Katie que chorava copiosamente, jogada na grama.

- Não temos nada o que fazer aqui. Eu só trouxe desgraça a essa família. Mesmo assim, obrigada, meu querido. - disse ela chegando até o carro de Travor, antes de entrar bateu levemente nos ombros do sobrinho.

- Ronan não precisa da senhora? - indagou Travor, entrando no carro e ajeitando-se no banco do motorista, enquanto sua tia já estava a fechar a porta do lado do carona.

- Ele ficará bem. - ela olhou pela janela e suspirou. - Eles saíram de mim, porém, não são meus.

- Por que a senhora pediu que eu mentisse a respeito do irmão dele? - perguntou Travor, fazendo referência ao fato de anteriormente ter dito que o tal irmão gêmeo viveu até os seis anos e morreu de fome, o que não era verdade.

- Eu pensei por um momento que não devia despejar a... - um disparo silencioso atravessou o vidro da porta do carona e atingiu a cabeça de Margareth. Travor ficou pálido, olhou para todos os lados.

A rua Firefox estava tão vazia como sempre costumava estar. A casa de onde, em teoria teria sido efetuado o disparo, estava escura, nenhuma luz estava acesa. Então outro disparo, quebrou mais um pouco do vidro, mas não o atingiu, porque sua tia caiu para sua direção. Desesperado, o menino tentou dar partida no carro, mas como já era velho, não funcionou de início. Mais um tiro, mais estilhaços de vidro se espalharam pelo carro. Finalmente depois de tentar dar partida três vezes, o carro andou e nervoso o menino não poupou o acelerador, saindo logo dali.

Quando Katie e Olivia entraram em casa, James, possivelmente já estava em seu escritório. As duas não trocaram uma palavra, a menina se sentou a mesa e viu sua mãe arrumando a bolsa.

- Olha... - Olivia tentou dizer algo, mas um nó em sua garganta queria a impedir. - Eu... A perdoou. - Katie olhou nos olhos da filha e largou o que fazia para lhe dar um abraço forte, onde as duas choraram juntas. - Mãe, preciso lhe contar o que está acontecendo com o Ron. - disse a menina e começou a contar tudo que sabia, sobre o preconceito que ele também sofria na escola, dos contatos com Travor e das visões que ele estava voltando a ter. Ao ouvir tudo aquilo, a mãe voltou a abraçar calorosamente a filha.

- Escolheu o lugar errado para destilar seu veneno. - chegava James e olhando a cena da mãe com a filha.

- Não sabe o que diz, James. - disse Katie soltando Olivia e olhando para o esposo.

- Durante anos você mentiu para mim. Você disse que amou aquelas crianças negras e pobres, imundas, assim que as viu, mas era tudo armado. Era tudo mentira. Tudo isso é uma mentira. - gritava James, muito alterado. Katie olhou para Olivia, que claramente sentira as palavras do pai, fechou os olhos e cerrou os lábios, enquanto uma lágrima descia em seu rosto.

- O que é mentira? Que eu amo meus filhos? Nunca isso foi mentira, James, pois eu os amo mais que tudo nessa vida independente de qualquer coisa. - ela falava tranquilamente se aproximando dele. - Agora será que essa casa e tudo que você enche a boca para dizer que conquistou, será que tudo isso é verdade? - Katie já estava bem próxima, falava entre os dentes. - Você acha que não sei como conquistou? - nesse momento ele deu uma bofetada no rosto dela. Olivia ameaçou levantar, quando ouviu o que acontecera, mas não conseguiu pisar com firmeza no chão.

O Fantasma da NorthighOnde histórias criam vida. Descubra agora