Capítulo 3

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    Estou cansada de ficar dentro desse quarto. As paredes parecem se fechar ao meu redor. Eu só queria voltar para casa, ter a porra da minha vida de volta. Fugir daqui é impossível. A única porta que dá acesso para sair fica o tempo todo trancada.

   Hoje é domingo, o que significa que estou aqui há uma semana. Alguém lá na minha cidade já deve ter estranhando nosso sumiço. O que será que Heduarda está pensando? Sinto falta dela. Sinto falta das minhas galinhas. Filomena deve estar sentindo minha falta, ela é a minha galinha preferida. 

   Hoje é folga da Beth. Ela é um doce de pessoa,  sempre me obrigando a comer, mesmo que no final eu ponha tudo para fora.
  Rolo na cama e abro os olhos. As gotas de chuva batem furiosas contra a enorme janela. Os raios riscam o céu. Eu amo chuva, mas os trovões deixam-me com medo. Tio Samuel nunca me deixou banhar na chuva, ele quase não me deixava fazer nada. Só de pensar nele meus olhos ardem. Rezo para que Nikolai esteja errado sobre meu tio ser um estuprador. Ele não seria capaz de fazer isso, mas por outro lado eu sinto que vou me decepcionar. Tudo é tão confuso.

   Já falei pra você que sonhei com o Nikolai? Foi totalmente errado e prazeroso ao mesmo tempo. Nunca tive um sonho daquele. Lábios, língua, dedos, gemidos roucos, puxão de cabelo. Era só um sonho sexual, mas que parecia totalmente real. Acordar ofegante e com uma pressão alucinante no meio das pernas não estava nos meus planos. Mas não posso negar, Nikolai é um homem gostoso. Aqueles olhos sombrios, os lábios cheios e convidativos. Isso deve ser os hormônios da gravidez, não é? Já ouvi falar disso.

  Apesar daquele corpo sexy sei que por trás ele não passa de um homem quebrado.

  Um trovão traz-me de volta a realidade. Meus olhos passam por todo o quarto. A mobília clara, a janela de vidro que vai do teto ao chão, o pequeno lustre pendurado. Tudo tão luxuoso para um homem só. Digo só porque a única presença e vozes que escuto são de Beth, Dylan e Nikolai.

    Levanto da cama e pego minha calça. Beth lavou as roupas com que cheguei e passou. Visto a blusa e a calça, o cheirinho de amaciante é gostoso e delicado. Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo.

    Abro a porta e saio para o corredor. Dessa vez presto atenção nas fotos que emolduram as paredes. O primeiro quadro mostra Nikolai com um homem parecido com ele, só que com olhos mais claros. O outro mostra ele mais novo com várias crianças. Os outros três quadros mostram ele com uma mulher de cabelo rosa, uma mulher que parece ser a mãe dele e o último é uma foto da família reunida. Chego mais perto e vejo um rosto familiar, mas não sei quem é.

  Suspiro e faço o caminho até a cozinha. Tudo em aço inox e de última geração. Abro a geladeira e pego um iogurte de morango com aveia.

  Depois que como eu faço um tour pelo gigantesco apartamento. Vários quartos do mesmo modelo e tamanho. Uma academia, sala de jantar, sala de cinema. Então é verdade quando dizem que o crime deixa as pessoas ricas.

  Paro em frente a uma porta de vidro escuro. Ela desliza fácil quando abro-a. Um escritório.

   Sei que é errado, mas minha curiosidade falou mais alto.

   O lugar não é diferente do luxo encontrado nos outros cômodos. A mesa de vidro contém um daqueles notebooks com uma maçã e alguns porta retratos. A mesma mulher, só que com o cabelo azul dessa vez; a mãe dele (eu acho) e uma menina de cabelos escuros e olhos azuis.

   Noto as estantes com diversos livros. Heduarda iria adorar. Passo os dedos pelas lombadas. Livros de contabilidade, poesia, alguns romances. Um livro sobre bebês me chama atenção. Tiro-o da estante.

Cuidados com o início da gravidez.

   Sento no chão e folheio o livro. Algumas partes estão marcadas com caneta.

Depois do Perigo #4 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora