Capítulo 16

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Finalmente parou de chover, foram dois dia de uma intensa chuva e ventos fortes. Mas a chuva não afetava tanto nossa estadia na casa, as mulheres e eu conversávamos mais que uma dúzia de periquitos quando encontram um pé de manga. Nossos homens, ah nossos homens, cavalheiros natos, sempre prestando seus serviços a nós. O amor que cada um demonstra é tão bonito, aqueles homens amam intensamente.

O telefone da sala toca e eu crio coragem para ir até lá. A médica disse que eu não devo ficar muito sentada, me exercitar mais.

— Alô?

— Olha aqui sua rapariga, estou te esperando na minha casa ainda hoje! Traga as gringas, ou então vou até aí te buscar e não vai ficar bonito.

E com isso Heduarda desliga. Maluca!

Encontro os homens na cozinha. Me assusto com tanta beleza em um só lugar.

— Com licença?

Todos os pares de olhos caem em  mim e sinto meu rosto esquentar.

— Eu...As moças e eu iremos na cidade — falo.

— Sem chance — todos dizem juntos.

— A gente só vai na casa da minha amiga.

—  Não — dizem juntos de novo.

Respiro fundo.

-– Vou chamar elas, aí decidimos — digo.

Me viro e sorrio ao escutar um coro de vozes chamando meu nome.

— Não chame — Dylan diz — Conheço essas mulheres, vão começar a discutir e não vai ser fácil.

— Vocês podem ir, mas vão voltar antes das onze — Andrey fala.

Heduarda adorou conhecer as meninas, sorte dela saber falar inglês. Heduarda meio que esqueceu que eu estava presente ali, parecia que Kristana era sua nova melhor amiga, duas doidas juntas não dá certo.

Passamos a tarde toda fazendo maratona de filmes e comendo. Sem brincadeira, Kristana fez um limpa na geladeira.

Os pais de Heduarda foram para Brasília e só voltariam semana que vêm, fiquei triste, eu queria vê-los.

O celular de Madelaine toca pela quinta vez. Isso está me irritando.

— Atende e depois você volta — Sophie diz para ela.

— Já volto.

Madelaine sai e a Heduarda encosta a cabeça no meu ombro.

— Não gostei dela — diz baixo.

— Eu também não.

— Sério mesmo, tem uma coisa nela que eu não gosto. Toma cuidado.

— Como assim? - pergunto.

—  Só tenha cuidado.

Rachel sugere um novo filme de terror. A ruiva ama terror, e Deus me livre, é bem provável que eu faça xixi  na roupa de medo.

— Pânico na floresta! — Heduarda grita e meus tímpanos quase explodem.

— Não! Odeio aqueles canibais — Diana intervém e eu apoio ela.

Ficamos discutindo qual filme iríamos assistir. Sophie e Rachel queriam assistir Sexta Feira 13, Diana e eu queríamos Uma linda mulher. Discussão vai, discussão vem, acabou sendo escolhido Barbie e o Portal Secreto. Como isso aconteceu? Não sei.

Madelaine volta e sinto uma sensação ruim. Estremeço.

— O que foi? — Heduarda pergunta.

— Nada.

  Voltamos a assistir o filme.

O som da voz maravilhosa do Gusttavo Lima ecoava pelas caixas de som. Estamos em uma pequena boate no centro da cidade, idéia de  quem? Kristana.

Somos um grupo diferente, isso não se pode negar. Kristana e eu pedimos suco e as garotas pediram vodca.

Já são quase meia noite e nossos celulares não param de tocar.

Diana e Rachel são as que mais estão animadas.

— Essa música é muito boa, mesmo eu não entendo nada — Sophie diz.

— É sertanejo, parecido com a música country — falo.

A variação dos estilos musicais estava bom. A alegria das meninas era boa.

A porção de frango que pedimos sumiu rapidamente.

De repente toda a aura do lugar muda. Os nossos olhares são atraídos ao mesmo tempo para a entrada da boate. Aqueles cinco homens, parados nos olhando de uma forma que não sei explicar, não parecem nada felizes.

—  Estamos ferradas — Diana meio que ri e fala ao mesmo tempo.

Nossos homens caminham até e minha ansiedade me corrói. A cara de Nikolai não está nada boa, assim como a dos outros. Mas porque toda essa irritação? A gente só saiu pra se divertir.

  Afasto-me um pouco das meninas.

— Porque não atendeu minhas ligações? — Nikolai pergunta irritado.

— Não achei necessário, estamos nos divertindo.

— Você bebeu?

— Só suco. Não precisa ficar assim, estou bem.

Nikolai encosta a testa na minha.

— No tipo de mundo que vivo, todo cuidado é pouco — ele diz — Sempre que eu ligar, atenda.

— Está bem.

  Ele me abraça e apóia o queixo na minha cabeça. Olho para o lado. Dylan está dançando com Sophie, Ivan está acariciando a enorme barriga de Kristana, ela sorri quando ele fala algo em seu ouvido.

Rachel está chorando no ombro de Yuri.

— Ela está à cada dia mais parecida com o Alec — Rachel diz — Anne tem tudo o que quer, não entendo isso...

Ela chora e Yuri beija sua bochecha e diz algo em seu ouvido. Parece que ela está tendo problemas com a filha, e o outro filho dela está do lado da irmã, os dois não quiseram vir.

— Podemos ir? — Andrey pergunta. Diana está jogada em seu ombro, ela canta um versão desafinada de All I Want.

Sorrio. Procuro Heduarda e digo que já vamos embora.

Deixamos minha amiga na casa dela e voltamos para o sítio.

Termino de vestir uma calça de moletom e vou para a sala, onde todos estão reunidos. O sono sumiu dos nossos corpos.

— Madelaine não vai se juntar à nós? — Diana pergunta.

—  Ela está dormindo — Sophie responde.

Apoio às mãos nos ombros de Nikolai.

— Vou caminhar um pouco lá fora.

— Irei com você, assim que eu terminar de conversar com Ivan — ele diz.

Saio pela porta dos fundos.

O vento frio e a noite estrelada me acompanham enquanto ando pelo terreno. Faz muito tempo que não sinto essa sensação de liberdade.

Para perto da ribanceira do rio. A chuva aumentou o volume de água do rio. Fico observando o fluxo rápido da água e os galhos sendo levados pela correnteza.

Escuto a voz de Nikolai ao longe, acho que andei demais.

- Estou aqui!

Um impulso no meu ombro e sinto que meu corpo fica leve. Solto um grito alto quando minha mente processa que estou caindo.

O choque que meu corpo faz com a água é doloroso. A correnteza me leva. Minhas pernas e braços parecem não funcionar.

Algo duro se choca contra minha cabeça. Meu bebê, é a única coisa que eu penso quando tudo escurece.

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Depois do Perigo #4 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora