Capítulo 6

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Eu me sentia estranha. Talvez fosse pela presença dos dois homens armados dentro do carro, ou fosse pela presença de Nikolai ao meu lado. Iremos em um shopping comprar roupas decentes para mim. Desde ontem ele não fala comigo, mas em cada canto que vou, sinto o olhar dele.

Beth me disse para escolher roupas mais leves e confortáveis. Com o tempo meu corpo mudaria muito, ela também disse para comprar roupas de inverno. Chicago faz frio as vezes.

  Uma parte em mim ficou decepcionada ao descobrir que Nikolai tem uma noiva. Mas por que fiquei assim? Nikolai mexe comigo, isso não tem como negar. Desejo, isso deve definir o que estou sentindo. Cada palavra que ele diz sobre assuntos mafiosos para os homens no carro me deixa excitada. A ordem imposta em sua voz, o timbre vocal atinge em cheio meu núcleo. A pressão no meio das pernas não ajuda em nada.

— Vai demorar muito? - pergunto. 

    Ele para de falar e ergue uma sobrancelha.

— Odeio ser interrompido.

— Eu odeio várias coisas e não reclamo -
— retruco — Vai demorar muito?

  Ele morde o lábio e aquilo me faz remexer no banco.

— Está se sentindo bem? - noto preocupação em sua voz.

  NÃO ESTOU NADA BEM! ESTOU COM UM TESÃO DOS INFERNOS E NÃO POSSO FAZER NADA.

  Era isso o que eu queria dizer, mas em vez disso eu digo:

— O movimento do carro está me deixando enjoada.

— Já chegamos senhor - o que está dirigindo diz.

   Fico agradecida quando Nikolai tira o cinto. Faço o mesmo com o meu. Os dois da frente saem e Nikolai pega uma arma no carro console do carro.

— O que vai fazer com isso?

— Atirar em todos que estiverem dentro do shopping? — ele ri — Isso se chama prevenção. Nunca se sabe quando o perigo está por perto. Vamos lá.

   O lugar é enorme de grande. São tantas lojas que perco a conta. O shopping de Rio Verde não é nada em comparação a esse. Algumas crianças passam correndo por nós e Nikolai segura minha mão, puxando-me fora do alcance dos pestinhas.

— Cuidado por onde anda — ele diz e solta minha mão.

   Posso não vê-los, mas sei que os seguranças de Nikolai estão por perto.

  Paramos em frente a uma loja. Prada. Já ouvi Heduarda falar dessa marca. Muito caro. Olho de esguelha para Nikolai, mas ele está vidrado na tela do celular.

— Pode ir — ele diz — Escolha o que quiser.

— Mas...

   Ele vira e segue em direção a praça de alimentação. Idiota. Um armário entra comigo na loja. O homem musculoso me dá arrepios.

   De início nenhuma das três atendentes me notam. Isso me irrita. Faço um barulho com a garganta e uma loira me olha. Seu olhar é de nojo. Ela vem até mim e olha-me de cima a baixo.

— As lojas com descontos fica no andar de cima — ela diz e sorri cínica.

— Quero comprar aqui.

   Ela faz um barulhinho irritante e joga os cabelos para trás.

— Sabemos que uma pessoa como você não tem condições de pagar por uma peça dessa loja.

— Uma pessoa como eu?  — pergunto.

— É, negra, pobre, burra. Quer mais adjetivos?

  Minha respiração trava. As palavras dela não deveriam me atingir desse jeito. Tio Samuel  me disse que por causa da minha cor eu sempre seria descriminada, ele me ensinou a nunca acreditar no que as pessoas dissessem, por que eu era linda de qualquer forma. Observei a mulher na minha frente. Está usando uma saia preta na altura dos joelhos, uma camisa branca e saltos altos. Olho para mim, calça jeans, sapatilhas surradas e uma camisa do Nikolai.

Depois do Perigo #4 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora