Hoje completo quatro meses de gravidez. É uma sensação maravilhosa, poder tocar no pequeno volume que está crescendo em minha barriga. Serei mãe de um menino, descobri o sexo ontem, Sophie foi comigo. Ela tem se mostrado uma ótima amiga. Nós nos vemos pouco, mas sempre que ela vêm eu fico mais animada. Essa estadia no apartamento de Nikolai não está dando certo, cada vez que o vejo sinto vontade de matá-lo. Os gemidos no meio da madrugada acabam com o meu sono. Escutar a bruxa loira gemendo é horrível! Pior ainda é ouvir quando ele geme, aquele som quase me faz andar pelas paredes.
Alissa tem frequentado mais o apartamento. As ofensas ainda são constantes, mas me acostumei. Se há cada vez que ela me ofendesse, e eu pudesse socar o rosto dela, Alissa teria o rosto destruído e eu teria minhas mãos acabadas.
Observando as gotas se chocarem contra a janela eu me pego pensando na minha antiga vida. Não tive um crescimento normal como o das outras crianças, fui privada de ir a escola, nunca tive muitos amigos. Tio Samuel foi um homem muito rígido comigo. Ele nunca me agrediu fisicamente, sempre resolvia as coisas no diálogo. Eu não tinha entendido muito bem o porque de nos mudarmos à cada trimestre. Era sempre uma cidade no interior diferente, pouca comunicação com o mundo, sem acesso a nada.
Acaricio minha barriga e escuto a porta abrir. Meu primeiro instinto é levantar ao ver que é Alissa entrando no quarto. O que essa mulher faz aqui?
— O que está fazendo aqui? — pergunto.
— Só estou cumprindo ordens. Nikolai me ligou e pediu para que eu te levasse até o apartamento da minha amada sogrinha — ela diz.
Olho desconfiada para ela. Por que ele pediria isso a ela?
— Não tenho tempo, não gostaria de estar fazendo isso, mas ele me pediu. Agora vamos!
Ela não espera minha resposta, saí rebolando aquele traseiro murcho. Devo confiar nela? É óbvio que não! Mas mesmo assim sigo ela.
♥
Durante o caminho ela não diz nada. O som da voz de Adele ecoa pelo carro me distraindo. A chuva não dá trégua, parece que o mundo vai acabar.Só percebi que foi burrice entrar no carro com ela quando paramos em uma rua deserta.
— Quero que saia desse carro e suma das nossas vidas. Se eu te ver de novo, vou acabar com você.
Meu bom senhor. Tiro o cinto. Olho nos olhos dela.
— Você pode até me ameaçar, pode até pensar que não vou voltar, mas tenha certeza que quando o seu noivo vier atrás de mim, por que eu sei que ele vai me procurar, eu farei ele me querer. E então você vai perdê-lo, e vou rir de você.
Saio do carro e a chuva me atinge em cheio. A maluca ainda tentou me atropelar, mas subi na calçada à tempo.
Não sei por quanto tempo eu andei pelas ruas. Chicago é enorme e não conheço nada e nem ninguém. Nem telefone eu tenho.
Frio, isso é o que estou sentindo. Meus dentes batem um contra o outro, não sinto meus dedos das mãos. E o que dizer do meu vestido encharcado? Morrer de frio não era o que eu pensava que aconteceria comigo.
Que idéia foi essa sua burra! Sair no meio da noite com uma mulher que odeia você.
Sinto uma fisgada na barriga. Desesperada eu me encosto na parede de uma loja. Massageio o lado esquerdo da minha barriga e suspiro.
— Vai ficar tudo bem - falo para mim mesma.
Quero acreditar nisso. Tenho que sair dessa chuva, isso vai fazer mau para o meu bebê.
Os faróis de um carro me assusta. Ele passa por mim, mas para e da ré. Sinto um calafrio.
Penso em correr quando o carro para ao meu lado. A porta de trás se abre e uma mulher saí.
Não vejo muito bem quem é.— Você está bem? - ela pergunta.
Balanço a cabeça negando.
Ela pega minha mão e me puxa de leve.
—Vem, você não pode ficar na chuva.
Hesito por um instante.
— Não vou te machucar, pense nesse bebê que está em você.
Não me importo em entrar no carro com ela. Está quentinho.
— Obrigado - sussurro tremendo.
O homem que dirige tira o paletó e me entrega.
— Pode me deixar em casa, pai?
— Posso sim.
Aquela carona mudou minha vida.
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Depois do Perigo #4 |Série Tambovskaya
RomanceÚltima história da Série Tambovskaya Aos vinte e cinco anos e chefe da Tambovskaya a vida de Nikolai Strokous não é nada fácil. Aquele menino que um dia foi risonho e divertido já não é o mesmo. Frio, assassino. Foi isso o que ele se tornou. A simp...