CAPÍTULO 12 - Lágrimas de Sangue

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CAPÍTULO 12

Acho que se passaram dias, eu ainda estava em agonia, muitos de meus irmãos perguntaram o motivo de eu estar tão machucado, e eu não soube responder. Mas de uma coisa eu estava certo, isso tudo tinha relação com o pedido de Dean; pois ao ouvir, falar ou até mesmo pensar seu nome doía, a sensação que emanava de meu peito era tão ruim que cheguei a clamar por ajuda de Deus, uma de minhas irmãs mais experientes se aproximou.

            - Naomi. – Falei com a voz cansada.

         - Castiel – Ela entrou no recinto com sua forma humana. – Deplorável esta cena, está chorando sangue? Parece que alguém está com problemas, vamos conversar. – Ela disse me obrigando a me levantar do chão.

Caminhamos em silêncio até o Jardim de Éden, um belo lugar porém com uma história tão triste, perfeito para o momento.

            - Vamos Castiel, me conte o motivo de toda essa dor. – Ela retorceu o rosto.

            - Eu não sei o que está acontecendo, só quero ficar sozinho, não quero mais tentar entender, anjos deveriam ter paz, e eu a tinha, até aquela manhã. – Olhei para o horizonte, refletindo e relembrando cada detalhe do que Dean falara, doía pensar nas palavras dele, doía estar ausente enquanto ele chorava na frente de meus olhos.

            - O que exatamente aconteceu? – Naomi colocou a mão sobre a minha e acenou com a cabeça me encorajando a falar. – Você pode confiar em mim Castiel.

            - Meu protegido... Dean Winchester – Respirei fundo ao pronunciar seu nome – Pediu para que eu me afastasse porque eu não estava fazendo bem a ele, eu não entendo. – Baixei os olhos e suspirei, novamente uma gota de sangue pingou de meus olhos.

            - Oh Castiel, agora vejo que temos um problema. Você está apaixonado por seu protegido, é isso? – Naomi franziu o cenho e vi ela esboçar um sorriso. – Você sabe o que isso significa, se os grandes arcanjos descobrirem haverão grandes complicações, você está ciente disso não está?

            - Apaixonado? – Perguntei perplexo. – Isso é possível, mas este não é um sentimento humano? Como? Como eu poderia me apaixonar, eu nem humano sou, é por causa desta casca? Isso fez eu me apa.. apaixonar por Dean? – Falei rápido e arfando. -  Como isso? Eu... eu não compreendo.

             - Oh, pobre Castiel – Ela parecia se divertir, e acho que ela notou que eu havia visto, então mudou suas feições para linhas preocupadas. – Pense sobre isso Castiel, vale arrumar problemas com os grandes arcanjos por um único humano? – Naomi desapareceu, eu estava só, parado sob a sombra de uma grande arvore de matiz verde cristalina, cheia de frutos, o cheiro doce pairava no ar, meu coração estava apertado e nós se formaram em minha garganta, os músculos de meu rosto estavam rígidos em feições pensativas, eu saí de meu corpo e mergulhei em profundos pensamentos, analisei cada palavra que saiu da boca de Naomi, ela estaria certa? Ela estaria certa sobre meus sentimentos por Dean? E se estivesse, valeria arriscar minha vida no paraíso por um humano? Mas somente considerar esquecer ele, acatar o que me foi pedido e desaparecer da vida de meu único protegido fazia meu corpo todo se contrair, a dor era quase que física, como se centenas de agulhas perfurassem meu corpo de uma só vez, eu não podia deixar que as coisas acabassem desta forma, não podia desistir, sem ele eu não via mais sentido em continuar. Os Winchesters mudaram a razão da minha existência, Dean mudou tudo o que sou e acredito, ele valia todo e qualquer sacrifício. Eu estava decidido.

- Por Dean vale! – Falei em voz alta com a voz firme.

Voltei para a sala grande na qual eu chamava de quarto, sentei-me no piso frio daquele ambiente e me concentrei em Dean Winchester, tentando não provocar muito minhas asas, fazendo uma linha tênue entre Dean e eu, para que ele não sentisse minha presença.

Lá estava ele, em uma casa desconhecida, em um quarto claro cercado pela mobília de mogno, ele forçava o sorriso constantemente como se tentasse se convencer que estava feliz, eu sabia que ele não estava, podia senti-lo. Havia uma mulher... Lisa, este era seu nome! Ela estava deitada com ele na grande cama que se situava no centro do quarto, coberta por lençóis brancos de cetim, ela se aproximou dele e o beijou, seus lábios se tocaram uma, duas vezes. Isso me obrigou a voltar a minha forma humana, uma ardência se iniciou em meus olhos, meu corpo formigava, eu não estava conseguindo me conter. A dor se espalhava por meu corpo mas eu resolvi que era mais forte que isso, voltei a mergulhar em meu subconsciente, respirando fundo para acalmar minhas asas, criei novamente a linha entre mim e Dean, e voltei a observa-lo, ele continuava deitado angelicalmente na cama abraçado com Lisa, de repente um pequeno rapaz invade o quarto e salta em direção da cama, seria uma ameaça?

Dean sorri, o que faz seus olhos se fecharem em alegria, senti o alívio pairar em seu coração, a felicidade momentânea era genuína. O pequeno rapaz abraçou Dean e murmurou algo em seu ouvido, logo depois ele abraçou Lisa, ela era sua mãe ao que entendi, porém Dean não era seu pai, sua semelhança ficava somente na aparência, nada genético envolvia os dois, eu podia ver.

Estava tudo em ordem, Dean estava feliz ao lado de Lisa, mas não pelos motivos que ele achava, ele estava feliz porque tinha o garoto com ele, este era seu ponto de fuga. Fiquei horas observando os três, prestando atenção em cada movimento do Winchester, cada sentimento colorindo sua alma, pude ver tranquilidade, o que me deixava feliz. Lisa beijava os lábios de Dean, que retribuía com igualdade, e isso fazia minha aura tremeluzir, desfazendo e refazendo a linha de distância entre Dean e eu, os beijos, os sentimentos, a liberdade que ele tinha para se expressar com Lisa, me incomodavam de uma maneira gigantesca, haviam preciosos momentos que eu perdia o controle de mim mesmo, pela dor que me atingia, não suportava ver o amor que emanava do corpo de Lisa, não suportava ver que Dean era o alvo de tudo isso, doía, doía tanto que não há palavras para expressar o quanto eu desejei sumir, mas era Dean, o meu Dean que estava lá, e com dor ou sem ela, eu tinha a missão de protegê-lo, de cuidar dele e zelar por sua vida.

Voltei novamente até minha forma humana, me levantei e fui caminhar pelos jardins, ainda pensativo sobre o que eu vira mais cedo. A dor irradiava em meu peito, angustia tomava todo o meu ser, meu rosto ainda preocupado.

Respirei fundo e me ajoelhei próximo a um descampado, o cheiro de flores tomava todo o ar que me cercava, o lugar era pacífico e até mesmo acolhedor, próprio para minha mente turbulenta, e meu corpo desamparado.

Fechei os olhos, e inspirei novamente.

            - Deus... Pai! Estou em agonia. Por favor me ajude, eu não entendo o que acontece, eu não sabia que anjos podiam sentir, podiam amar humanos, como isso aconteceu Senhor?  Por favor pai, me dê uma luz, me indique um caminho, eu não consigo seguir com isso sozinho, e não sei com quem posso contar, talvez... talvez eu esteja em perigo pai, eu lhe imploro, me ajude, caminhe comigo sobre esse terreno rochoso.

Voltei a abrir meu olhos e nada havia mudado, eu estava só, nem um vento, nem um sinal, uma sombra, um alento. Nada! Deus me abandonara, logo agora que eu me afogava em questões e dúvidas, logo agora que eu mais precisava dele. Mas eu conseguiria superar isso, sempre consegui, Dean conseguira sobreviver a uma vida sem o pai, com ele constantemente ausente, eu também conseguiria...

            - Dean! – Me lembrei, arfando. Deitei-me sobre a grama úmida do descampado, deixei-me cair em um abismo sereno e passei dias ali mesmo, imerso em meu subconsciente ligado a Dean, vendo cada movimento, protegendo seus passos, e me afogando em meu poço particular de angústia a cada toque de lábios que eletrizavam entre ele e sua nova parceira, Lisa. A dor crescia o tempo todo, porém meus sentimentos conturbados seguiam juntamente.

            - Dean Winchester – Eu sibilava ainda desacordado.

A Marca de Castiel (Destiel)Onde histórias criam vida. Descubra agora