CAPÍTULO 13
Passei aquelas semanas fora de meu corpo, apenas observando Dean, o garoto Ben e Lisa, protegendo-os de tudo e de todos. Aniquilei algumas ameaças, despistei outras. Aprendi a lidar com a dor sufocante de ver Dean e Lisa se beijarem, se tocarem, deitarem juntos. Eu conseguia ficar o tempo todo observando ele, e isso já me bastava, doía, porém eu conseguia aguentar, eu estava vivendo para Dean, havia esquecido de cumprir meus compromissos com meus irmãos, às vezes eu mergulhava em pensamentos e analisava o dia que ele tivera enquanto zelava por seu sono, cheguei a descer para a terra e ficar presente espiritualmente no mesmo cômodo que ele estava, deixando mais fino o véu que criei para que ele não sentisse minha presença. Depois do que Naomi plantara a semente da dúvida em minha mente eu não conseguia parar de pensar em Dean Winchester, eu não conseguia parar de deseja-lo, queria me entregar a pouca humanidade que havia em mim, mas sabia que era errado e sabia que era estritamente proíbido qualquer tipo de envolvimento entre um anjo e um humano. Estava evidente que meus sentimentos haviam mudado, minha cabeça havia mudado, e isso me preocupava.
Dean estava limpando o gramado verde coberto por folhas secas. Tive uma vontade súbita de estar presente, desci a terra novamente e me entreguei a aquele momento, o véu ficava fino e tremeluzia a cada baforada de sentimentos que tocava minha alma, o belo cenário que nos cercava deixava seus olhos mais verdes, a luz fraca de fim de tarde tornava sua pele pálida deixando em evidencia suas belas sardas, era a personificação de um deus vivo, mas havia algo errado, percebi que Dean estava com as feições tristes, curvadas em desespero e preocupação, tentei entender o que estava acontecendo. Sei que não era nada relacionado à Lisa ou Ben, era algo mais forte, mais profundo.
Então algo mudou, Dean olhou para o céu de tons alaranjados, com o sol fraco e algumas nuvens mais escuras, formando uma nebulosa a olho nu, Dean encostou a ferramenta de pegar folhas em sua perna e passou a mão por seu braço, o que fez a camiseta levantar um pouco, o suficiente para eu visualizar a marca que minha mão deixara quando eu o puxei do inferno.
- O que senti lá, não é nada comparado ao que estou sentindo agora Cas, sinto sua falta – Os lábios de Dean se moveram em silêncio.
Uma onda fria congelou meu coração e eu engoli em seco, ele se referia ao inferno. Porque toda esta agonia? Qual o motivo de tanta dor? Senti-me impotente por não poder fazer nada, eu não tinha permissão para me aproximar, mas mesmo assim a fazia, tive de respeitar parte do pedido de Dean, somente parte.
- Eu rezo por você Cas, toda noites em meus pensamentos silenciosos, espero que você esteja bem, por que... Porque eu não estou amigão, não sei se fiz a coisa certa em... – Lisa o interrompeu.
- Vamos querido, o jantar está na mesa, vem! – Disse ela com a voz macia, se aproximando em uma corrida lenta, Lisa puxou Dean para um beijo.
Sua aura se expandiu, porém a de Dean levemente tremeu, ela o beijara, a centímetros de meus olhos, não consegui resistir, meu braço se levantou rápido de mais, e tocou o braço de Dean, foi defensivo e impulsivo, não pude evitar. O véu que estava meticulosamente posto entre nós dois caiu e eu não consegui refazê-lo, entrei em desespero, ele saberia que eu havia quebrado seu pedido.
Dean automaticamente se desfez do beijo de Lisa e virou o rosto para onde minha mão tocara, ele respirou fundo, e expirou lentamente, suas feições se acalmaram e ele relaxou os ombros, posso jurar que vi um vislumbre de um sorriso tocar seu rosto, sua aura se suavizou e brilhou com intensidade. Ele voltou a olhar para Lisa.
- Já vou terminar aqui e depois vou jantar, não esperem por mim. – Ele disse dando um beijo na testa dela, e voltando a pegar folhas secas no gramado verde.
Ele esperou Lisa sair e fechar a porta de vidro que havia entre o jardim e a sala de estar da casa. Ouvi um barulho e Dean encostou novamente o pegador na perna.
- Posso te sentir Cas, porque está me vigiando? Não... não quero fazer isso agora, por favor, Cas... Eu, eu... – Ele respirou fundo e piscou os olhos com força – Eu meio que... – Ben o interrompeu.
- Dean, não vou jantar sem você, a mamãe fez os bifes com cebola que você gosta.
Ele sorriu em direção do garoto e caminhou até ele, isso me deu tempo para criar o véu em torno de minha presença, e Dean não poderia mais me sentir. Era melhor assim, eu atrapalhava a recuperação Dean, e no momento eu lidava com meus próprios problemas, essa seria a melhor opção. Ele percebeu que eu havia "sumido" então respirou fundo e entrou na casa.
Eu tinha ficado muito tempo na terra, voltei para meu corpo e fiquei sobre a linha psíquica que criara para visualizar Dean com mais clareza.
Vi um clarão branco e acordei em meu vassalo, ainda no descampado ensolarado.
- Uriel – Consegui reconhecer seu rosto, me levantei rapidamente, e baixei os olhos, ele estava acompanhado, havia mais um grande arcanjo com ele. Levantei o olhar para focar em seu rosto – Jofiel – Acenei com a cabeça, meu peito queimava como chama em brasa, dois arcanjos vieram lidar comigo, não era boa coisa, me endireitei com a postura reta, quase militar, e encarei Uriel. – Como posso ajuda-los senhores?
- Castiel, temos que conversar. – Disse ele fuzilando-me com os olhos. – Estamos cientes da sua ausência em certas atividades que eram de sua responsabilidade. – Ele deu uma pausa. – Resolvemos procura-lo, e observa-lo.
Meu coração parou por alguns instantes, e voltou a bater como se eu estivesse em uma maratona, batidas descompassadas e fortes, fazendo minha pele pulsar.
- Sua relação com o humano, antigo protegido, recente desertor Dean Winchester, vem criando vínculos mais profundos. – Ele se abaixou e seguiu meu olhar, me obrigando a olhá-lo nos olhos. – Você sabe que anjos caíram por menos Castiel, você é um bom soldado, não vamos repetir isto está bem? – Ele aumentava o seu tom de voz ficando cada vez mais evasivo e ameaçador.
Eu não me movia, estava estático, oprimido, vendo a verdade sendo cuspida em cima de mim, eu me preocupara tanto em me camuflar de Dean, que esqueci completamente dos olhos atentos dos Sete Arcanjos.
- Não irás cair desta vez anjo, mas terá uma punição. – Ele respirou fundo e esboçou um sorriso de canto – Você terá outro protegido, e ficará longe dos Winchesters, entendido Castiel? – Uriel levantou o queixo de forma superior, me olhando de cima com as sobrancelhas arqueadas.
Meus instintos falavam para aceitar, porém meu coração quase humano me obrigava a rejeitar, entrei em conflito interno, entre aceitar a proposta de Uriel ou recusa-la, mas eu tinha que pensar em Dean, Sam e Bobby. Se eu recusasse a benção dele, Uriel poderia mandar seus subordinados atormentarem a vida deles, ou pior! Eu não tinha saída, os arcanjos não aceitariam nenhuma resposta a não ser Sim, eu teria de cuidar de outra humana, era isso que eu fazia, era isso que eu era, um soldadinho, um brinquedo manipulado por filhos diretos de Deus, anjos do mais alto escalão.
Respirei o mais fundo que consegui - Eu aceito sua proposta – Trinquei os dentes e engoli em seco, senti meus olhos queimarem nas orbitas, a vontade de cair em prantos me atingiu com tamanha força. Como eu conseguiria viver na eternidade sem Dean Winchester? Eu teria de achar uma saída, eu teria de encontrar uma fuga.
- Muito bem Castiel, como eu disse, você é um bom soldado. Agora vá conhecer sua nova protegida, Anne Marie. – Uriel deu um sorriso largo enquanto eu me remoía por dentro.
- Quem cuidará de Dean? – As palavras voaram de minha boca.
- Não me teste Castiel, eu faço meu trabalho e você faz o seu!
Raiva, rancor, ódio, tristeza, e todos outros sentimentos humanos ruins me tomaram.
Uriel saiu em direção ao grande salão central em passos duros e eu cai de joelhos novamente, meu corpo tremia, meus músculos se comprimiam, a sensação que eu estava sentindo era pior que a tortura de Miguel. Minha cabeça girava se questionando.
-Como será sua vida sem o seu humano Castiel?
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A Marca de Castiel (Destiel)
FanfictionApós um acontecimento repentino Dean Winchester passa a ter dúvidas sobre a origem de seus sentimentos em relação à Castiel, seu lindo anjo protetor e melhor amigo. A Marca de Castiel gira em torno de desafios que colocam a vida e sanidade de Dean...