[48] Ambiente Familiar

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Não sou o que você queria, não sou o que você precisa

Não apenas o que você queria e está ótimo para mim

Eu não sei porque me importei tanto

Estou bem sem o seu amor

Espero que encontre o que você está procurando

(...)

Não te dei o que você quer, te dei o que você precisa

Você me implora " por favor, querida, querida, não vá embora" (...)

Olívia O'Brien - Find What You're Looking For

...

Abri os olhos devagar e aos poucos fui observando o ambiente ao meu redor.

Eu me sentia um caco. Física e emocionalmente. Tudo junto, para variar.

Meus olhos e minha cabeça doíam e parecia que tinha um vazio dentro do meu estômago, pois minha barriga se contraia e roncava toda vez que eu inspirava o ar.

Esfreguei as mãos nos olhos e logo em seguida, me dei conta de que eu estava deitada em um colchão.

Era uma cama, óbvio.

Olhei ao meu redor novamente, prestando atenção nos detalhes das paredes.

Ah, merda.

Aquele ambiente não me era estranho.

Eu estava no quarto de Melissa.

Como é que eu fui parar ali?

Cassete.

Me levantei rapidamente da cama e fiquei tonta nos primeiros segundos.

Que droga.

O que eu estava fazendo ali?

Tentei lembrar o que tinha acontecido na festa enquanto meus pés descalços pisavam no chão frio.

Eu precisava encontrar meus tênis para sair dali o mais rápido possível.

Será que eu fiquei muito louca e por isso fui parar na casa dela?

Ai, meu Deus, isso não podia ter acontecido.

E eu não estava encontrando a merda dos meus tênis!

Além disso, eu nem me lembrava de nada!

Cambaleei para o lado e acabei batendo a perna na escrivaninha do outro lado do quarto.

- Porra! - xinguei.

Sentindo a dor da pancada continuei à procura dos meus tênis até eu escutar a porta do quarto sendo aberta.

- Ei... Você já acordou?

Meus braços se arrepiaram quando escutei a voz dela.

- O café está pronto - ouvi os passos dela atrás de mim. Ela estava se aproximando. - Você deve estar com fome, não é?

Olhei para trás e encarei o rosto dela.

- Como se sente? - ela me perguntou.

Quebrada, usada e traída.

- O que eu estou fazendo aqui? - perguntei, lhe encarando com firmeza.

- Eu trouxe você - ela disse, simplesmente. - Você estava passando muito mal na festa.

- Eu quero os meus tênis. Agora! Preciso sair daqui já!

- Você não vai comer nada?

Olhei diretamente nos olhos de Melissa.

- Eu não quero nada que venha de você.

Pela sua expressão surpresa, ela não esperava por essa frase.

- Analu, por favor... - ela pegou no meu braço - eu...

- Não toca em mim! - afastei meu braço de forma brusca. - Eu só quero ir embora! Não pedi para você me trazer para cá!

- Fica calma, tá legal?! Eu só tentei ajudar!

- Eu não pedi a sua ajuda, Melissa. Mas que porra!

- A gente precisa se entender.

- Entender o quê, garota?! Você deixou tudo muito claro, não foi?! A gente não precisa se entender!

- Eu sei que eu errei com você, mas eu só quero tentar consertar as coisas!

Balancei a cabeça e respirei fundo.

- É tarde demais pra isso - eu a fitei. - Se você quisesse consertar as coisas, não teria feito o que fez.

Depois de dizer isso, eu passei por ela e saí do quarto.

Invadi a sala e antes de tocar na maçaneta da porta senti a mão dela agarrando meu braço.

Não calculei meus movimentos a partir daí.

Só sei que em um único giro soltei meu braço de seu aperto e a empurrei para longe de mim.

Melissa descambou para trás e caiu de bunda no chão.

Meu coração saltou no peito nesse momento, mas eu não fiz nada. Eu não queria demonstrar que eu ainda me preocupava com ela. Então, eu apenas lhe dei as costas e a deixei lá, caída no chão, com a expressão incrédula devido à minha atitude violenta.

Depois de pisar os pés descalços na calçada e de deixar a casa de Melissa para trás, eu não consegui segurar as lágrimas quentes e abundantes que começaram a rolar por meu rosto.

Parecia que a mágoa crescia dentro de mim a cada minuto.

Era quase insuportável.

Eu não sabia se eu iria me recuperar disso um dia.

Na verdade, eu nem tinha esperanças de ficar bem. A dor estava muito intensa para surgir alguma expectativa.

Algumas pessoas que caminhavam na rua olharam para mim como se eu fosse uma louca sem-teto.

Para elas eu era uma louca, descalça, descabelada que estava se acabando em lágrimas enquanto andava pela rua.

Quando eu finalmente cheguei no campus da universidade, sentei na grama e peguei meu celular do bolso de trás do short.

Só havia uma coisa a ser feita.

Só uma coisa para eu ficar longe dessa situação conflitante.

Pressionei o dedo no contato do meu melhor amigo e segundos depois, ele me atendeu:

- Oi, baby - sua voz surgiu do outro lado da linha. - Por que está ligando a essa hora da manhã?

Noah não sabia o que tinha acontecido entre Melissa e eu, pois eu nem tinha lhe contado.

- Noah... - falei, limpando os resquícios de lágrimas do meu rosto. - ... Eu preciso te contar uma coisa.

- O que é, Ana? E por que você está falando desse jeito? Está tudo bem?

Não respondi suas perguntas. Eu estava péssima, mas isso não vinha ao caso naquele momento.

- Eu vou embora daqui - avisei.








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