[36] Decepção

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Dependente.

Era assim que eu me sentia às nove e meia da manhã na aula de professora Coralina.

A cadeira vazia de Melissa ao meu lado me causava um certo vazio. Eu sentia como se estivesse sozinha naquela sala de mais de cinquenta pessoas.

E tudo porque ela resolveu faltar hoje.

Que merda aquela garota estava fazendo comigo?

Quando a aula acabou, eu saí da sala e avancei pelo campus, caminhando em passos rápidos até sair dele. Minutos mais tarde, a casa de Melissa se projetou à minha frente.

Apertei a campainha e esperei alguns segundos até a porta ser aberta e revelar a mãe dela.

- Pois não? - ela perguntou, me lançando um olhar inquisidor.

- Oi - eu disse. - A Melissa está?

- Está - ela respondeu. - Quer falar com ela?

- Quero.

A mãe de Melissa assentiu.

- Pode entrar - disse, dando espaço para que eu pudesse passar pela porta.

Assim que pisei os pés na sala Melissa apareceu. Provavelmente ela acabara de sair do quarto, pois ainda estava com uma expressão sonolenta e o rosto inchado.

- Analu? - ela perguntou sem esconder a surpresa na voz. - O que você está fazendo aqui?

- Você faltou hoje. Eu queria saber por que...

Melissa agarrou meu braço e sussurrou:

- Vamos lá fora.

- Mas...

- Vamos - ela me interrompeu.

A mãe dela, que continuava na sala, nos olhou com certa curiosidade.

- Ela veio me avisar sobre os trabalhos - Melissa disse à sua mãe antes de nós duas passarmos rapidamente por ela.

Uma vez ao lado de fora na calçada da casa de Melissa, eu soltei meu braço de seu aperto e perguntei:

- O que foi isso?

Melissa deu uma rápida olhada para trás antes de me responder:

- Você não pode ficar vindo aqui desse jeito, sem avisar.

- Por que não?

Ela respirou fundo.

- Eu acho que minha mãe está desconfiada - ela abaixou a voz. - Você viu como ela olhou para gente?!

- Eu só queria saber como você estava - falei, cruzando os braços.

Melissa deu de ombros.

- Estou um pouco melhor que ontem... - ela fez uma pausa. - Mas voltando ao assunto, você precisa mesmo ir. Não quero dar mais motivos para acontecer outra merda.

- Vamos ficar nisso então? - perguntei, sem esconder minha decepção. - Com você evitando que a gente se veja?

- Não posso me arriscar mais, Analu - ela abaixou os olhos. - Desculpa.

Eu assenti, sentindo a mágoa se adentrando no meu ser.

- Certo... - eu disse. Logo, desviei os olhos do rosto dela. - Se é você que decide...

Girei nos calcanhares e dei as costas à Melissa, mal esperando uma despedida de sua parte. Eu não ia implorar para que ela mudasse de ideia. E nem iria correr atrás por nós duas embora seja isso que meu coração pedia.

É preciso que duas pessoas estejam de acordo para algo dar certo.

Eu estava chegando perto do campus da universidade, quando avistei Malu e Sebastian próximos a uma conveniência abandonada. Sebastian tinha acabado de entregar um pequeno embrulho a Malu.

Ele vendia drogas?

Comecei a atravessar a rua de olho nos dois, porém, eu ainda estava perdida em pensamentos. De repente, uma forte buzina me trouxe de volta a realidade, alertando todos os meus sentidos.

- Presta atenção, caramba! - o motorista do carro berrou, desviando o carro da minha direção.

Olhei para o veículo se distanciando cada vez mais e respirei fundo após o susto, notando os meus batimentos cardíacos acelerados.

Já na calçada, percebi que Malu e Sebastian estavam se aproximando. E então, eu comecei a apertar o passo. Eu não queria falar com eles e nem me envolver em seus esquemas.

Eu não queria saber de nada que não fosse minha cama e meus pensamentos incontroláveis.

A Analu de alguns meses atrás certamente ficaria com pena da atual. Talvez a acharia tonta demais por ela ter se apaixonado tão perdidamente por uma pessoa difícil e encantadora ao mesmo tempo.

Eu devia ignorar Melissa. Eu devia, no mínimo, deixar esse nosso lance de lado. Mandá-lo para o espaço ou para merda.

Só que eu não conseguia fazer isso. Eu tinha sido pega e não podia fazer nada a respeito. Absolutamente nada ao não ser encarar a dura realidade.

Cheguei no meu quarto alguns minutos depois e me joguei sobre a cama, deixando minha mochila largada no chão.

Ive, que estava relaxada na cama ao lado, virou o rosto na minha direção.

- Está tudo bem? - ela perguntou.

- Sim - respondi.

Ela ergueu uma sobrancelha e se sentou na cama.

- Não vai me dizer que aqueles babacas aprontaram de novo? - ela perguntou, ignorando a minha falsa afirmação de que estava tudo bem.

- Não - virei-me de barriga para cima. - Não tem nada a ver com eles.

- Então tem a ver com quem?

Olhei de soslaio para ela.

- Você já gostou muito de alguém a ponto de parecer uma idiota?

Ive soltou uma gargalhada. Por um momento pensei até que ela estava zombando da minha cara, mas então, ela disse:

- É claro. E isso aconteceu várias vezes. Mas por quê? - ela esboçou um sorriso. - Você está gostando de alguém?

- Infelizmente.

- Por quê? Isso não é bom?

- Seria se fosse recíproco.

- Ah - ela fez uma pequena pausa. - Fico imaginando quem seria tão imbecil de ignorar uma garota tão bonita e decidida como você.

Olhei para Ive com mais atenção dessa vez. Apesar da minha tristeza, eu acabei rindo.

- Para de puxar o meu saco - falei, sincera.

- Não é puxação de saco. É só a verdade.

- Você só está tentando me colocar para cima, Ive.

- Isso tem um pouco de verdade, mas não é só isso - ela fixou os olhos no meu rosto. - Você é muito incrível, Analu. E se tem uma coisa que eu devo fazer é levantar outras mulheres. Então, por mais que você esteja triste, tente rever suas qualidades e priorize você mesma ao invés de outra pessoa.

Processei as palavras de Ive um tanto admirada com a inteligência contida nelas.

- Valeu pelo conselho - eu disse, olhando para o teto e pensando no que ela acabara de falar.

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Olá! Me desculpa pela demora de postar, galera.
Espero que tenham gostado do capítulo.
E por favor, votem e comentem.

Bjs

Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE) Onde histórias criam vida. Descubra agora