[23] É Melhor Evitar

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     Havia começado um festival artístico dentro do campus de Santa Efigênia. Grande parte dos alunos estavam presentes e inclusive, alguns deles iriam apresentar suas obras e trabalhos relacionados à Arte.

    Eu não tinha preparado nada e nem pensei em fazer nada. Só estava lá porque esse evento serviria para complementar o meu aprendizado. Era algo interessante para mim e então, valia a pena estar presente.

    Bárbara estava me acompanhando enquanto eu apreciava uma exposição de pinturas surrealistas feitas por alunos. Ela finalmente deixou o seu quase namorado Sebastian de lado e se lembrou que tinha amigos.

     Havia bastante gente por ali, passeando e apreciando as obras ao ar livre, mas isso não impediu que alguém se tornasse invisível. Melissa logo apareceu no meu campo de visão e a partir daí, não consegui me concentrar nos detalhes das pinturas. Ela estava do outro lado, perto de um palco improvisado e seus olhos estavam fixos em mim. Não dava para eu ver com muita precisão, mas eu sabia que ela estava me lançando olhares suplicantes. Fazia alguns dias que eu me recusara em falar com ela. Isso incluía ignorar chamadas e mensagens que ela continuava me mandando.

    A garota era bem insistente.

    - Vamos ali - falei para Bárbara, puxando-a pelo braço.

    - Para onde? Nem terminamos de ver esse lado... - Barb reclamou, me seguindo.

     - Aquele parece mais interessante - indiquei uma fileira de imagens feitas de gesso no canto oposto. Ultimamente eu estava fazendo de tudo para ficar longe dos olhos dela.

     Assim que chegamos onde eu queria, Paloma surgiu do meio de um grupo de pessoas e se aproximou de mim.

     - Posso falar com você? - ela perguntou, de repente.

     Estranhei. O que ela queria falar comigo? Seria algo relacionado a Melissa?

     - Pode... - respondi.

     - Bom... Eu estarei perto do palco - Barb disse e logo começou a se afastar. Não entendi por que ela estava me deixando a sós com Paloma.

    - Então... - eu me voltei para Paloma. - ... O que você queria falar?

     Paloma olhou para o lado antes de voltar a me encarar.

     - ... Você... está com a Melissa?

     Tinha que ser ela,"o assunto do momento" que se recusava em sair da minha cabeça.

     - Não... - eu disse. - Não temos nada.

     - É que vocês sempre andam juntas por aí e eu pensei que...

     - Não, Paloma. Relaxa - eu a cortei. - Não estamos juntas.

     Paloma assentiu. Ela parecia meio ansiosa.

     - É que eu quero voltar com ela - revelou. - Você acha que ela vai aceitar?

    Pronto. Virei a guru do amor de uma hora para outra.

    Dei de ombros no segundo seguinte, tentando ignorar o primeiro sinal de desapontamento dentro de mim.

    - Sinceramente eu não sei... - falei. Lembrei daquele dia na festa em que Melissa disse que não queria nada com Paloma. - Mas não custa nada tentar...

     Paloma assentiu.

     - Obrigada - ela me deu um abraço rápido. - E... me desculpa por aquele dia. Eu fiquei nervosa com a Mel... Eu não devia ter falado daquele jeito com você.

     - Tudo bem.

     Ela abriu um sorriso meigo. Em seguida, me deu as costas e seguiu na direção do palco improvisado. Melissa ainda estava lá. Provavelmente Paloma iria falar com ela. Sendo assim, eu me virei, forçando-me a prestar atenção nas obras de arte.

     Um tempo depois Noah, Malu, Paloma e Doris subiram no palco para fazer uma apresentação de dança. Obviamente Noah não ia com a cara de Doris, mas como surgiu a oportunidade de ele mostrar um de seus talentos, ele resolveu deixar o ranço de lado por uns breves minutos para se entregar a uma de suas paixões.

    A música começou a tocar e os quatro começaram a mover seus corpos em passos sincronizados. Eles estavam dançando Ragatanga e Noah estava na frente arrasando como sempre. Ele dançava muito bem e o sorriso estampado no seu rosto mostrava que ele estava se divertindo à beça. Aquele era o seu momento.

    - O Noah arrasa - Barb disse para mim, se balançando no ritmo da música animada.

     - E quando ele não arrasa?! - falei, também no mesmo embalo que ela.

     Quando a apresentação de Noah e das líderes de torcida acabou, o público vibrou com direito a palmas e gritos. Mas o barulho logo cessou, pois os organizadores do festival iriam passar um documentário sobre a valorização da Arte nas escolas e universidades. E junto com o silêncio do público, veio Melissa. Ela apareceu do meu lado tão rápido que eu até me assustei ao vê-la ali.

    - O que está fazendo aqui? - perguntei.

    - Por que você está tentando empurrar a Paloma para mim? - perguntou, me acusando.

    - Eu não estou tentando nada.

    Melissa soltou um suspiro. Ela parecia impaciente.

    - Escuta... precisamos conversar.

    Olhei para frente.

    - Não precisamos, não.

    E como se não tivesse entendido o que eu disse, Melissa pegou firme no meu braço, me fazendo olhar para ela. O seu toque quente na minha pele me causou um certo frio na barriga.

     - Eu já estou cansada da sua atitude - disparou. - Estou falando sério com você, Analu.

    - Ei! Vai com calma, garota - soltei meu braço de seu aperto. - Eu já disse tudo o que tinha que falar. Me deixa.

    Melissa me encarou, o olhar indignado.

    - Saiba que eu não vou desistir tão fácil - avisou.

    Logo, ela se enfiou no meio da multidão, sumindo de vista. Para variar, meu coração ficou batendo forte depois disso.

    Eu odiava essa sensação.

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Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE) Onde histórias criam vida. Descubra agora