Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE)

[7] Ninguém Pode Saber

- A faculdade é uma tentação - o missionário andou no meio do círculo composto por jovens. - Junto com o conhecimento, surge a curiosidade... - ele fez uma pausa, olhando para todos no círculo. - A vontade de ir nas festas é grande e a de pegar geral é muito maior. Vocês querem beber. Se divertir. De repente, ir na festa só para ver aquele cara ou aquela garota parece ser muito mais interessante do que terminar seus estudos bíblicos...

Melissa bocejou, concordando parcialmente com o que o missionário dizia. Ela participava do culto de jovens, que acontecia toda semana na universidade de Santa Efigênia.

Eram exigências de sua mãe frequentar os cultos e participar dos estudos bíblicos enquanto ela estivesse cursando a faculdade. Essas exigências não eram direcionadas somente à Melissa. Elas valiam também para Heitor, seu irmão mais velho. Só que ele não cumpria as regras da mãe. Deixou de ir nos cultos desde o primeiro ano e desde então, mentia para ela.

Melissa não se atrevia a dedurar seu irmão. Ela frequentava os cultos e estudava a Bíblia do começo ao fim, mas ainda assim, não era uma santa.

Ela estava bem longe de ser uma santa.

Seus pensamentos eram insanos. Seus sentimentos, pecaminosos. Sujos. Mundanos, como dizia sua mãe ao ver uma pessoa que não frequentava a igreja. E ai de Melissa se sua mãe soubesse que ela não era tão correta como aparentava ser.

Ela estaria frita.

Sua vida nunca mais seria a mesma. Sua mãe iria odiá-la. Melissa estaria condenada.

Mas felizmente sua mãe não sabia de nada disso. Graças a Deus.

Além disso, Melissa tinha motivos para frequentar os cultos. Ela tinha esperança de que todas as coisas sujas e pecaminosas que passavam por sua cabeça e por seu coração, seriam, um dia, substituídos por pensamentos bons e agradáveis, devido ela ter dedicado boa parte de seus dias indo aos cultos.

Ao menos, era isso que ela esperava mesmo.

Logo depois que o missionário parou de falar, todos os jovens se levantaram e começaram a louvar. Melissa fez o mesmo.

O culto foi encerrado com um amém e Melissa saiu da sala, sem se despedir de seus colegas.

Ela avançou pelo campus da universidade e adentrou o ginásio.

Suas amigas, as animadoras de torcida, estavam treinando na quadra. Na verdade, não. A maioria estava conversando e só uma que estava se exercitando.

Essa era Micheline, a garota gordinha que tinha entrado no grupo recentemente. Doris mandou ela pular corda por uns bons trinta minutos, pois ela precisava perder peso para caber no uniforme.

E lá estava a garota, pulando corda sem parar, toda suada e cansada. Faltavam mais dez minutos para ela terminar.

Melissa a olhou, se perguntando porque só Micheline estava se exercitando e as outras não. Logo, ela se sentou na arquibancada, ao lado de Malu.

- Finalmente você saiu daquele culto de religiosos - Doris disse à Melissa, a olhando do degrau de baixo da arquibancada.

- É culto de jovens - Melissa a corrigiu.

- Tanto faz. São todos metidos a santinhos. Você está começando a se parecer com eles.

Melissa revirou os olhos, mal se importando com o que Doris dizia.

- Ah, e você colocou em prática o que eu te falei? - Doris continuou.

- O quê? - Melissa perguntou, entediada.

- Sobre o Heitor. Vê se acorda, Melissa! Eu quero a Analu longe dele e isso está demorando demais para acontecer.

Melissa suspirou. Ela estava cansada de ser a pau-mandado de Doris.

- Estamos fazendo um trabalho juntas e sinceramente... eu posso até não ir com a cara dela, mas acredito que ela não queira algo sério com Heitor. Isso não vai durar muito.

- Não interessa! É para você se meter, entendeu? É para ontem! Se for possível, finja que você é namorada dele.

Melissa quase riu do que ouviu.

- Ela já sabe que somos irmãos, Doris. Esquece, isso não vai funcionar. Você já ficou com Heitor. O que quer mais?

- Quero que ele seja só meu - Doris disparou. - Não gosto de compartilhar meus homens, Melissa. Faça alguma coisa útil por mim, ok?

Melissa sentiu vontade de dizer para Doris ir lá e fazer ela mesma, mas acabou ficando calada. Não era bom confrontar Doris. Ela podia ser venenosa quando queria.

Quando o horário de treino das garotas chegou ao fim, Melissa foi até o banheiro, encontrando-o vazio. Ela lavou as mãos e encarou seu reflexo no espelho.

De repente, a porta do banheiro se abriu e Paloma entrou, andando rapidamente na direção de Melissa, fazendo seu cabelo crespo balançar. Ela sorriu e deu um rápido selinho nos lábios da outra.

Melissa se recuou logo em seguida, olhando para os lados, como se pudesse surgir olhos humanos nas paredes.

- Não é para você fazer isso aqui - Melissa quase sussurrou, com medo de que alguém pudesse ouvir.

- Por que não? Não tem ninguém aqui. O banheiro está vazio - Paloma disse.

- Mesmo assim. Você sabe que a Doris sempre fica rondando por aí e se ela descobrir, eu estou morta.

- Quanto drama - Paloma sorriu. - Ela não vai descobrir. Somos cautelosas demais.

Mesmo sendo cautelosas demais, Melissa não se arriscaria tanto assim. Ela e Paloma estavam ficando há menos de um mês, escondidas aos olhos de Doris e do resto do mundo. E se alguém além de Paloma, ficasse sabendo desse lance, sua vida estaria acabada.