[6] Sem Ciúmes

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Na aula de professora Coralina, todos os alunos fizeram dupla com seu par novamente.

Melissa tinha arrastado a mesa para o meu lado e permaneceu calada, com sua cara de poucos amigos.

E isso já estava me irritando.

- Você fez alguma coisa do trabalho? - perguntei, quebrando o silêncio entre nós duas.

- Não.

Eu a fitei dessa vez.

- Não vou fazer esse trabalho sozinha - avisei. - É melhor fazer sua parte.

- Não vou fazer esse trabalho com você - Melissa retrucou.

Ah, garota...

- Beleza - comecei, impaciente. - Vou fazer minha parte. Você que se ferre depois. Não estou com saco para aturar sua birra, garota.

Melissa respirou tão fundo que eu pude ouvir o som de sua respiração pesada. Finalmente ela ingeriu minhas palavras?

- Só vou fazer isso porque preciso de uma mísera nota - ela virou o rosto na minha direção. - Caso o contrário, eu nem me daria ao trabalho de me sentar ao seu lado.

- Sério?! - ironizei. - Você é tão afrontosa.

Ela me fulminou com o olhar.

- Vamos fazer esse trabalho ou não?!

- Agora você está com pressa? - abri um sorrisinho sarcástico. - Relaxa, birrenta.

- Meu nome é Melissa - disparou ela.

- Certo, Melissa - dei ênfase ao dizer seu nome. - E por favor, muda essa cara. Estou ficando de mau humor só de olhar para você.

E então sua expressão tornou-se ainda mais enfezada.

- Não estou a fim de aturar suas provocações - grunhiu ela.

- Tudo bem - ergui as mãos em sinal de rendição. - Vamos ao trabalho, então.


Na hora do almoço, Bárbara, Noah e eu fomos até o refeitório.

Meus amigos me excluíram temporariamente para dar atenção a seus aparelhos tecnológicos. Bárbara usava seus fones de ouvido, provavelmente escutando suas músicas pop e Noah estava focado em suas redes sociais.

De repente, as portas duplas se abriram e os jogadores do time de basquete, os BasketBoys, invandiram o refeitório. Eles estavam acompanhados das animadoras de torcida. Melissa e a garota que conseguiu passar no teste das animadoras, também estavam entre eles.

O grupo passou por nossa mesa, fazendo barulho e chamando a atenção da grande maioria. Noah deixou o celular de lado e olhou para os jogadores de basquete, totalmente entretido nos corpos musculosos dos meninos.

Eles ocuparam três mesas perto da parede de tijolos e suas risadas se tornaram ainda mais audíveis. Doris preferiu deixar um lugar vago e se sentou no colo de Heitor. Segundo algumas fofocas que escutei por aí, ela e Heitor se pegaram na festa que rolou na casa dele no sábado. E eu não duvidava nem um pouco disso. Doris se atiçava toda quando Heitor ficava perto dela. Eles eram o típico casalzinho popular.

O jogador de basquete e a líder de torcida.

A dupla perfeita.

Antes de voltar a atenção para o meu lanche, percebi que alguém estava me encarando. E era Melissa. Ela estava sentada ao lado de Heitor, olhando diretamente para mim.

O que ela tinha achado de interessante na minha mesa?

- Por que você olha tanto para eles? - a voz de Bárbara surgiu, me fazendo quebrar o contato visual com Melissa. - Não vai me dizer que está com ciúmes daquele cara babaca?

- E eu lá sou de sentir ciúmes, Bárbara? - eu a questionei.

- Você não para de olhar para o Heitor.

- Eu não estava olhando para ele.

- Ah, estava olhando para quem? - Noah se interviu. - Você não engana a gente, Ana.

- Ah, cala a boca vocês dois - falei, sorrindo. - Vocês sabem que entre Heitor e eu não existe nada. Por mim, ele fica com quem quiser.

Bárbara e Noah se entreolharam, como se não acreditassem no que eu disse.

- Tá bom, então - Barb disse, encerrando o assunto.


Fui no banheiro logo depois do almoço e joguei um pouco de água fria no rosto para ficar mais desperta.

Quando abri a porta para poder sair, me deparei com Heitor. Ele estava encostado na parede ao lado da porta, exibindo um sorriso de orelha a orelha.

- E aí, Analu? - seu sorriso se tornou sugestivo numa fração de segundo.

- E aí? - fechei a porta do banheiro. - Perdeu alguma coisa no banheiro das meninas?

- Sim. Você - respondeu ele.

Mas que direto.

- É mesmo? E a Doris? - perguntei.

Heitor ergueu uma sobrancelha, um pouco surpreso.

- Está com ciúmes da Doris e eu? - ele riu. - O que acha de fazermos um ménage? Só nós três, hein?

Um ménage? Com Doris envolvida? Nem se eu estivesse louca.

- Vai se ferrar, Heitor - comecei a deixá-lo para trás, mas ele correu e se meteu na minha frente.

- Qual é?! Estou brincando - disse, me fazendo parar de andar. - Você se recusou em sair comigo ultimamente. O que está acontecendo?

- Ando ocupada - falei. - Tenho alguns trabalhos para fazer.

- Hum... Além de gata, é estudiosa - os olhos de Heitor captaram os meus. - Isso significa que você não vai ter tempo para mim?

- Depende. Você vai ter tempo para mim?

- Claro - ele abaixou o rosto até o meu. - Posso dedicar todo o meu tempo a você, se quiser.

Abri um sorriso e envolvi seu pescoço com os braços.

- Gostei muito de ouvir isso - sussurrei em seu ouvido, mesmo sabendo que sua frase era uma mentira.

Heitor não perdeu tempo e grudou os lábios nos meus, começando a me beijar com intensidade.

Eu escorreguei uma mão até seu peitoral e o puxei para mais perto de mim. Ele me encostou na parede do corredor, aprofundando o beijo.

Ficar com Heitor era bom. Apesar dele ser um cara que só queria saber de pegar as garotas, dar uns beijos nele, com direito a sexo ou não, até que valia a pena. Sua boca beijava bem demais para ser recusada.



Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE) Onde histórias criam vida. Descubra agora