Capítulo 2

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O vento acariciava meu rosto, coberto por um fino véu... Podia até me sentir parte daquela brisa por breves instantes, seus sussurros eram assombrosos. Segurava firme aquela areia densa e fina do maior deserto do mundo, enquanto meus pensamentos, lembranças de "ontem", ainda me atormentam.

— Sua morte foi desonrosa, parece que foi ontem, que te segurei em meus braços, estando viva, pela última vez. - Após terminar minha lamentação a céu aberto ensolarado, soltei a areia no vento.

Lia convive com a dor melhor do que eu, talvez porque ela não tenha visto o que eu vi, e muito menos sentido, o clamor pela vida dela, na voz e olhar...

— Espírito adormecido do deserto, me mostre algum sinal... Já se passaram mais de três anos, e, ainda não entendi nada sobre o que é a perda. - Ajoelhei-me naquelas areias escaldantes desérticas por um curto período, pois se ficasse mais tempo, poderia queimar minha pele.

E de repente percebo a presença de um vulto gélido, tocar nas minhas costas, quando me viro para trás, não vejo ninguém. Pensei até já estar enlouquecendo, dizem que o calor do deserto é tão intenso, que é por isso que nos faz criar alucinações na mente, e, podendo chegar até a cometer loucuras. Mas, eu precisava sentir algo estando ali, algum sinal, ou, até mesmo sentir a presença dela, onde quer que Joice esteja. E eu acho que já estava perdendo a noção da realidade, meus olhos começaram a revirar.

—  Manuela??! Manuuela!! - Ouço alguém me gritar, e sacudir meu corpo, mas, mal compreendia bem os sentidos.

— Joice? É você? - Abri devagar os olhos, e, estava a miragem dela na minha frente. Eu peguei na mão dela, que estendeu, após perceber que eu estava despertada.

E, de repente, vejo seus olhos sangrarem, e um grito agonizante sair, isso foi o suficiente para eu cair no chão, e comecar a debater assustada.

— NÃO! PARE COM ISSO! NÃOOOO! - Quando percebo, estou numa cama, e, Lia estava ali, me observando um pouco de longe, com um olhar furioso e preocupado.

Levantei e fui para os braços da Lia, me pondo a chorar em seus ombros. Lia não soube se expressar em fala, mas, me acolheu, massageou minha cabeça, e beijou minha testa.

Olhou-me rapidamente de forma direta e se retirou sem dizer uma sequer palavra, me deixa mal essa atitude dela, porque sei que é a forma dela me punir, por eu estar sendo assim. Mas, não estou já sendo punida demais? Por tentar  lidar ainda, com a morte de uma mulher que eu também amei? Ela não entende! Cada pessoa sente a dor de uma forma, Lia é acostumada com isso, eu não! São mais de três anos, e, ainda sinto doer, e aquele momento se repetir inúmeras vezes na mente. Quando essa dor irá parar? Eu me sinto tão confusa com meus pensamentos, como se eu não  tivesse mais controle sobre a minha vida. Lia tem me ajudado muito, e eu a ela, mas, é difícil tentar controlar suas emoções o tempo todo.

As Faces do Amor - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora