Capítulo 46

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Como você se vê daqui a dez anos? Bom... Essa pergunta acho difícil responder agora, mas, muita gente nos faz esses questionamentos curiosos, eu até uns anos atrás, só pensava em morte, e num meio de me comunicar com a morte, no caso a Joice. Isso ficou tão enraizado que minha mente, só projetava e via morte. A nossa criatividade é uma força poderosa, que pode nos afastar da nossa realidade física, transformando numa ilusão mental, ou num termo mais popular, fantasia. Tentamos imortalizar uma vida que já havia virado morte, por três anos eu e a Lia para lidarmos melhor com a perda, romantizamos a morte como forma de confortar nossas mentes, como forma de não encarar nossa perda. Não tem coisa pior do que ser enganada por sua própria mente, e perceber seu erro quase tarde demais. Percebi meu delírio, no momento em que fiquei ausente naquela câmara subterrânea.

- Manu?

- Sim?? - Pergunto estando ainda distraída com meus pensamentos.

- Você acredita em vida após a morte? - Paro imediatamente de me concentrar nos meus pensamentos e a olho de forma sombria.

- Acredito... Eu pensava estar morta por quase três anos. E só percebi que estava viva mesmo, quando vi o que é de perto a morte intacta numa câmara mortuária, sem presença nenhuma de vida, além da minha, sua e a respiração da Lia. Isso me deu um choque de realidade digamos.

- Bem que a Lia disse... Que talvez eu poderia te ajudar de alguma forma.

- O quê? Do que está falando?

- Lia me pediu para dizer que Joice estava com os olhos semi-abertos, por SMS. Para fazer com que sua mente desse um choque com a realidade.

- Não entendo... - Fiquei confusa tentando entender a ligação disso tudo.

- Manu... A Lia pediu para mexer nos olhos dela, para ver se você iria pensar em algo sobrenatural ainda.  E você não reagiu muito bem, ficou até agressiva.

- Lia vai se ver comigo... Isso não é coisa que se faz, mas, estou impressionada com o plano dela, pois sei que fez pensando em me ajudar.

- E pelo visto surtiu algum efeito. - Sorriu satisfeita.

- Digamos que sim. A vida real é essa que temos, sentimos, vivemos todos os dias. Agora posso dizer que minha mente está no lugar dela, está vendo o que a dor, sofrimento, que carregamos em nós, desestrutura nosso equilíbrio mental? E de como a dor pode virar raiva pela vida, e dessa raiva nascer algo muito letal e diria contagioso...

- O quê??? - Ficou curiosa.

- Violência... Destruição da sua alma pelo resto da sua vida. Sabe o que é alma? Existiu um homem sábio, chamado Salomão, que  refere isso, à parte mais íntima do ser humano, seu núcleo, a morada de sua personalidade e de suas emoções. Não sou fã de versículos bíblicos, mas, as escrituras de Salomão são necessárias nos dias de hoje e bastante esclarecedoras.

Lia chega no meio do assunto, complementando mais curiosidades sobre o mistério rei Salomão.

- Salomão é o segredo mais cobiçado no mundo, inclusive, a maçonaria o venera. O mundo dos negócios dos homens, podemos chamar a maçonaria. As mulheres não podem ter acesso, é um tanto ultrapassado, mas, como a Manu disse, tem coisas que são necessárias e ele é uma dessas coisas. O homem estraga qualquer ensinamento bíblico em sua interpretação egoísta e cega.

- Caramba, você é muito...

- Amante de história? - Lia sorriu de forma engraçada.

- Não era bem isso, mas, sim...

- Lia quero saber... Resolvemos tudo? - Meu tom não era agradável. Lia percebeu pela minha respiração.

- Resolvemos sim, amanhã cedo estará pronta e só buscar. Mas, sinto um ar pesado aqui, que acredito não termos resolvido algo.

- Em casa conversamos, aqui não é nossa casa e nunca foi. Vamos embora daqui depois de pegarmos o que restou da Joice. Estou já com saudades dos meus filhos.

- Falou e disse, Manu. Aqui minha vida foi sempre uma mentira. Mas, com vocês despertei dessa mentira. - Sorriu Karlia, de forma inocente.

Nisso passamos o restante do dia exaustivo, bebendo, jogando conversa fora, mesmo eu estando um pouco aborrecida ainda com Lia. E nada melhor do que se curar um aborrecimento, fazendo amor...

- O que posso fazer para mudar seu humor comigo?

Como eu estava meio bêbada já, de tanto beber... Sussurrei. Estávamos num hotel.

- Você sabe o que fazer... Comigo. - Sorri maliciosamente.

Lia olhou de forma sexy a mim, e, pediu Karlia pra observar dessa vez, nós duas.

- Fique de costas, vou te fazer lembrar de uma coisa... - Começou a sussurrar a nossa primeira vez no meu rancho. Aquilo me deixou molhada.

As Faces do Amor - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora