Capítulo 14

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(Karlia Narrando):

- Sarah! Você vai comigo para Europa, ou, não? - Falava com ela ao celular.

Sarah é uma mulher meio distante, parece um tronco de tão grossa. E o jeito que ela me protege parece que é além do que a profissão dela é. Como se me conhecesse de algum lugar e o pior, eu senti que a mulher dela viu alguém nos meus olhos. Elas duas são muito misteriosas.

- Eu irei sim. Fique tranquila. Onde você for eu irei. - Respondeu confiante do outro lado da linha.

Achei até confortante ouvir isso. Porque Sarah parece ser mais da minha família, do que o meu pai, que quase nunca tem tempo pra mim, parece que sou apenas a imagem bela do império dele. Eu não sei se essa vida de luxo que eu tenho, é o que sempre quis pra mim. Às vezes tenho sonhos estranhos... De que meus pais não esses. Muitas vezes esses sonhos que tenho, eu vejo um rosto de homem com um olhar preocupado e vazio.

- Então te aguardo aqui na minha casa. Eu já estou pronta. - Desliguei o celular e fiquei impaciente.

Cada vez mais que eu fico sozinha comigo mesma, mais impaciente fico com meus pensamentos. Mais eles me atormentam e eu sinto que a mulher da Sarah também possui uma mente atormentada por algo, fiquei curiosa com ela, curiosa, atraída, não sei ainda definir, é estranho. Sentir e não saber o que está sentindo em relação a uma pessoa, será que ela se questiona assim também? Apesar de que a Sarah mexe mais comigo na questão de presença, ela sabe ter presença e ser sedutora naturalmente, isso me atrai muito. Sinceramente quero só ver no que vai dar.
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(Manuela Montegrini, Narrando):

- Você vai pra Europa... Qual previsão que vocês voltam? - Perguntei meio insegura da resposta que iria ouvir.

- Não sei. Gostaria muito que você fosse comigo. Tem certeza que não quer ir?

- Quero passar mais tempo com nossos filhos. Preciso resgatar isso. Preciso ser mãe deles também, estava preocupada demais em ser sua mulher, que esqueci de ser mãe e minha melhor amiga.

- Fico feliz que esteja lúcida com seus pensamentos. Isso te fará bem... Prometo manter contato e voltar o mais rápido possível pra vocês.

- Amamos você. - Fui de encontro a sua boca carnuda e macia. E trocamos um beijo coberto de ternura.

- Vocês são minhas bases. Vou me despedir das crianças. - Lia segurou forte na minha mão e a beijou.

E assim ela foi, eu fiquei refletindo sobre a voz que apareceu na minha mente, que voz era aquela? Me falando sobre morte. Será que isso tem a ver com a Joice? Ou, a irmã dela? A irmã dela pode ser a chave que preciso para chegar na Joice! É isso! Como essas coincidências são tão ligadas assim? Passado e presente... Para chegar no futuro. O futuro seria o resultado dessa união entre dois períodos de tempo. Agora acredito que isso seja o sentido que estou procurando para minha dor da perda, a Karlia é tão linda quanto a Joice era. Mas, não posso confundir as coisas. Joice foi uma grande mulher, e Karlia é só uma adolescente insegura.

"Manu... Por favor, não me deixe morrer".

Ainda lembro como se fosse ontem, das palavras da Joice. Querendo viver e eu não consegui protegê-la. Fui saindo da cozinha e vi a Cíntia brincando com o irmão. Eu a chamei.

- Cíntia, vem cá, filha... - Soou até estranho pra mim, falar filha no final.

- Oi... - Sua voz doce saiu meio acuada e baixa. Como se ela estivesse com medo de mim.

- Não precisa sentir medo, eu sou sua mãe. E preciso conversar com você, quero que nunca esqueça o que vou falar contigo. Eu amo você mais do que minha própria vida, sempre amei você. Fui a primeira pessoa que te segurou, que viu você dar o primeiro soprinho de vida, choro. Eu estava com problemas comigo mesma, e, agora me sinto preparada para ser de verdade o que você sempre quis de mim e o que sempre quis ser, sua mãe.

Falava isso e lágrimas minhas se formavam e inundavam meus olhos, os olhos dela, meus deuses, são os mesmos, da Joice, como é parecida com a mãe. O sorrisinho dela se formando era a minha verdadeira alegria, naquele instante valioso para uma mãe.

- Eu pensava que não me amava. - Sua fala foi como se tivesse querendo chorar. E acabou chorando, mas, tomou a atitude que não tive, de me abraçar forte e se acolher no meu seio materno.

Acabei também chorando mais com essa situação toda. E a atitude dela, me impressionou. É uma menininha de ouro mesmo. Joice iria se orgulhar tanto do que ela pôs no mundo.

- Vou levar você e seu irmão hoje, pra escola, que tal? E busco também final da tarde. Aí iremos passear para onde quiserem depois.

- Eba! - Lágrimas foram substituídas por um sorriso espontâneo dela.

Não faço ideia para onde irei passear com eles, porque sinceramente aqui no Cairo, não tem lá muita coisa a ser feita, mas, daremos um jeito nisso, tenho certeza.

- Agora vão se arrumar, avise seu irmão, para tomar banho e organizar tudo para irmos pra aula. - Alisei o rosto dela e sorri.

Tocar nela daquela forma, foi bem assustador pra mim, porque tive a sensação de estar sentindo a Joice, foi estranho. Muito estranho. Deve ser por isso que temia também se aproximar muito da minha filha, por saber que ela seria a chave de minha resposta, e não a Karlia! Como fui cega e burra! É isso! Cíntia é o caminho que preciso, para chegar na Joice. Sinto que ela está tentando se comunicar comigo. E deve ser isso as vozes que ando ouvindo na minha mente. E das coisas que ando vendo aleatoriamente, no deserto. Tudo envolve a morte, mas, acredito que tem a ver com a vida também, que seria, o passado é o símbolo da morte, a vida o presente, e o que essa união cria para o futuro? Se pensou... Imortalidade, assim como eu, acertou. O que estou tentando fazer com a Joice é imortalizar sua presença e memória. Isso explicaria muita coisa a respeito do meu comportamento.

As Faces do Amor - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora