As Faces do Amor - Parte 2

Capítulo 28

Deu uma semana e recebi alta do hospital.

- Não aguentava ficar mais aqui! - Manu me ajudou a ir para cadeira de rodas.

- Lia você está mais "reclamona" do que velho. - Deu uma risadinha.

- Reclamando e não tenho razão? Quem gosta de ficar em hospital? Só doido!

- Nem doido gosta... Você agora vai reclamar dos seus problemas a vida toda, estou ferrada - Argumentei num tom de brincadeira.

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(Meses antes da Manu ir trabalhar no centro de inteligência espanhol - Um ano de casada)

- Me diga, o que te motivou a buscar terapia? - Perguntei a minha paciente.

- Doutora, eu não sei explicar ainda, mas, minha intuição dizia que precisava de uma orientação.

- A nossa mente intuitiva tem o poder de perceber e sentir o que está além das percepções normais do cérebro. Nós temos duas mentes. Uma delas é racional, analítica, lógica. A outra é intuitiva, sensitiva, criativa.

- Nossa! E como faço para usar mais uma do que a outra? Porque são bem diferentes...

- Quem disse que são bem diferentes? Elas são complementares. E você já está fazendo uso da sua parte intuitiva, explore essa sua habilidade intuitiva. Mas, não esqueça de experimentar a razão também. E o que sua intuição disse?

- Que se eu não enfrentar o que me incomoda, coisas ruins irão acontecer ainda mais. - Profundo o que disse pra uma pessoa da idade dela.

- O que isso significa pra você?

- Vi minha melhor amiga observar meu estupro e não fazer nada. Eu era nova...

-  Bom, vi na sua ficha que você tem doze anos. Não parece ter só isso por ter aparência marcante.

- Tinha doze dois anos... Doutora.

- Tinha? Você fez treze quando?

- Eu nunca passei dos doze anos. Não entendo, você não se lembra de quem eu sou? Que estranho!

- Do que está falando? Nós nunca nos vimos antes.

- Meu nome é Valentine...

Quando ouvi esse nome, meus olhos cresceram, e, me levantei na hora da cadeira, demonstrando estar assustada, com que acabo de presenciar aqui no meu consultório. Eu estava falando com um fantasma? Devo estar enlouquecendo!

- Lia! Você poderia me buscar hoje?

- Que horas? E você parece tensa, aconteceu algo?

- Sim. Por isso preciso que venha me buscar, por favor.

- Está bem, daqui a pouco estou aí, amor, beijo. - Desligou.

Esse trabalho está me fazendo mal, preciso trabalhar com outra coisa, para distrair minha mente, e esquecer desse episódio espantoso.

Dez minutos depois...

- Manu... Vim o mais rápido que pude. Você está bem? O que houve?

- Amor... Só me abrace por favor. - Comecei a chorar nos ombros da mulher que escolhi para ser minha companheira de vida.

- Nossa Manu, nunca te vi assim. Quer me contar o que houve?

- Acho que não estou preparada pra consultar ninguém, ainda penso na Joice, amor.

Eu tive que falar isso, para não ter que tocar no assunto que presenciei minutos atrás. Eu sinto sim muita saudade da Joice, ainda estou lidando com isso, mas, sei bem que não era isso que mais me afetava no momento.

- Ahh meu amor, eu também ainda lembro dela, nós iremos superar juntas essa dor. Te prometo. - Beijou minha testa e assim fomos para casa abraçadas.

Me deu até certa paz estar aos braços dela. Lia é o meu refúgio mais bonito que arrumei para fazer de morada, a forma de como cuida de mim, me faz se sentir segura e amante da vida, às vezes acho que sou até ingrata.